CURIOSIDADE

Pedras que emitem sons de sino de igreja intrigam Ilhabela há séculos

Lendas atribuem o som a um ataque de piratas e, até, à imagem de um santo, cuja correnteza do canal a levou para cidade de Iguape, no litoral sul

Reginaldo Pupo
Publicado em 09/08/2024, às 15h47 - Atualizado às 16h35

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Vista geral da praia da Pedra do Sino, em Ilhabela - Jéssica Aquino
Vista geral da praia da Pedra do Sino, em Ilhabela - Jéssica Aquino

As pedras emitem sons de sinos, semelhantes aos de igrejas, quando tocadas por outras pedras ou objetos, como martelos. Isto é um fato que intriga moradores e turistas que frequentam Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, há muito tempo. Mas não intrigava os índios que habitavam o arquipélago. Não por acaso, a praia de Garapocaia leva o nome de origem tupi, que significa “pedra que canta”.

Turisticamente, a praia é conhecida como Pedra do Sino, e as pedras em questão ficam no canto direito para quem olha para o mar. Devido à demanda de turistas que visitam o lugar, a prefeitura instalou uma estrutura de madeira, que circunda as pedras, para facilitar o acesso à costeira.

Estrutura de madeira leva turistas às pedras da praia em Ilhabela - Foto Jéssica Aquino
Estrutura de madeira leva turistas às pedras da praia, em Ilhabela - Jéssica Aquino

Para chegar ao local, os visitantes caminham pela ponte de madeira, com cerca de 100 metros de extensão. Mas apenas algumas das pedras emitem o som metálico, quando tocadas. Para que o som de sino seja emitido, é preciso “golpeá-las” com outras pedras pequenas ou martelos.

O som inusitado estimulou diversas lendas, na tentativa de  explicar o fenômeno e, até hoje, povoam o imaginário popular. Uma das mais contadas remonta ao ano de 1647, quando o som dos sinos despertou a tranquila população da ilha, durante a madrugada. Todos os habitantes correram em direção aos sons e, assombrados, viram passar em frente à praia, no canal,  um caixão com seis velas. Eles se puseram de joelhos na areia e rezaram, enquanto o caixão passava lentamente pelo canal de São Sebastião, levado pela correnteza, em direção ao sul.

Segundo historiadores, um navio de guerra, cujo dono era de Segismundo Van Schkope, afundou uma embarcação portuguesa que transportava uma imagem de Bom Jesus, destinada a uma igreja de Pernambuco. Este fato teria ocorrido em fevereiro de 1647 e, impulsionada pela correnteza, a imagem chegou à cidade de Iguape no dia 2 de dezembro daquele ano. Até hoje, a imagem é venerada no município do litoral sul como Bom Jesus da Cana Verde.

Schkope atuou em batalhas no Maranhão (na captura de São Luís), na tomada da ilha de Itamaracá, na batalha dos Guararapes (Recife), na invasão a Porto Calvo (Alagoas), na captura do Forte de Santa Catarina do Cabedelo (Paraíba), além de invasões ao Rio de Janeiro.

Milagre?

Outra lenda contada em Ilhabela diz que, neste mesmo século XVII, ao amanhecer, surgiu uma caravela de piratas em direção à Ilha de São Sebastião (antigo nome de Ilhabela), enquanto a população ainda dormia. Os piratas estariam prontos para abrir fogo contra a ilha quando ouviram o soar dos sinos; o povo despertou e se preparou para enfrentar os inimigos.

Neste momento, um guerreiro chefia o ataque e, em pouco tempo, faz o inimigo recuar. Tal guerreiro era São Sebastião, segundo a lenda. Após a calma voltar ao povoado, todos queriam saber onde estavam os sinos. Mas perceberam que não eram os da igreja da Armação, bairro próximo dali. Ninguém sabia explicar, a não ser os indígenas, que diziam “Garapocaia, Garapocaia”, enquanto apontavam para as pedras.

Pedras que emitem som de sino de igreja na praia da Pedra do Sino, em Ilhabela - Foto Reginaldo Pupo
Pedras que emitem som de sino de igreja na praia da Pedra do Sino, em Ilhabela - Foto Reginaldo Pupo

Pedras que emitem sons semelhantes a sinos não são particularidades de Ilhabela. Em diversas partes do Brasil, especialmente no Nordeste, também existem. E não necessariamente em praias. Na cidade de Currais Novos, no interior do Rio Grande do Norte, distante 186 quilômetros de Natal, também existe a Pedra do Sino, por causa deste mesmo som.

Por muito tempo, o mistério foi atribuído à força da natureza e serviu de comunicação entre os índios; até hoje desperta a curiosidade do povo e alimenta a imaginação das crianças. Ao menos na cidade potiguar, a causa do som de sino, de acordo com físicos e geólogos, vem de sua porosidade, que cria um vácuo interno e pouco contato com o solo. Trata-se de uma soma de fatores. Mas, saber disso não diminui a surpresa e o encanto do som de sino.

Praia paradisíaca

A praia da Pedra do Sino possui 274 metros de extensão; possui águas tranquilas, excelentes para a prática de stand up paddle, caiaque e mergulho. Semelhante a uma “piscina”, é amada pelas crianças. No canto esquerdo, um ribeirão de água doce desemboca no mar. Uma das principais características do lugar são as dezenas de coqueiros e palmeiras que se curvam para o mar, dando um charme todo especial à orla da praia.

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Nos arredores há restaurante, banheiro público, estacionamento e meios de hospedagens. O acesso à praia da Pedra do Sino é fácil, pois fica na principal avenida da cidade, que corta a ilha de norte a sul.

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