IMBRÓGLIO

Abrigo de animais em Praia Grande é acusado de sequestrar cachorros; responsável nega

Imbróglio por devolução de cachorro perdido vira estopim de acusações contra Abrigo Amor Demais, ONG de proteção animal, em Praia Grande; “Sequestrou meu cachorro”, diz jovem; funcionária pública alega ter tido dois cães “roubados” pela ONG em 2018 e saiu em defesa do jovem; ONG nega acusações; presidente do abrigo rebate e acusa um de negligência e outro de maus-tratos

T. S. Paulo
Publicado em 25/07/2021, às 08h19 - Atualizado em 27/07/2021, às 08h44

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Carlinho lima, durante visita ao Abrigo Amor Demais Carlinhos - Abrigo de animais é acusado de sequestrar cachorros em Praia Grande (SP); responsável nega - Imagem: Reprodução / PG no Grau
Carlinho lima, durante visita ao Abrigo Amor Demais Carlinhos - Abrigo de animais é acusado de sequestrar cachorros em Praia Grande (SP); responsável nega - Imagem: Reprodução / PG no Grau

ÍNDICE

1 - Quem me deu não me dá mais
2 -“Sequestrou meu Snoopy” diz Carlinhos; tem criadouro clandestino, rebate ONG
3 - “Um reality, um showzinho”
4 - Eis que surge uma testemunha em defesa de Carlinhos
5 - Um apelo desconcertante

O sumiço, e posterior reaparecimento de um cão no litoral de São Paulo tornou-se o catalisador de uma disputa entre um jovem de São Vicente e uma ONG de proteção animal em Praia Grande que adquiriu contornos dramáticos ao longo desta semana. 

1 – “Quem me deu, não me dá mais”

Antônio Carlos Lima, de 21 anos, conhecido em São Vicente, onde vive, como Carlinhos,  reclama a tutoria do animal. Ele afirma que seu cão, um husky siberiano* desapareceu em São Vicente, há pouco mais de 40 dias, em 11 de junho.

Atualmente com quase dois anos, o mascote, batizado de Snoopy, tal qual o famoso cão dos quadrinhos, foi adotado ao nascer e, recentemente, deixado de herança, sob os cuidados do jovem, após o falecimento do padrasto.

Snoopy Snoopy - Abrigo de animais é acusado de sequestrar cachorros em Praia Grande (SP); responsável nega (Imagem: Acervo Pessoal / Antonio Carlos Lima)

Carlinhos relaciona a morte de seu padrasto com o desaparecimento do cachorro. ”Meu padrasto entrou em óbito no dia [que o cachorro sumiu]. Todo mundo com a cabeça a mil, cuidando da papelada. Fomos pro hospital às 3h da manhã. O Snoopy tinha uma proximidade com meu padrasto. Não sei se ele sentiu a morte dele. Quando voltamos, à noite, ele tinha desaparecido”, recorda-se.

“Meu padrasto faleceu e me deixou ele” diz Carlinhos, com a voz trêmula. “O Snoopy é como se fosse um irmão pra mim. Sentimento de família, né? Quem me deu ele, não me dá mais, porque não tá mais vivo.”, reflete o jovem, que, ao se emocionar, faz longos silêncios, talvez para conter as lágrimas.  

Carlinho lima, durante visita ao Abrigo Amor Demais Carlinhos - Abrigo de animais é acusado de sequestrar cachorros em Praia Grande (SP); responsável nega (Imagem: Reprodução / PG no Grau)

Quem, contudo, não as contém, diz Carlinhos, é sua filha Valentina, também de dois anos, como Snoopy. “Ela chora toda hora. Pergunta do Snoopy toda hora”.

Após procurar por Snoopy  por cerca de 30 dias, Carlinhos afirma que um animal com características idênticas ao seu apareceu, na última segunda-feira (19) sob a tutela do Abrigo Amor Demais, no bairro Samambaia, na cidade vizinha, Praia Grande.

No entanto, o que era para ser o desfecho feliz de um triste enredo,  rapidamente descambou para um pesadelo ainda pior, marcado pelo absurdo. 

2 -“Sequestrou meu Snoopy” diz Carlinhos; Tem criadouro clandestino, rebate ONG

Além de  acusar o Abrigo Amor Demais de não ter procurado pelo tutor do animal antes de anunciar o canídeo para adoção, Carlinhos afirma que a presidente da ONG, Solange Ferreira,  tem dificultado seu reencontro com o Snoopy.  É como se fosse sequestro, né? Ela tá falando que não é o meu [cachorro], não quer nem deixar eu ver”,  lamenta-se o jovem.

Ao descobrir que Snoopy estava disponível para adoção, Carlinhos contatou a ONG para tentar reavê-lo,  e diz que se deparou com evasivas e exigências pouco razoáveis da presidente do abrigo.

