Líder comunitária afirma que há dezenas de relatos de aparições das serpentes no Morro Santa Maria desde o início do ano. Apesar de venenosa, serpente está em seu habitat e não é agressiva, explica biólogo
Thiago S. Paulo
Publicado em 03/04/2023, às 16h30 - Atualizado em 04/04/2023, às 12h10
Constantes aparições de cobras-corais verdadeiras têm se tornado motivo de apreensão para os moradores do Morro Santa Maria, a cerca de 5 km da região central de Santos, no litoral de SP. Ao Portal Costa Norte, uma líder comunitária disse que, apesar de diversos alertas dela e de outros moradores nas redes sociais, nenhum órgão ambiental foi instruir a população ou verificar porque tantas cobras estão aparecendo no morro cercado por vegetação onde moram cerca de cinco mil pessoas.
A pedido da reportagem, o biólogo especialista em cobras e divulgador científico Henrique Charles Abrahão, conhecido como Biólogo das Cobras, analisou imagens enviadas por moradores e confirmou que se trata da coral verdadeira (Micrurus corallinus). Ele também esclareceu que, apesar de venenosa, a espécie não é agressiva e está em seu habitat.
“Não são os animais que estão invadindo as cidades, não são os animais que estão invadindo as rodovias. Muito pelo contrário, são as cidades, as rodovias que estão invadindo as florestas”, explicou o biólogo das cobras, em entrevista na tarde de hoje (3).
Moradora do Morro Santa Maria há 28 anos, a líder comunitária Francineide Caldas, da Sociedade de Melhoramentos do Morro Santa Maria, disse à reportagem que aparições de cobras-corais têm aumentado consideravelmente desde janeiro. Segundo ela, há dezenas de relatos.
“Este ano, aqui no Morro Santa Maria, houve um aumento muito grande. Na rua 10 apareceu uma atrás de um container que é uma brinquedoteca onde as crianças ficam. Na rua do Carvão apareceram umas quatro. Na frente da minha casa, na rua 1, também apareceu. Fiz um alerta nas redes sociais e uns 80 moradores comentaram; a maioria dos comentários foram sobre aparições de cobras”, relata.
A maior preocupação, afirma Francineide, é com as crianças. “A gente não tem área de lazer, tem muitas crianças brincando na rua. Como é uma cobra muito colorida, chama atenção das crianças, elas podem achar que é um brinquedo”. A líder comunitária disse que apesar das aparições numerosas das serpentes, nenhum adulto ou criança foi picado.
O biólogo Henrique afirma que o índice de acidentes com a espécie é quase nulo. “A coral é uma cobra muito tranquila. Acidentes com ela são quase impossíveis, menos de 1%, geralmente estão associados a pessoa ir lá e pegar o animal e mesmo quando o cara pega o animal, manipula, muito raramente ela morde. Ela só vai morder se a pessoa apertar, fizer uma coisa assim extravagante. Com crianças, obviamente, a gente precisa ter cuidado redobrado, até por conta da cor chamativa do animal”, esclarece o especialista.
As aparições, explica o herpetologista, podem estar associadas ao clima, ao local e aos hábitos das corais. “Elas costumam aparecer em maior quantidade nos meses de verão, mais quentes, quando elas vão sair para acasalar e se alimentar”.
Em caso de encontro com as cobras, moradores têm duas opções, esclarece o divulgador científico: deixar a cobra seguir seu rumo ou acionar órgãos ambientais. “O que se tem que fazer é tentar respeitar o lado do animal. Se uma cobra dessa aparece em uma residência, óbvio, o morador deve chamar um órgão como os bombeiros, a guarda ambiental ou algo parecido. Se não, se você tem uma área de mata ali, apenas deixe ela seguir o curso dela”, explica o biólogo, que acrescenta:
“A coral também é uma serpente que costuma se alimentar de outras cobras incluindo a jararaca com a qual há muito mais acidentes. A gente precisa aprender a conviver com esses animais. Esses animais já existiam aí. Sempre existiram e eu espero que continuem existindo. Na verdade, elas estão é sumindo”.
Francineide afirma que nenhum órgão ambiental esteve no Morro para avaliar as aparições das cobras-corais. Questionada, a prefeitura de Santos disse que a Guarda Civil Municipal não foi acionada para ocorrências relativas a cobras na comunidade. O órgão também disse que, como se trata de animal silvestre, o manejo, eventual captura e orientações aos moradores são competência do Ibama e da Polícia Militar Ambiental.
A Unidade Técnica do Ibama de Santos disse que não recebeu nenhum contato relacionado a aparições de coral na Baixada Santista e “quando presentes no meio natural, as corais devem ser respeitadas e não molestadas”. Não há nenhum registro de picadas, acrescentou o órgão ambiental. A Polícia Militar Ambiental não respondeu se planeja realizar alguma ação preventiva no Morro Santa Maria.
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