Nos festejos de aniversário de 57 anos de Praia Grande, o historiador Claudio Sterque conta alguns mistérios e curiosidades que a cidade guarda
Esther Zancan
Publicado em 19/01/2024, às 09h02 - Atualizado em 21/01/2024, às 11h13
Nem só praias e belos cenários compõem a cidade de Praia Grande. O município, que completa 57 anos de emancipação político-administrativa, nesta sexta-feira (19) , também possui muitas histórias e, como não poderia deixar de ser, famosas “lendas urbanas”. E, para conhecer algumas delas, o Portal Costa Norte bateu um papo com o historiador Claudio Sterque. Senta, que lá vem história.
Uma dessas lendas fala sobre figuras mitológicas. Sabia que, em Praia Grande, existe um lugar onde habitam sereias, gênios do amor e outras figuras do imaginário coletivo? Na Ponta de Itaipu, formação rochosa no bairro Canto do Forte, bem na ponta mesmo, na parte virada para o oceano, há uma abertura na pedra. Sterque conta que este local é conhecido como “Refúgio das Ondinas”. Ondinas são espíritos da natureza, que vivem em rios, lagos e mares. Diz a lenda que, em Praia Grande, é nesta fenda na rocha que essas criaturas habitam. Lenda ou não, fato é que se trata de um local belíssimo.
Já para quem curte algo mais voltado ao suspense, com um toque de terror, existe a lenda da casa mal-assombrada do Boqueirão. O imóvel ainda existe e fica na avenida Presidente Costa e Silva, a principal via do bairro, bem em frente à praça dos Emancipadores. Sterque conta que não mora ninguém na casa; o proprietário era um motorista de táxi assassinado a pauladas por um andarilho que invadiu o imóvel, isso na década de 1970. E, desde essa época, existe um veículo Opala, de cor vermelha, que era do motorista de táxi, emparedado dentro do imóvel.
O historiador explica que, durante as obras de elevação da avenida Costa e Silva, o dono da casa não se importou que o carro não mais poderia sair do local, devido a um desnível do terreno; nesta época, ele já não dirigia mais, por estar quase cego. Até hoje, passados mais de 50 anos, o veículo permanece lá. Ainda de acordo com Sterque, pessoas que utilizam um ponto de ônibus próximo à casa garantem que o local é mal-assombrado. Medo!
Existem lendas sobre dois símbolos de Praia Grande: a estátua de Netuno, localizada na orla do bairro Ocian, e a estátua de Iemanjá, na orla do bairro Mirim. A que envolve o Deus dos Mares diz que a estátua já esteve em uma posição diferente da atual, e que ela ficava voltada para o mar. Sterque garante que isso é falso, e que o Netuno sempre esteve virado de frente para o icônico conjunto de 22 prédios, que originou o bairro Cidade Ocian, em 1955.
Já a lenda que sobre a Rainha do Mar diz que a estátua já foi maior ou menor, dependendo da versão contada. Sterque diz que isso também não é verdade. Ela é a mesma desde 1976, quando foi inaugurada. O que aconteceu, e pode ter confundido a percepção das pessoas, é que a base na qual a estátua se encontra foi aumentada, o que dá a impressão de que ela ficou menor.
Uma lenda bem conhecida em Praia Grande, que para muitos nem é uma lenda, é um fato, é a de que o ex-presidente da República, Jânio Quadros, teria pousado no Campo da Aviação, junto com sua esposa Eloá, logo após a sua renúncia ao cargo, em agosto de 1961. Eles teriam vindo diretamente de Brasília e, em seguida, se dirigido de carro para Santos, onde embarcaram em um navio para Londres. “Não, não é verdade!”, disse Sterque.
O historiador conta que Jânio foi de avião até São Paulo e seguiu pela rodovia Anchieta em um veículo modelo DKW Vemaguet até o porto de Santos. Prova disso é uma foto da agência O Globo, divulgada em 26 de agosto de 1961 (um dia após a renúncia), de Jânio dirigindo o DKW, no qual havia mais um “passageiro”: a cadelinha de estimação do ex-presidente, mas que não aparece na imagem.
Se você curtiu conhecer essas lendas praia-grandenses, então não pode deixar de visitar a nova exposição aberta à visitação no Museu da Cidade, no complexo do Palácio das Artes. A mostra Lendas Urbanas reúne fotos, objetos e documentos, que identificam e contam histórias que mesclam fatos com ficção ou fantasia.
A lenda da pesca de arrasto é uma delas. Para matar um pouco a sua curiosidade sobre essa lenda, a foto abaixo, de 1937, do acervo de Claudio Sterque, é de autoria do antropólogo, professor, filósofo e sociólogo francês Claude Lévi-Strauss que, segundo o historiador, esteve em Praia Grande atraído por relatos de que "lá os bois é que puxam os barcos e redes".
A visitação à exposição é gratuita, de terça-feira a domingo, das 14h às 17h30. O Museu da Cidade fica no Palácio das Artes, na avenida Presidente Costa e Silva, 1.600, bairro Boqueirão.
Esther Zancan
Formada pela Universidade Santa Cecília, Santos (SP). Possui experiência como redatora em diversas mídias e em assessoria de imprensa.