Solange Ferreira, presidente da ONG Abrigo Amor Demais Solange - Abrigo de animais é acusado de sequestrar cachorros em Praia Grande (SP); responsável nega (Imagem: Reprodução / PG no Grau)

Solange Ferreira, presidente da ONG Abrigo Amor Demais, afirma que a acusação de sequestro é descabida. “Como sequestrei o cachorro dele se o cachorro estava na rua?  O abrigo não se apropria de nada. Animais perdidos a gente divulga pro dono encontrar. Se a gente encontrar e o dono aparecer dizendo que o cachorro é dele, a gente devolve o cachorro normalmente”.

Solange afirma que recebeu o cão há cerca de trinta dias, após ser informada de que havia um animal perdido na marina de São Vicente e, em seguida, adotou procedimentos que, segundo ela, são padrões e protocolares. “Nós verificamos se o cachorro tinha microchip [de identificação]. Não tinha. Postamos [nas redes sociais] sim pra ver se tinha dono. Não achamos. Ninguém se manifestou”.

Ela argumenta que, antes de Carlinhos aparecer, o animal foi posto para adoção também como protocolo da ONG.  “Vacinei ele, depois castrei, e coloquei ele pra adoção porque é o que a gente faz. A gente resgata, castra, vacina e doa”, afirma Solange, que se expressa num tom enfático e nervoso. Após o jovem aparecer reclamando o cachorro, Solange alega que retirou a disponibilidade do animal para adoção.

O protesto de Carlinhos, no entanto, é mais relacionado ao impedimento de rever seu cachorro após tê-lo descoberto sob a tutela do abrigo presidido por Solange. Após Carlinhos reclamar a tutoria do animal, afirmando que ele é seu irmão Snoopy, Solange exigiu do jovem a apresentação de documentos que compravassem a tutoria do mascote.

“Ela tá pedindo documento, porque ela tá falando que eu tenho que provar que é meu até pra [eu] ver o cachorro. Eu nunca vi isso e eu já provei. Eu tenho foto, vídeo, mas ela não tá sendo sincera”.  Protesta, quase às lágrimas, Carlinhos, acrescentando que procura o documento de identificação do animal, guardado sabe-se lá onde por seu recém-falecido padrasto.

 “Ele não foi impedido de ver o animal. A única coisa que eu exigi dele foi que me trouxesse os documentos do animal. A carteira de vacina, um laudo [comprovando] que ele levou [o cão] no veterinário.”, argumenta ela, afirmando que a exigência está entre as prerrogativas da ONG.

Solange demonstra grande apreço pelo bem-estar animal, mas não muito por Carlinhos. Sem apresentar provas, ela acusa o jovem de manter um criadouro clandestino onde faria Snoopy e uma cadela, atualmente prenha, reproduzirem, com o objetivo de comercializar os filhotes.

 “Nós não compactuamos com criação clandestina de cães, porque todo mundo que faz criação de cachorro de raça em fundo de quintal pra vender, é clandestino. Isso não é permitido pela legislação. Isso é feito por canil que é registrado tudo direitinho e tem autorização pra isso”, especula a ongueira.   

Em postagem nas redes sociais, pressionado por centenas de pessoas que exigiam a devolução do cão ao jovem, o Abrigo Amor Demais também afirmou que o cachorro foi encontrado “todo sujo e embolado”, sugerindo que o animal vivia em condições insalubres.

Questionado sobre as acusações, Carlinhos se exalta e as nega. “Essa senhora tá mentindo. Ela vai ter que provar isso.  Eu vou até castrar minha outra cachorra por causa desse problema todo que tá dando.  Ela mesmo, quando pegou o cachorro viu que ele não estava maltratado. Ela viu as condições dele. Se ele estava sujo, é porque ele tava na rua, perdido. Mas o cachorro estava peludo, bonito, bem gordo. É mentira dela”, brada o jovem.

3 - “Um reality, um showzinho”

Enlutado pelo padrasto e após 30 dias de tensão pela sumiço do irmão canino, Carlinhos afirma que seus dias têm sido de angústia. “Tô muito triste. Muito abalado com a situação. Não durmo direito.  Pra comer também é  mó ruim. Já tô uns dias correndo atrás. Antes pelo sumiço dele, agora eu descubro que tá com a ONG, e eles não me deixam ver meu cachorro”.

No último dia 20, o jovem saiu de São Vicente e foi até o Abrigo, em Praia Grande.  Ao chegar lá, Carlinhos afirma que recebeu uma porta na cara. Solange, diz ele, se recusou a deixá-lo ver o animal que ele acredita ser seu amado Snoopy e não quis informá-lo do paradeiro do cachorro.  Ultrajado, Carlinhos chamou a polícia.

