Veja também um pouco da História da cidade que completa 477 anos nesta quinta-feira, 26 de janeiro
Santos completa, nesta quinta-feira (26), 477 anos de vida. Grande parte dos moradores e turistas, quando pensam na cidade, com seus quase cinco séculos de existência, lembram-se da orla, dos jardins da praia e da Vila Belmiro, porém, esses importantes pontos turísticos são extremamente jovens na história do município.
Conheça agora histórias e curiosidades de todas as regiões de Santos (Centro, Zona Leste, Zona Noroeste, Morros e Área Continental). Assim, será possível entender um pouco mais sobre como foi construído cada canto da cidade que encanta todos os seus moradores e visitantes.
O jardim de praia, por exemplo: você sabia que foi idealizado pelo mesmo homem responsável pelos canais de Santos, o engenheiro e sanitarista Saturnino de Brito? A ideia surgiu em 1914, mas foi apenas na década de 20 que o então prefeito Joaquim Montenegro, em um esforço que contou com o apoio do poeta Vicente de Carvalho, conseguiu a cessão da área que antes pertencia à Marinha, para poder realizar o ousado projeto.
Na década de 1930 as obras começaram e apenas na década de 1960 foram concluídas, com flores e arbustos, em quase toda a extensão dos mais de cinco mil metros da orla. É considerado pelo Livro dos Recordes (Guinness World Records) como o maior jardim de praia em extensão do mundo.
Outro ponto que chama atenção e é lembrado quando falam de Santos são os prédios tortos na orla. Sessenta e cinco edifícios na beira do mar apresentam algum tipo de inclinação.
Esses prédios começaram a ser construídos nas décadas de 50 e 60, e coincidem com o grande crescimento da procura por moradias nas praias da cidade. Mas esses sinais só começaram a aparecer na década de 70. Apesar da aparência assustar, todos passam por obras e monitoramento constante, sendo completamente seguros.
Para todos os santistas apaixonados, é necessária uma breve licença poética, direcionada aos turistas ou aqueles que não possuem a mesma sensibilidade para entender a cidade. "Eles não são tortos, apenas se curvam em reverência à beleza do jardim".
O historiador da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), José Dionísio de Almeida, conta que data justamente da década de 50/60 o período de povoamento mais importante da orla santista.
“Antes deste período, tínhamos algumas moradias, a maioria casarões e chácaras, principalmente de pessoas que tinham condições financeiras mais favoráveis para manter esse tipo de residência", conta.
"Uma ocupação mais frequente vai começar justamente a partir de 1947 com a inauguração da Via Anchieta e a facilidade dos moradores de São Paulo descerem a serra. Trata-se de um aumento gradual de moradias no local, que cresce muito na década de 1960”, explicou.
Poucas foram as construções do início da ocupação da orla que sobreviveram ao tempo. Entre elas estão os hotéis Parque Balneário e Atlântico, fundados em 1914 e 1922 respectivamente.
Além dos hotéis, é possível ainda hoje se impressionar com dois icônicos casarões: um deles é o da Caixa Econômica Federal, no Gonzaga. Ele ocupa o local onde um dia foi o botequim de madeira de Antônio Luiz Gonzaga, de 1888 (curiosamente, o botequim deu nome ao bairro. Somente no início do século 20 o casarão começou a ganhar a forma atual).
O outro casarão é onde hoje fica a Pinacoteca Benedito Calixto (avenida Bartolomeu de Gusmão, 15, Boqueirão). Este teve sua construção iniciada em 1908 e começou a ganhar a forma, próxima da atual, em 1921. É impossível passar pelo endereço sem se encantar pela beleza do local, além, obviamente, de toda arte existente dentro dele.
E por falar em sobreviventes do passado, o estádio Urbano Caldeira, ou Vila Belmiro (como é conhecido popularmente) é um dos locais mais icônicos de Santos.
A Vila foi palco de espetáculos memoráveis dos imortais esquadrões santistas por onde desfilaram craques, como Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pepe, Zito, Neymar, Giovanni, Serginho Chulapa.
Teve como maior expoente Pelé, que infelizmente morreu no final do ano passado. O Rei do Futebol foi velado no local que tanto brilhou e hoje descansa em Santos, cidade que sempre amou e adotou como sua.
O estádio, que começou a ser construído em 1916, vive a expectativa de ser em breve completamente remodelado, se tornando uma arena moderna para shows e jogos de futebol. Todos os amantes de futebol no mundo deveriam, ao menos uma vez na vida, conhecer a “Vila mais famosa do mundo".
Como foi possível notar no início do texto, quase todos os pontos icônicos da orla ou Zona Leste de Santos remontam ao período que compreende o final do século 19 e o início do século 20. O início da cidade (oficialmente) foi no Centro, onde se localizam os seus mais importantes pontos históricos.
