60 DIAS SANGRENTOS

Mortes de PMs, tiroteios, operações e pedidos de socorro: Guarujá é barril de pólvora há 2 meses

Nos últimos 60 dias, cidade registra ao menos três pedidos de reforço da prefeitura para conter ondas de assassinatos ou roubos; foram sete operações policiais e sete atentados a tiros contra policiais da ativa ou aposentados, quatro deles fatais

Da redação
Publicado em 03/08/2023, às 16h45 - Atualizado em 04/08/2023, às 09h43

FacebookTwitterWhatsApp
Vídeo ameaçador circulou nas redes sociais após anúncio de reforço da Tropa de Choque na cidade, em junho Criminalidade em Guarujá - Reprodução
Vídeo ameaçador circulou nas redes sociais após anúncio de reforço da Tropa de Choque na cidade, em junho Criminalidade em Guarujá - Reprodução

A operação policial que contabiliza 15 mortes em Guarujá, de um total de 16 no litoral paulista, é o ápice de dois meses sangrentos com registros de atentados a tiros, assassinatos de policiais da ativa ou da reserva, pedidos de socorro da prefeitura ao governo do estado e operações policiais que tentavam estancar a sangria na segurança pública da cidade.

Um levantamento do Portal Costa Norte desta quinta-feira (3) aponta que nos 60 dias que antecederam a operação policial em curso na cidade foram registrados ao menos sete atentados a tiros contra policiais da ativa ou da reserva, quatro deles resultando em morte. A última delas, a do policial Patrick Bastos Reis, soldado das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), na quinta-feira (27), foi o estopim da operação.

Policial foi socorrido (à esq.) mas não resistiu. Policial da Rota é baleado e morre em Guarujá Montagem com foto de carro e de policial (Imagens: Reprodução)

Dois meses antes da morte do soldado, os policiais reformados Nelson da Silva de 63 anos e Clóvis Barbosa de 52 anos também foram mortos por disparos de arma de fogo. As vítimas estavam na rua quando foram surpreendidas por criminosos que abriram fogo e fugiram de carro. Em 6 de junho, Sérgio Pereira, outro policial aposentado de 52 anos, também foi morto a tiros.

No mesmo intervalo, outros três policiais foram alvejados e sobreviveram. No final de maio, um deles, um policial da ativa de 30 anos à paisana, foi perseguido por atiradores no meio da tarde nas ruas de Guarujá. Segundo a ocorrência, por volta das 14h30, o policial percebeu a emboscada e começou a correr, os homens teriam feito vários disparos de arma de fogo correndo atrás dele que revidou.

Na manhã de 7 de julho, policiais militares e guardas municipais foram alvos de disparos de arma de fogo durante uma operação de demolição no bairro Pedreira Matarazzo na Enseada. Ninguém ficou ferido.

O clima de guerra urbana fez com que a prefeitura de Guarujá pedisse socorro ao governo do estado ao menos três vezes. Em uma reunião há um mês, a prefeitura solicitou o aumento de efetivo policial, investimentos em tecnologias de segurança pública e agilidade na obra de um novo batalhão policial na cidade.  

Na esteira de escalada de violência em Guarujá, Santos vive terça-feira sangrenta Capa - Dois policias são baleados e tropa é alvejada em novos atentados no litoral de SP Várias viaturas (Imagem: Polícia Militar)

Também no mesmo intervalo, foram ao menos sete operações policiais e a maioria em resposta a atentados ou ondas de roubos. Em 26 de maio, a Polícia Militar enviou a Rota para atuar tanto no centro quanto no distrito de Vicente de Carvalho.

Em meio a violência aguda, um vídeo gravado por criminosos viralizou no início de junho elevando ainda mais a tensão na cidade. Nas imagens, é possível ver aproximadamente nove homens caminhando na rua Argentina no Morro da Vila Baiana e quatro deles ostentando armas de fogo.

Operação no litoral é a terceira mais letal da história do estado de SP

O número de pessoas mortas em confronto com as forças policiais chegou a 16 em Guarujá e em Santos desde o começo da Operação Escudo na noite de quinta-feira (27). Antes restrita a Guarujá, a operação que mobiliza quase 600 agentes foi estendida a Santos após os ataques contra policiais na cidade.

Na segunda-feira, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) negou denúncias de tortura e excessos nas ações que levaram às oito mortes contabilizadas até então em Guarujá. Um dos mortos teria marcas de queimadura de cigarro; há avisos em redes sociais de que policiais matariam um total de 60 pessoas na região.

As 16 mortes contabilizadas até agora fazem da operação a terceira mais letal da história do estado, atrás do Massacre do Carandiru quando 77 detentos foram mortos pela PM em 1992 e dos ‘Crimes de Maio’ quando a polícia paulista matou 108 pessoas em 2006.

A quantidade de mortes e uma torrente de denúncias de irregularidades na operação gerou protestos contra a ação policial no litoral e fora dele.

Protesto de moradores e ativistas pedem fim da operação Escudo Protesto em Guarujá (Reprodução)

Ontem (2), a Defensoria Pública de São Paulo solicitou a interrupção imediata da operação policial em Guarujá em ofício enviado à Secretaria de Segurança Pública (SSP). No pedido de interrupção, a Defensoria Pública também diz que, caso haja alguma excepcionalidade que justifique a continuidade da operação, o governo do estado deve solicitá-lo por escrito ao Ministério Público (MP), identificando os responsáveis pelo comando da operação.

O órgão também pede que  os PMs envolvidos em mortes sejam temporariamente afastados das ruas, que haja cuidado com a preservação de provas e que sejam utilizadas câmeras corporais no uniforme de todos os agentes da Polícia Militar (PM) em ação.

Posição da prefeitura

Questionada sobre a declaração de fechamento de escolas por conta das ações da Operação Escudo, de acordo com o declarado pela Integrante da Rede de Proteção Contra o Genocídio, Marisa Fefferman, em reportagem da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), na quarta-feira (2), a prefeitura de Guarujá respondeu, em nota que a rede municipal de ensino prossegue funcionando normalmente, sem alterações no expediente de colaboradores e alunos.

Na mesma nota, a prefeitura declarou que o “município lamenta profundamente o momento atual e se solidariza com as famílias que vivem o luto por cada vida ceifada”. A nota segue informando que “neste momento, o objetivo maior do município é assegurar a integridade de todos os cidadãos, o restabelecimento da paz e a garantia das liberdades constitucionais, com o menor número de vítimas e confrontos”.

Veja também: PM Ambiental localiza armas e drogas enterradas em morro de Guarujá (SP) | ASSISTA

Comentários

Receba o melhor do nosso conteúdo em seu e-mail

Cadastre-se, é grátis!