O reencontro interrompido foi noticiado ao vivo pela página regional PG no Grau e acompanhado por milhares de pessoas. Nele, Carlinhos argumenta que não queria, naquele momento,  reaver o cachorro, mas apenas revê-lo, enquanto Solange se recusava a permitir.

Solange classificou a ida de Carlinhos à porta do abrigo e a transmissão ao vivo como desnecessários. “Ele apareceu aqui na porta do abrigo, junto com outras pessoas e deu aquele show todo. Aí, uma mídia daqui, veio,  fez uma live de uma hora e meia, com polícia, fizeram um show, um reality aqui na porta”, ironiza, com impaciência, Solange.

A posteriori, Solange reclamou da transmissão e dos apelos das milhares de pessoas para que ela deixasse Carlinhos rever seu cachorro.

Aquilo ali tá em 35 mil comentários, tudo de coisa ruim. De gente que não conhece o abrigo, não conhece o nosso trabalho, não sabe de nada. Eu, realmente, em certos momentos, perdi a paciência. Com tanta acusação, com tanta falação, entrando o negócio ao vivo, pro Brasil inteiro praticamente. Gente que mora lá no Recife, não sei aonde, em Belém, e tá falando contra nós sem saber de nada. Isso não é legal, isso é denegrir [sic] a imagem”, protesta.

No imbróglio transmitido ao vivo, Carlinhos reclama por Solange não abrir as portas do abrigo e implora para saber o paradeiro do cão que estaria em uma clínica. Solange, por seu turno,  afirma que o cão não estava lá, mas em uma clínica, se recuperando da castração, sem , no entanto, revelar a localização da clínica.

À reportagem, no dia seguinte à transmissão, Solange apresentou o mesmo argumento e  também se negou a revelar qual seria a clínica onde estaria o animal.

Surpreendentemente, durante a live, enquanto Solange se recusava a revelar o paradeiro do animal, brotou uma terceira pessoa, desenterrando uma escabrosa acusação contra Solange.  

4 – Eis que surge uma testemunha em defesa de Carlinhos

Ao saber da história de Carlinhos, a funcionária pública Dercília Chendi, de 50 anos,  afirma que teve uma dolorosa ferida  reaberta. Ela alega ter vivido uma história similar a de Carlinhos, com a mesma presidente da ONG, em 2018, e tomou as dores do jovem.

Funcionária pública Dercília Chendi, de 50 anos, moradora de Praia Grande, acusa abrigo de ter se apropriado de dois cães seus em 2018 Dercília - Abrigo de animais é acusado de sequestrar cachorros em Praia Grande (SP); responsável nega (Imagem: Reprodução / Acervo Pessoal / Dercília Chendi)

“Ela pegou dois animais meus. Nunca mais tive notícias  dos meus animais. Eu já estava com a Pink, uma salsicha, há sete anos. E com o Wolverine, um mestiço de York, há quatro anos” recorda-se Dercília.

Com mágoa, Dercília relembra a última tarde em que viu Wolverine e Pink, em junho de 2018. “Eu estava em casa atordoada, tinha acabado de chegar do dentista, tomado anestesia, ouvi um barulho de carro. Quando abri a porta,  ela estava enfiando meus bichos dentro do carro”.

“Eu gritei” prossegue Dercília. “E ela respondeu ‘ah, não sabia que era seu’,  e veio conversar”. Dercília afirma que, na ocasião, foi convencida por Solange a deixar os animais sob sua guarda, sob a promessa de uma castração em Wolverine e uma cesariana em Pink - prenha àquela altura - e posterior devolução de ambos.

“Ela começou a falar que a cachorra tinha que fazer cesária, se não, ia morrer. E mesmo com a cachorra tendo tido outra gravidez em que não teve nenhum problema,acreditei. Falou que ia me ajudar,  que seria tudo de baixo custo pela ONG e como eu não tenho muitas condições, e ela disse que era protetora, acabei confiando. Entreguei os dois cachorros a ela, e nunca mais vi. Fui na casa dela, ela não me deixou ver minha cachorra e ameaçou me processar”, relembra, em tom de lamentação,  Dercília, que  relata um triste desfecho de sua história com a salsicha e o mestiço de york.

“Depois de alguns dias, ela falou que a Pink tinha morrido. Aí falei, ‘como assim ela morreu?’, e pedi pra ela me provar que ela morreu e ela ficou com desculpas. Fiquei até nervosa no dia e xinguei ela. Até hoje não tenho prova alguma que o animal morreu”, relembra-se Dercília.

“Me senti um lixo. Me senti enganada, triste. Quase fiquei doente.  A minha cachorrinha, a Pink, ela passeava comigo no colo. E aí uma pessoa que fala que vai te ajudar e some com seu animal e não te dá uma satisfação”.

