CONQUISTA E SUPERAÇÃO

Capitã de Ilhabela é premiada na Refeno por ser a mais jovem da competição

Marina Gerdullo, de 24 anos, conquistou o título de Capitã Amadora mais jovem a concluir a regata, além de garantir o 3º lugar na competição

Gabriela Petarnella
Publicado em 23/10/2023, às 15h24

FacebookTwitterWhatsApp
Regata com percurso Recife-Fernando de Noronha tem cerca de 300 milhas de trajeto - Marina Gerdullo
Regata com percurso Recife-Fernando de Noronha tem cerca de 300 milhas de trajeto - Marina Gerdullo

Na 34ª Regata Internacional Recife - Fernando de Noronha (Refeno), a velejadora de Ilhabela, Marina Gerdullo, foi destaque por ser a capitã mais jovem a percorrer o trajeto das 300 milhas, com apenas 24 anos. A bordo do barco Minina, ela conquistou o terceiro lugar na corrida após uma jornada solo de muito aprendizado e superação.

O Minina cruzou a linha de chegada após 52 horas e 46 minutos. No entanto, as primeiras horas de regata não foram fáceis para Marina. O primeiro desafio foi o momento em que bateu a popa do barco logo no início da corrida e só percebeu o incidente cerca de 16 horas depois.

Ela revela que a experiência foi assustadora: “quando você está sozinha no barco, você tem que fazer tudo o que sabe e dar um jeito de aprender o que não sabe. Apesar da equipe em terra, não tem como ficar perguntando. É necessário aprender a tomar as decisões”.

Apesar dos contratempos iniciais, a comandante teve uma chegada tranquila a Fernando de Noronha e foi surpreendida pela sua classificação. Ela competiu na Classe Aberta e conquistou o terceiro lugar, mas foi premiada como a Mulher Mais Jovem a realizar a travessia da Refeno em solitário. Ela ressalta que, apesar de ser muito competitiva, o que estava em jogo nessa corrida era adquirir experiência como capitã, mesmo sem tripulação, mas que ficou muito feliz pela premiação.

E por falar em tripulação, a decisão de navegar solitária a princípio foi por não ter uma dupla e também por não querer submeter outros navegantes a uma capitã sem experiência. Mas ao longo do trajeto, percebeu que este ato de independência transcendeu a sua jornada e se tornou um momento de autoconhecimento.

Mas antes de se tornar o destaque da Refeno, houve ainda uma outra conquista. “Eu tive cinco anos de regata pelo Brasil, até que em 2021, durante a pandemia, a gente não estava navegando muito e eu queria continuar no meio da vela de alguma forma, então eu fui estudar as aplicações náuticas”. Foi assim que a velejadora se tornou a Mulher Capitã Amadora mais jovem do Brasil, aos 22 anos de idade.

Marina compartilhou que sua paixão pela vela começou desde criança. Aos 11 anos, sua família se mudou de São Paulo para Ilhabela e foi quando ela teve sua primeira experiência na vela. Após seis meses de aulas na classe Optimist, a jovem não gostou da experiência de navegar em um barco pequeno e sozinha. Ela brinca que isso é muito irônico, pois seu grande feito na Refeno foi a bordo justamente de um dos menores barcos e desacompanhada.

Sua família não é tradicionalmente de velejadores, mas com o tempo, seu pai também se interessou pelo esporte e começou a velejar em barcos oceânicos. Ela explica que nesse nicho, mulheres e jovens não se encaixavam ativamente e que a situação só começou mudar, quando com 17 anos, trabalhando na Semana Internacional de Vela em Ilhabela, viu que tinham muitos competidores jovens como ela. “Eram todos homens, mas se já havia espaço para eles, por que não para mim?”, questionou.

Marina Gerdullo a bordo do barco Minina, na regata Refeno 2023
Marina Gerdullo

E foi assim que, sem intenção alguma, a capitã se tornou uma referência no meio. Ela destaca que poucas mulheres estavam na competição e que dentre elas, havia apenas mais uma capitã, além dela. E isso não é incomum no esporte, ela exemplifica que neste ano, na Semana de Vela, dos 1000 inscritos, 10% eram mulheres. Mas mesmo assim, ela se mantém confiante com as mudanças no cenário ao longo dos anos e está feliz por desempenhar um papel inspirador.

"Sem dúvida, desde quando eu comecei já mudou bastante o cenário para as mulheres na vela. Ainda é um mundo muito masculino, mas não acho que seja machista, porque tem muitos homens que apoiam, ensinam e incentivam”.

Um ótimo exemplo disso é o pai da jovem que após a competição, embarcou com a filha rumo à Salvador, para devolver o barco Minina. Ela se declarou muito orgulhosa de, além de estar navegando ao lado de seu pai, tê-lo como seu primeiro tripulante oficial.

Quanto aos seus planos para o futuro, Marina revela que, apesar de estar muito feliz por algo que foi tão pessoal, ter virado um efeito coletivo tão bonito, ainda  não está nos planos realizar novos feitos com foco em inspirar, a ideia ainda é superar seus limites e adquirir novas experiências. Ela também não descarta velejar tão cedo com uma tripulação, mas que tem projetos em mente para continuar explorando sua paixão de forma balanceada e conforme as oportunidades aparecerem.

Gabriela Petarnella

Gabriela Petarnella

Jornalista formada pelo Centro Universitário Módulo. Possui experiência em videorreportagem e fotojornalismo

Receba o melhor do nosso conteúdo em seu e-mail

Cadastre-se, é grátis!