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Cães terapeutas levam alegria a pacientes no litoral norte

Em Ilhabela, Programa Integração faz visitas no Hospital Mário Covas, na APAE, no Centro dos Idoso e apresenta resultados positivos

Gabriela Petarnella
Publicado em 14/11/2023, às 12h05

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Na foto Duda e Bernardo respectivamente, os cães que deram início ao projeto voluntário - Prefeitura Ilhabela
Na foto Duda e Bernardo respectivamente, os cães que deram início ao projeto voluntário - Prefeitura Ilhabela

Em meio ao desafio que é enfrentar uma internação hospitalar, pacientes do Hospital Mário Covas de Ilhabela, contam com uma terapia inusitada para aliviar o medo e o desconforto: o Programa Integração. Este projeto voluntário, que completou 1 ano, tem o objetivo de promover o bem-estar físico, emocional, cognitivo e social dos pacientes, utilizando a interação com os animais.

O programa se destaca por trazer cães terapeutas, representados por Duda, Bernardo e os novos integrantes, Fumaça e Charlotte, acompanhados pelos tutores voluntários Márcia Gallo, psicóloga, a médica veterinária Nathalie Vecchio, do Centro de Referência Animal (CRA) e o professor de educação física André Pergolizzi. As visitas dos animais são realizadas com o suporte de profissionais, como enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), que desenvolveu um protocolo específico para garantir a segurança.

Ainda há quem ache estranho a visita de animais dentro do ambiente hospitalar, por isso existem protocolos de assepsia e o planejamento dos locais de visita, definidos previamente. Junto a isso, as visitas não acontecem aleatoriamente, os pacientes passam por uma triagem feita pela equipe que avalia os que estão aptos fisicamente, sem feridas expostas, sem problemas respiratórios e, na sequência, Márcia passa nos quartos destes explicando o projeto e pedindo a permissão para que a visita seja feita.

“No começo, de 10 internações, só dois aceitavam a visita, hoje a maioria quer e até pede por visitas com mais frequência. Principalmente as crianças amam e são as que mais respondem à terapia”, ressaltou Nathalie.

Existe também um protocolo de avaliação comportamental dos animais que com os seguintes critérios: se são dóceis, se assustam-se com facilidade, se aceitam o toque com carinho,  se latem e se fazem as necessidades em ambientes fechados. Também é verificado se estão vacinados, com exames em dia para não ter vermes, se têm mais de 1 ano, se estão castrados, se não estranham a aproximação de pessoas desconhecidas e, é claro, é necessário que socializem bem com outros cachorros.

Marcia Gallo, que já trabalhava com este nicho em São Paulo há mais de seis anos e tem um mestrado voltado para a prática, explica os inúmeros benefícios da terapia com animais. De acordo com os estudos científicos, a interação atua na melhora da concentração, da cognição, oferece a possibilidade de formar vínculos com os animais e também em meios sociais, reduz a depressão, promove aumento da dopamina (um dos hormônios da felicidade) e endorfina (hormônio redutor do estresse e da dor).

“Quando fazemos as visitas, temos o feedback de que aqueles pacientes tiveram uma melhora no humor, uma redução de medicamentos para dor, alteração hormonal, aumento da citocina, que atua na regulação do sistema imune, e do cortisol, que atua no combate a inflamações”, destaca a psicóloga.

A equipe de profissionais ainda tem planejamento para, no próximo ano, realizar um estudo científico com base no aumento da ocitocina, conhecida como o hormônio do amor, mas que também é responsável pelo bem-estar. As profissionais apontam que este é um hormônio ainda pouco estudado dentro desta área.

O projeto atua fixamente no hospital, mas também está em expansão para outros setores da saúde pública da cidade. O início de tudo partiu de uma vontade de retomar este trabalho que a veterinária Nathalie já fazia em São Paulo. Antes de planejar o voluntariado no hospital, ela levava os cães mais dóceis do canil de doação do CRA para interagir com os idosos do Centro de Referência e este trabalho segue na ativa.

Ela revela que muitos idosos tiveram uma melhora na socialização, mesmo os que eram mais retraídos e não gostavam muito. Os resultados são sempre de que após algumas interações começam a socializar e conversar mais. Enquanto Márcia aponta que simples brincadeiras como jogar a bolinha podem ter grande impacto na reabilitação do idoso ou do paciente.

Os trabalhos também ocorrem quinzenalmente na APAE, onde os animais interagem muitas vezes com crianças com paralisia, o que poderia ser um desafio maior. Nestes casos, é estimulado o toque dos pelos do cachorro nas áreas com mais sensibilidade, como na sola dos pés, e a resposta é instantânea. De acordo com os responsáveis, eles expressam a felicidade com os olhos, mudam a fisionomia e sorriem.

A alegria que os cães promovem no ambiente hospitalar tem surtido efeitos positivos até mesmo entre os profissionais de saúde. Dentre os intensos plantões, os funcionários esperam ansiosos pela chegada da equipe e inclusive pedem para incluir a visita em outros setores, para que eles possam compartilhar dessa felicidade instantânea também e renovar as energias para seguir nos atendimentos.

Visita de Duda e Bernardo no Hospital de Ilhabela
Os funcionários também aproveitam as visitas para aliviar a tensão dos plantões - Marcia Gallo

Os animais também parecem entender seu propósito. Duda, a cachorra de Márcia, é sua companheira fiel nesta missão há seis anos. Sua tutora aponta que ela normalmente é extremamente agitada, mas que quando está no trabalho, fica quietinha. Enquanto Bernardo, cachorro de Nathalie, sabe de cor os dias de visita, fica à espera da dona chegar em casa para buscá-lo e entra em êxtase ao vê-la vestindo o uniforme do projeto.

Duda inclusive tem uma história inusitada com uma paciente. Sabendo do projeto, um psicólogo da rede municipal pediu ajuda da equipe para auxiliar no caso de uma mulher com fobia de cães. A cachorra foi a escolhida para a missão, já que Bernardo é muito grande e poderia assustar. Como não era um dia de visita comum, Duda achou que estava sendo levada ao veterinário e ficou com muito medo. Contudo, a paciente ficou com pena da cachorra, foi empatica e deixou seu medo de lado para acalmá-la e, no final, as duas passearam, interagiram normalmente e ajudaram a superar seus medos.

O projeto tem despertado tanto interesse que a equipe já planeja ampliar suas atividades, recrutando novos cães e, quem sabe, criando um grupo de gatinhos, já que muitos pacientes, principalmente idosos, têm preferência pelo animal.

Mas a vontade maior da equipe é trabalhar com equoterapia, um tratamento que utiliza a interação com pôneis e cavalos. Tanto Márcia quanto Nathalie já trabalharam com o método anteriormente em São Paulo e brincam que, se derem liberdade a elas, em breve elas estarão com os cavalos a postos.

O trabalho voluntário recebeu reconhecimento da população, resultando em uma Moção de Louvor no Conselho Municipal de Saúde (Comus). O conselheiro Antônio Lopes elogiou o projeto, ressaltando os excelentes resultados observados após as visitas dos animais.

O diretor do Hospital Mário Covas, Henrique Simões, também destaca a importância do programa como uma iniciativa que se alinha ao compromisso do governo municipal e da Santa Casa de Ilhabela com o uso de tecnologias e tratamentos inovadores em prol do bem-estar e da qualidade de vida dos usuários.

Gabriela Petarnella

Gabriela Petarnella

Jornalista formada pelo Centro Universitário Módulo. Possui experiência em videorreportagem e fotojornalismo

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