TREMORES E RACHADURAS

“Treme tudo”: moradores de condomínio em Guarujá estão com medo de obras de piscinão

Tremores e rachaduras afetam conjunto habitacional Wilson Sório. Prefeitura e CDHU dizem que monitoram situação e Terracon nega haver riscos na obra

Thiago dos Santos
Publicado em 18/04/2024, às 14h18 - Atualizado em 19/04/2024, às 16h44

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Da esquerda para a direita: conjunto habitacional, escavadeira em obra do piscinão e rachadura em rodapé de prédio do condomínio - Imagens: Prefeitura de Guarujá / Acervo Lilian Schetino
Da esquerda para a direita: conjunto habitacional, escavadeira em obra do piscinão e rachadura em rodapé de prédio do condomínio - Imagens: Prefeitura de Guarujá / Acervo Lilian Schetino

A construção de um piscinão, no terreno ao lado de um conjunto habitacional, em Guarujá, no litoral de São Paulo, tem sido motivo de insegurança para centenas de moradores do local. As obras desenvolvem-se ao lado do conjunto habitacional Wilson Sório, no Jardim Primavera, a cerca de 3km da região central da cidade.

Após interrupções durante a pandemia, a construção do piscinão foi retomada no início de 2024, pela empreiteira Terracom, sob licitação da prefeitura do Guarujá. A proposta é de que o piscinão receba as águas do rio Santo Amaro, a fim de diminuir as enchentes na região. Atualmente, as obras estão na etapa de macrodrenagem e escavação.

Ocorre que, moradores e representantes da associação de moradores do conjunto habitacional, que reúne mais de 300 imóveis, afirmam que tais obras de macrodrenagem, ao lado do condomínio, têm causado tremores nos prédios, construídos há mais de 30 anos. Também coincide com a retomada das obras, relatam os moradores, o aparecimento de fissuras nas áreas comuns e dentro dos imóveis.

Eu moro do lado, do meu apartamento para as obras tem meia quadra, porque meu bloco é o último”, disse à reportagem a moradora Lilian Schitino, na quinta-feira (18). 

“Tá rachando e treme o dia inteiro. Então dá aquela sensação muito desconfortável do tremor. Treme muito no meio do apartamento, no meio do corredor, no banheiro. E o pessoal não assume nada”.

Segundo Lilian, os tremores e rachaduras nos imóveis coincidem com a retomada das obras no início do ano. Mônica Brandão, moradora e representante da associação de moradores do conjunto habitacional disse, em entrevista, que o sentimento geral entre os moradores é de insegurança, acentuada pela falta de respostas conclusivas tanto da prefeitura de Guarujá, quanto da CDHU e da Terracom.

“As respostas sempre são de boca, ninguém nunca deixa um papel”, desabafa a líder dos moradores. A exigência dos residentes, explica Mônica, não é interromper as obras, mas obter garantias de que eles estão em segurança em seus apartamentos.

“Os moradores estão inseguros, percebendo rachaduras, fissuras, tremores nos apartamentos e nas áreas comuns. Falaram que o prédio não vai cair, mas o que me garante isso? A obra já está em andamento e a associação não recebeu nada”, relata Mônica.

Sem ter visto nenhum laudo técnico, que demonstre que não haverá danos irreversíveis nos imóveis, o temor, acrescenta Mônica, é de prejuízos estruturais que obriguem a retirada dos  moradores ou, até mesmo, desabamentos. “Eu me sinto angustiada, né? A gente não tem um retorno”, desabafa a líder comunitária, que não descarta judicializar o caso.

Lilian faz coro com a representante dos moradores, “O que eu não consigo entender é como que pode dizer que não tem perigo? Aquilo ali é uma área de manguezal. E falar só, sem nenhum laudo. Não tem nada. Falaram que fizeram teste topográfico, você não vê uma marcação no chão de teste topográfico nenhum”.

A reportagem questionou a prefeitura de Guarujá e a CDHU, sobre a situação do condômino e se as obras apresentam riscos aos moradores. A prefeitura de Guarujá disse que a Terracom efetuou vistorias antes do início das intervenções, quando "foram detectadas patologias estruturais anteriores ao início das obras".

“Ainda assim, diante da preocupação dos moradores, equipes da Secretaria de Infraestrutura e Obras (Seinfra), da Defesa Civil e da empresa responsável pelas obras, têm ido constantemente no local, onde já foram realizadas quatro reuniões para esclarecer dúvidas da população”, complementou a gestão municipal. A prefeitura também enfatizou que o Conjunto Habitacional Wilson Sório foi construído pela CDHU há mais de 30 anos.

A CDHU, por seu turno, disse à reportagem que uma equipe realizou vistoria técnica no condomínio, na quarta-feira da semana passada (10). “Os síndicos acompanharam a visita e afirmaram não haver tremores no local. Além disso, não foi constatado, até o momento, risco estrutural nos conjuntos”. A companhia também disse que o conjunto habitacional passou por obras de recuperação e revitalização, entre 2013 e 2016, “não sendo verificado, à época, nada que comprometesse a segurança”.

Questionadas, a CDHU e prefeitura de Guarujá não explicaram por que não apresentaram  laudo sobre as atuais condições estruturais do condomínio aos moradores.

Terracom responde 

Em nota enviada ao Portal Costa Norte, a Terracom informa estar ciente das preocupações dos moradores e "trabalhando com muito zelo para mitigar quaisquer impactos negativos decorrentes das obras." A empresa nega haver riscos estruturais no conjunto Wilson Sório, uma vez que realizaram "avaliação cuidadosa da situação e implementamos medidas de monitoramento para garantir a estabilidade das estruturas durante todo o processo de execução da obra."

Afirmou, por outro lado, que foram feitas avaliações da estrutura dos prédios e dos riscos com a obras. Segundo a nota, foi realizado "um laudo cautelar inicial e contratamos empresas especializadas para monitorar as movimentações do solo e das estruturas. Até o momento, não identificamos risco de ruptura dos prédios."

A Terracom promete conclusão das obras para julho de 2025. Diz estar comprometida com o cronograma, "mantendo a segurança como prioridade."

Thiago dos Santos

Thiago dos Santos

Formado em Comunicação Social pela Universidade São Judas Tadeu e estudante de direito na Universidade de São Paulo (USP)

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