Foi no Centro que o povoado de Enguaguaçu passou ao status de Vila em 1546, graças ao fidalgo e explorador Brás Cubas, fundador da cidade. O povoamento (de acordo com os principais historiadores) começou três anos antes, onde hoje fica o Outeiro de Santa Catarina, considerado o marco inicial de Santos. No local ficava a Capela de Santa Catarina de Alexandria, junto à qual foi construída, em 1543, a primeira Santa Casa de Misericórdia do país.
A região central guarda outros importantes pontos históricos de Santos, como a Casa da Frontaria Azulejada, com sua marcante fachada de azulejos portugueses; a Cadeia Velha; os teatros Coliseu e Guarany; as igrejas do Rosário e de São Bento; o Pantheon dos Andradas; os Arcos e a Estação do Valongo, além do museu de Arte Sacra, e do Museu Pelé (acervo mais completo do maior atleta do século).
Por falar em museu, ao caminhar pelas ruas nas proximidades do Museu do Café, é possível viajar no tempo, para o período em que a bebida influenciou diretamente no desenvolvimento de Santos. O café merece um destaque especial na história da cidade.
Foi justamente no período de maior desenvolvimento da cultura cafeeira no Brasil que o Porto e consequentemente o Centro de Santos mais prosperaram. De acordo com o historiador da Fams, José Dionísio de Almeida, as exportações do principal produto brasileiro auxiliaram no desenvolvimento da cidade como um todo.
Uma das formas de contar a História do país é justamente através dos grandes ciclos econômicos. O ciclo do café converge justamente com o principal momento de crescimento do Porto de Santos. “Ele começa a se desenvolver na metade do século 19. Esse crescimento se efetiva com a inauguração da linha Santos-Jundiaí (a antiga linha tronco da São Paulo Railway), uma ferrovia paulista, inaugurada em 1867, que fazia a ligação com a cidade do interior paulista e permitiu o transporte de uma grande tonelagem de café para Santos”, diz o historiador da Fams.
Almeida conta que o maior impacto econômico surgiu a partir de 1892 com a inauguração do chamado porto organizado e a gradual substituição dos obsoletos trapiches de madeira pelos atracadouros mais modernos. “Isso permitiu que a maior parte da produção do país passasse por aqui, fazendo a cidade se desenvolver cada vez mais”.
Foi justamente por conta do crescimento das exportações, aliado a grande concentração de pessoas, que tornou o território propício a doenças tropicais (por conta dos alagamentos) e trouxe, consequentemente, insalubridade para a região que, no final do século 19 e início do século 20, deu início ao processo de fuga populacional do Centro de Santos, passando a habitar as demais regiões da cidade.
Esse povoamento se tornou possível graças ao projeto urbanístico dos canais, desenvolvido por Saturnino de Brito. Hoje, quase todo santista trata os canais como ponto de referência. Frases como "Moro no canal 2" ou "o bar fica no canal 4" são muito comuns, gerando até estranheza em quem mora fora da cidade.
Além de um importante componente cultural santista, foram os canais que tornaram possível a “conquista” da Zona Leste e, consequentemente, de toda a orla. “Criaram uma condição de ocupação da região, pois Santos era bem alagadiça. A função dos canais era justamente fazer essa drenagem”, conta Almeida.
De acordo com o historiador, conforme avançava a urbanização da Zona Leste, cresciam os incentivos para moradia e ocupação nos bairros. “Começam a crescer bairros como Macuco, Vila Mathias, Marapé e até mesmo o Gonzaga. Muitos desses eram povoados com as cada vez mais raras casas de madeira, comuns na época".
É impossível contar a história de Santos sem passar pela importância fundamental dos morros. A começar pelo Monte Serrat, lar da nossa padroeira, Nossa Senhora do Monte Serrat. O local, antes da denominação atual (que data de 1604), era chamado de Morro da Vigia (por sua vista privilegiada da cidade e do Porto), ou também conhecido como Morro de São Jerônimo, nome dado por religiosos.
Mas o fato mais interessante relativo ao morro diz respeito à famosa invasão pirata que a cidade sofreu no início do século 17. Trata-se de uma história em que as lendas e a religiosidade se confundem com os fatos. Neste ano, um exército holandês, sob o comando de Joris Van Spilbergen, pilhava o povoado santista.
Parte da população se escondeu nos mangues, enquanto outra buscou abrigo no antigo Morro da Vigia. Muitas destas pessoas se aglutinaram na capela da Nossa Senhora do Monte Serrat, onde rezavam pedindo proteção.
Os piratas tentaram subir o morro, mas um grande deslizamento de terra impediu a ação, que fatalmente resultaria em um massacre dos santistas. Os piratas que sobreviveram teriam fugido pouco depois. Para muitos santistas que vivenciaram tudo, era um evidente caso de milagre da santa, que ganhou o status de padroeira da cidade.
Ao falar do povoamento mais recente dos morros santistas, temos que retornar ao período dos quilombos, quando no final do século 19, o do Jabaquara, liderado por Quintino de Lacerda, ocupava grande parte do sopé do morro do Jabaquara. No início do século 20, o quilombo foi gradativamente desmontado.
