Atual escola Dr. Reynaldo Kuntz Busch foi inaugurada antes da emancipação de Praia Grande; ex-alunos e ex-professores participarão de reencontro
Esther Zancan
Publicado em 16/10/2024, às 13h27
Que a cidade de Praia Grande é uma “jovem senhora” de 57 anos, muitos têm conhecimento. Mas, a verdade é que a história do município remonta muito tempo antes de 19 de janeiro de 1967, quando Praia Grande se emancipou da cidade de São Vicente. Um exemplo disso é a sua primeira escola, fundada em 28 de julho de 1965, cujos ex-alunos e ex-professores guardam na memória momentos marcantes, que entraram para a história de suas vidas e da cidade. A ligação com a unidade é tanta que há dez anos um grupo de ex-alunos iniciou uma tradição de reencontro. Este ano será um almoço, no próximo sábado, dia 19 de outubro, no restaurante do boliche do Litoral Plaza Shopping.
Fundada com o nome de Ginásio Estadual de Praia Grande, atualmente, ela ainda funciona no mesmo local, no bairro Boqueirão, agora denominada Escola Estadual Dr. Reynaldo Kuntz Busch. O professor aposentado Silvio Luis dos Anjos, ex-aluno da escola, escreveu um livro baseado em sua dissertação de mestrado sobre a história do ginásio (Memórias de uma formação cidadã- E E Reynaldo Kuntz Busch 1965 a 1978). Em bate-papo com o Portal Costa Norte , ele contou detalhes sobre a rica história do estabelecimento de ensino e como ela se entrelaça à história de Praia Grande.
Silvio lembrou que, durante os primeiros anos de existência de Praia Grande como cidade, o então ginásio foi a única escola do município. Ela foi construída graças a doações arrecadadas junto à população pois, até aquele momento, a cidade não possuía um ginásio (que, atualmente, equivale do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental), apenas um grupo escolar até a 4ª série. A iniciativa para a arrecadação de doações, tanto em dinheiro, como em material para construção, partiu do vereador de São Vicente, Oswaldo Toschi, que morava no então bairro vicentino de Praia Grande. Devido a isso, ele teve seu mandato cassado. Ainda assim, a escola se tornou realidade. A prefeitura de São Vicente apenas doou o local para a construção, a então praça Guarani.
O professor lembra que, nas décadas de 1960 e 1970, diferentemente do que ocorre hoje em dia, os pais se envolviam no cotidiano da escola. E a própria escola se envolvia no cotidiano da cidade recém-criada. Um exemplo eram as gincanas que a escola promovia, por ocasião de seu aniversário. Os grupos de alunos se empenhavam para angariar doações e conseguir itens interessantes para a competição entre classes, e o prêmio para o grupo vencedor era os alunos serem “prefeitos por um dia”
Naqueles tempos, durante a gestão de Dorivaldo Loria Júnior, primeiro prefeito de Praia Grande, o prêmio da gincana era algo levado bastante a sério, e as medidas administrativas tomadas pelos “prefeitos mirins” eram pra valer. Exemplo disso é que houve até alteração de nome de rua e solicitação de linha telefônica atendida.
Em 1975, o então Ginásio Estadual de Praia Grande mudou de nome para homenagear o Dr. Reynaldo Kuntz Busch. Nascido em Limeira, no interior paulista, em 1898, Busch foi um notório médico, membro titular da Academia de Medicina de São Paulo. Também atuou como jornalista e faleceu na capital paulista em 1974. Sua brilhante carreira obviamente era motivo para a justa homenagem, mas, talvez, o local escolhido não tenha sido o mais apropriado.
Silvio contou que, como não havia registros de qualquer ligação de Busch com a cidade de Praia Grande, era difícil entender o motivo de a Assembleia Legislativa de São Paulo ter decidido pela alteração no nome da escola, decisão essa que foi sancionada pelo então governador Paulo Egydio Martins. O professor contou que, durante a solenidade para a mudança de nome da escola, com a presença da irmã de Reynaldo Kuntz Busch, uma professora, durante seu discurso, chegou a questionar a homenagem.
Entre as muitas lembranças que aqueles anos escolares deixaram, Silvio destaca algumas, como o fato de o Juiz de Paz da cidade ser o dono da cantina da escola, o que fez com que ele casasse muitos ex-alunos. Os desfiles cívicos e as formaturas da escola também eram outro ponto alto. As cerimônias de formatura dos alunos ocorriam no então único cinema da cidade, o Cine Iara, também localizado no bairro Boqueirão, um verdadeiro acontecimento na cidade, com a presença do prefeito, do padre e até do comandante da Fortaleza de Itaipu.
Silvio lembra ainda do uniforme dos alunos daquela época. No caso dos meninos, calça cinza chumbo, meias e sapatos pretos e camisa branca, com o distintivo da escola no peito. Outro detalhe que fez questão de pontuar é a relação dos alunos com a escola. “Os alunos tinham prazer em ir, era um ponto de encontro. Ela (a escola) representou muito para a cidade, devido ao seu envolvimento com a comunidade”.
Outra pessoa que lembra com carinho os anos que estudou no ginásio de Praia Grande é o historiador Claudio Sterque. Sterque, figura conhecida e querida de Praia Grande, também recordou as famosas gincanas, que “paravam a cidade”. “Foram com essas gincanas anuais que conseguimos montar a primeira biblioteca pública da cidade, através de provas, onde cada livro doado valia pontos”, contou o historiador.
A contadora e auditora Cristina Santin, uma das organizadoras do evento de reencontro deste ano, e também ex-aluna, lembrou que, há dez anos, houve o primeiro encontro de ex-alunos e ex-professores do Ginásio Estadual de Praia Grande. Alguns não se viam havia 40 anos.
Cristina conta que, a partir deste evento, realizado em 2014, os encontros passaram a ser anuais, com exceção apenas de 2020, devido à pandemia de covid-19. “É realmente um grande privilégio rever amigos de praticamente meio século. Mas, o importante é que o colégio foi, de fato, excelente em termos de ensino e de educação, não deixando nada a desejar em comparação com as melhores escolas da capital de São Paulo, naquela época”, disse Cristina.
A contadora também destacou que, além da importância da alta qualidade do ensino, o colégio proporcionou incentivos à prática de esportes, ensinamento de diversas modalidades de artes, além de projeto de cunho assistencial e social, que envolveu alunos e professores na arrecadação e distribuição de alimentos e roupas para a população carente da cidade."Tive um irmão que foi professor universitário em Mato Grosso, que, inspirado naquele projeto, incorporou projetos de cunho assistencial e social semelhantes no ensino das turmas de pós-graduação na universidade em que lecionava”, confidenciou Cristina.
Cristina também fez questão de lembrar que a escola formou escritores, historiadores, profissionais liberais de diversas áreas, comerciantes e muitos outros profissionais importantes no desenvolvimento da cidade de Praia Grande. O professor Silvio lembra que, a atual prefeita da cidade, Raquel Chini, foi também aluna do Ginásio Estadual de Praia Grande.
A atual Escola Estadual Dr. Reynaldo Kuntz Busch, de acordo com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, possui 522 estudantes do ensino médio, distribuídos em 16 turmas. Ela fica na rua Iporanga, 311 - bairro Boqueirão.
Esther Zancan
Formada pela Universidade Santa Cecília, Santos (SP). Possui experiência como redatora em diversas mídias e em assessoria de imprensa.