“Essa é outra louca que fala que peguei o cachorro dela”, afirma Solange sobre Dercília, negando as acusações da funcionária pública. "Eu não me apropriei de nada. Ela deu os cachorros”. Dercília nega que tenha doado os animais.

Sobre a morte da cadela Pink, Solange responsabiliza Dercília, alegando negligência. “Essa cachorra que ela tá falando, estava entalada, porque era uma cachorra pequena que deve ter cruzado com um cachorro grande. Porque não castra e deveria castrar. A obrigação do dono é castrar os animais pra não acontecer essas coisas, não castrou. Cruzou com um cachorro grande e o filhote não nascia, ela tava desesperada porque ela não tinha dinheiro pra fazer cesária, não podia fazer nada, e deu a cachorra  pra gente fazer o trabalho. Só que a cachorra faleceu, porque a cachorra estava doente, com anemia”, acusa.

Sobre Wolverine, Solange também afirma que Dercília o doou para adoção. A funcionária pública também nega.  

Em 19 de junho de 2018, Dercília registrou um boletim de ocorrência no 3º DP de Praia Grande contra Solange por apropriação indébita e afirma que, pouco tempo depois, Solange a processou por maus-tratos, acusação que ela, Dercília, nega.

Ela endossa a acusação de Carlinhos, e afirma que seus animais também foram sequestrados. “Sim, sequestrou. Ela não deixou eu ver, não sei se o cachorro morreu, não sei se ela vendeu, não sei se tá com ela, não sei se ela usou pra procriar. Ela não deu satisfação alguma”, afirma, indignada, a funcionária pública.

5 – Um apelo desconcertante

No último dia 21, após mobilização de Carlinhos nas redes sociais afirmando que estava sendo impedido de rever seu animal, a ONG recebeu uma torrente de críticas por uma publicação, feita no dia anterior, em que reafirmava que o cão, rebatizado, estava disponível para adoção e sugeria, sem citar seu nome, que Carlinhos não poderia ter um cão de raça.

“Está para adoção responsável, para quem tem condições de mantê-lo com ração super-premium. Se não tem condições, não diga 'eu quero'.” Afirma trecho do anúncio. Após ser defenestrada nas redes sociais, a ONG apagou a postagem no dia 20, sob a justificativa de que “o processo está suspenso” e afirma ter retirado o animal da fila de adoção.

Carlinhos, que mora na comunidade Vila Margarida, um bairro pobre de São Vicente, acredita que a história seria diferente se ele não fosse pobre. “Eu trabalho com reciclagem. Sou reciclador. Se eu fosse rico, ela não faria a mesma coisa.”

Solange nega a discriminação de classe. “Se ele fosse rico,  teria que ter feito o mesmo procedimento. Se ele é humilde ou deixa de ser, isso pra mim não vem ao caso. Ele teria que fazer o mesmo procedimento que todo mundo faz, mostrar os documentos do animal, isso é uma posse responsável. É o que a gente tá lutando, na causa animal, pra que a posse seja responsável. Pra acabar com esse negócio de as pessoas deixarem o cachorro dar voltinha, sumir na rua, ser atropelado e depois eles virem atrás da gente pedindo pra gente ajudar eles, porque eles não têm dinheiro”.

Na ocasião, Solange afirmou que não permitiu que o jovem revisse seu cão pois o momento em que ele foi até o abrigo era inoportuno. “Eu falei pra ele [Carlinhos] que ele poderia vir no dia seguinte pra ver o cachorro. Eu falei isso pra ele. Ele pode ver o cachorro, mas por que eu tenho que fazer a vontade dele e ele não pode fazer a minha?” argumentou ela, há três dias.

Na noite deste sábado (24), com o sumiço de seu cão prestes a completar 50 dias, a pendenga com o abrigo se prolongando por quase uma semana e sem solução no horizonte, Carlinhos divulgou um vídeo dele com Snoopy,  anterior ao desaparecimento. 

Num corredor de casa simples, com os muros expostos, sem pintura, o cão, de pêlos alvos como a neve, corre ao encontro do jovem. Noutro trecho, Snoopy, segurado por uma coleira, corre alegremente ao lado da cadela Luna, ambos tentando acompanhar a bicicleta em que Carlinhos os conduz.

Perguntado se pudesse dizer qualquer coisa à responsável pelo abrigo, que lhe fez acusações e o  priva do desejado reencontro,  curiosamente, o jovem parece ser tomado por uma epifânia e não dispara ofensas ou especulações, em resposta às que sofreu,  mas diz, sem hesitar. “Dona Solange, por favor,  devolva meu Snoopy”.

Em seguida, faz um longo silêncio.

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 *Veterinário consultado pela reportagem afirma que tanto o cão de Carlinhos, quanto o cão sob a tutela do Abrigo Amor Demais, têm as características de um Pastor Suiço.

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