Remonta justamente ao período do final do século 19 e início do século 20 o esforço que grandes cidades em todo o país faziam para uma urbanização com caráter higienista. Em Santos não foi diferente. O poder público gradativamente expulsava as pessoas do Centro e incentivava o povoamento da Zona Leste e Morros.
O historiador José Dionísio de Almeida ressalta que o pioneirismo dessa ocupação é dos portugueses, desde um pouco antes (a segunda metade do século 19). “A ocupação começa efetivamente no Morro do São Bento. Por conta das epidemias, o morro era mais seguro do que o Centro, que estava repleto de doenças, com epidemias que causaram muitas mortes”.
Almeida explica que os portugueses foram pioneiros na ocupação das encostas do morro de São Bento, pois muitos tinham experiência de ocupação semelhante na Europa. O historiador ressalta que a cultura portuguesa foi tão marcante que até hoje influencia no local.
Já o grande crescimento populacional dos morros se dá com o desenvolvimento e crescimento do Porto no início e metade do século 20: “Muitos que vinham do Norte e Nordeste como força de trabalho para o Porto se acomodaram e construíram suas moradias nos morros”, complementa Almeida.
A Zona Noroeste possui o que é considerado hoje um dos maiores monumentos nacionais para pesquisa histórica. Trata-se das ruínas do Engenho de São Jorge dos Erasmos.
Sob responsabilidade da Universidade de São Paulo (USP), constituem relevante conjunto histórico/arquitetônico e são um dos poucos testemunhos do início da ocupação europeia no território americano. É um dos únicos resquícios materiais do contato do colonizador com indígenas e africanos escravizados, em princípios do século 16.
O engenho começou a ser construído pouco depois da chegada de Martim Afonso de Souza, um dos primeiros colonizadores do Brasil. Em 1540 passou a ser propriedade de Erasmo Schetz, responsável por distribuir o produto para toda a Europa, iniciando o apogeu do empreendimento, que passou a decair por volta de 1620 devido à concorrência com engenhos de outras regiões do país (principalmente o Nordeste).
O Engenho dos Erasmos continuou produzindo açúcar para exportação, rapadura e aguardente, funcionando provavelmente até o século 18. Uma curiosidade interessante é que o engenho é apontado por alguns pesquisadores como um dos possíveis locais de origem da produção de cachaça no Brasil.
No século 20, entre 1916 e 1960, a Zona Noroeste foi conhecida principalmente por abrigar o matadouro municipal. Os animais, que eram criados em São Vicente, vinham de trem para serem abatidos no local onde hoje funciona o Serviço Social da Indústria (Sesi).
O crescimento populacional da região colocou em risco sanitário a continuidade do matadouro. Esse adensamento populacional está diretamente ligado a alguns fatores: a construção da primeira pista da Via Anchieta, inaugurada em 1947, e a segunda da Anchieta, em 1953, além do funcionamento do Polo Industrial de Cubatão.
“É justamente neste período (por volta da década de 1950) que começa uma ocupação mais efetiva devido a necessidade dessa mão de obra. Existe um destaque muito grande para a chegada de pessoas, principalmente vindas do Nordeste, que marcam fortemente a influência dessa região do país na Zona Noroeste”, explica o historiador.
Por fim, ao se falar de Santos e da história da cidade, não se pode deixar de citar a Área Continental. Trata-se da região com a menor densidade habitacional, apesar de possuir mais de 85% de todo o território santista, além de preservar mais de 70% do seu território de Mata Atlântica intocada, ou seja, um verdadeiro santuário da natureza.
Duas ilhas fazem parte da área administrativa da Área Continental: Diana e Barnabé/Bagres. A Ilha Diana é uma tradicional área de pescadores, que guarda ainda o espírito caiçara. Seu povoamento remonta ao início do século 20, por imigrantes portugueses em sua maioria.
Já a Ilha Barnabé trata-se de um grande conglomerado de terminais de produtos químicos, que começou a ser ocupada no início do século 20.
Quando falamos dos bairros da Área Continental, é possível dizer que o povoamento da região remonta ao século 16, antes mesmo da fundação da Vila de Santos. É o caso do Sítio das Neves. O bairro abrigava o sítio Madre de Deus que, para alguns historiadores, é o primeiro ou um dos primeiros sítios do Brasil. Ele foi instalado no local em 1532 por Pero de Góis que, anos depois, o entregou a seu irmão Luiz de Góis, que fundou o Engenho da Madre de Deus.
Outros dez bairros (Cabuçu, Caetê, Caruara, Guarapará, Iriri, Iriri Alto, Mantiqueira, Monte Cabrão, Quilombo e Trindade) compõem a região santista que conta com excelentes atrações turísticas, principalmente ligadas ao turismo de aventura.
Viver em Santos é olhar para todos os lados e conviver com o passado e com uma história riquíssima, que fez da cidade o que é hoje: motivo de orgulho para os moradores da Zona Leste, Centro, Zona Noroeste, Morros e Área Continental.
*Com informações de Prefeitura de Santos
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