“Memória de um tempo onde lutar por seu direito é um defeito que mata” é um trecho da música Legião dos Esquecidos, de Gonzaguinha, que, entre tantos outros artistas, sofreu censura nos 21 anos de repressão do regime militar. A mensagem do cantor, que era um inquieto, conhecido pela postura de crítica à ditadura, ilustra o primeiro painel da exposição Direito à memória e à verdade – A ditadura no Brasil: 1964 a 1985, que pode ser vista na Unaerp (Avenida D.Pedro I, 3.300) até o dia 30 de abril, com entrada franca. Organizada pela Prefeitura de Guarujá em parceria com a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República e o Centro de Direitos Humanos da Baixada Santista Irmã Dolores, a mostra recupera a memória do período de regime militar. São imagens que vão do culto ecumênico realizado na Catedral da Sé pela morte do jornalista Wladimir Herzog (considerado a primeira mobilização pública contra o AI-5) ao comício da campanha “Diretas Já”. As imagens são expostas em painéis com cerca de 2 metros de altura. A sensação que se tem é a de estar dentro da história, pois as cenas são emocionantes. Os acontecimentos mostrados em ordem cronológica proporcionam, até mesmo, ao pessoal mais jovem, que não acompanhou os fatos, uma noção do que foi o período. Cerca de 150 convidados prestigiaram a abertura da mostra na noite da última segunda-feira (21), dentre eles o secretário da Cultura de Guarujá, Elson Maceió; o coordenador do projeto Direito à Memória e à Verdade, Gilney Viana, que representou a ministra Maria do Rosário, da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos; a presidente do Centro de Direitos Humanos da Baixada Santista, Graça Maria Costa da Silva, e o deputado José Cândido (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Segundo o secretário de Cultura, a exposição é importante, pois resgata fatos históricos que até hoje repercutem no País. Ele destacou que Guarujá teve papel relevante nos movimentos contra a opressão do regime militar e no processo pela redemocratização do País. “O Município teve peso político nos movimentos de resistência à ditadura, com metalúrgicos e petroleiros, sobretudo do distrito de Vicente de Carvalho. Os horrores vividos nos anos de chumbo devem ser relembrados para que não se repitam”, frisou Maceió.
Arquivos da ditadura No momento, um dos principais temas da política nacional é a possibilidade de abertura dos arquivos da ditadura militar. Desde o fim do regime, o assunto sempre teve grande relevância, mas agora está ganhando destaque por causa dos trabalhos da Comissão da Verdade. Instituída pelo presidente Luiz Inácio da Silva, em 2009, a comissão é responsável por um relatório sobre mortes, desaparecimentos e torturas ocorridas no Brasil de 1964 a 1985. À medida que os trabalhos avançam no Congresso, os militares fazem pressão pela não abertura do acervo nacional. O coordenador da mostra, Gilney Viana, da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, frisou a importância de informar a juventude sobre as violações dos direitos humanos no período em questão. “Muita gente nem sabe que houve um golpe militar no País. A exposição revela as agressões dos direitos humanos para que as pessoas possam formar seu próprio juízo de valor sobre a versão dos vencedores e vencidos”, ressaltou Viana. Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, a mostra é um importante instrumento para conscientização da juventude do que foi o período de ditadura militar. “Na época, eu era sindicalista de oposição, por isso lidava com todas as categorias. Muita gente morreu e desapareceu”, relembrou o deputado José Cândido, ressaltando a importância da democracia e da liberdade de expressão.
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