REPRESENTATIVIDADE

Artesã do litoral de SP empodera mulheres e alcança o New York Fashion Week

Empreendedora da marca de roupas e acessórios Chinua utiliza matéria-prima originária do continente africano carregada de histórias

Mayumi Kitamura
Publicado em 13/02/2024, às 16h44 - Atualizado às 17h09

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Camila estimula as mulheres por meio do uso de roupas e acessórios com tecidos de origem africana - Divulgação
Camila estimula as mulheres por meio do uso de roupas e acessórios com tecidos de origem africana - Divulgação

A coragem de mudar de ramo de atuação e transformar a dificuldade em oportunidade fez a empreendedora Camila Araújo, de 40 anos, ganhar seu espaço na passarela do Desfile da Diversidade, do New York Fashion Week. Formada em gastronomia, a moradora de Guarujá utiliza tecidos de origem africana na confecção de roupas e acessórios da marca Chinua, com o apoio de um grupo de mulheres pretas, também moradoras da Baixada Santista.

Camila conta que, antes de se voltar para a moda, chegou a exercer a profissão na qual se formou, mas teve que abandonar após constantes mudanças de cidade por causa da família. “Na época, meu marido era atleta profissional e, a cada vez que ele mudava de cidade, eu acabava perdendo a clientela da minha empresa gourmet”, revela. Mesmo assim, não desistiu de seguir seu próprio caminho e descobriu, no seu amor por artesanato, cultivado desde a infância, a chance de uma nova oportunidade de crescimento.

A ideia da Chinua nasceu quando Camila começou a sua transição capilar, há aproximadamente dez anos, como parte de sua busca por acessórios que a representassem. Ela começou de maneira tímida, com revenda, mas quando conheceu o tecido africano, se apaixonou de vez. Pela técnica de cartonagem, deu origem a brincos, depois partiu para a confecção de faixas, braceletes, turbantes e pulseiras. 

A entrada no mundo das roupas femininas começou após alguns anos de marca, por sugestão da sua colaboradora Glaucia Rodrigues, do Instituto Procomum, de Santos, instituição parceira da marca. Também é ela quem assina a peça selecionada para o desfile do Fashion Week, uma jaqueta puffer

Jaqueta puffer selecionada para o NYFW | Crédito: Amanda Cervantes
Jaqueta puffer selecionada para o NYFW | Crédito: Amanda Cervantes

Atualmente, a Chinua conta também com quimonos, saias, macacões e até corta-vento. As criações são vendidas tanto em box da feirinha do bairro das Astúrias, quanto na do centro de Guarujá, mas Camila tem outros planos. “A ideia esse ano é focar nas minhas vendas virtuais. Vemos cada vez mais a crescente das vendas on-line. Estou dentro da Feira Preta do Mercado Livre, com loja oficial, também vendo pelo site e WhatsApp”, aponta.

“Vejo como a marca está crescendo, aonde está chegando. Esse ano, completamos nove anos. Pode-se imaginar que, muitas vezes, pensei em desistir, em largar, mas não. É algo que eu gosto muito. Desistir nunca foi uma opção. No momento de desespero, de a conta não bater, de ir para uma feira e não vender, de perder uma venda, dar problema em alguma confecção, até achamos que jogar para o alto é a melhor opção, mas não é. Imagina se eu tivesse desistido, jamais teria chegado a Nova Iorque”, ressalta.

Empoderamento

Um aspecto destacado pela marca é o empoderamento que, inicialmente, Camila acreditava ser de mulheres pretas, mas se tornou ainda mais amplo,  para todas. Conforme observou, seu público é formado principalmente por mulheres brancas e, apesar de possíveis julgamentos sobre apropriação cultural, ela não vê dessa forma. “A ideia da Chinua com os tecidos africanos é transmitir alegria, leveza e felicidade. É isso o que eu sinto ao tocar no tecido, ao vestir uma roupa com tecido africano, e não é no visual, é no astral. Eu acho que a apropriação cultural é mais se uma pessoa usa um produto e não sabe a história do produto, aí sim partimos para esse lado”, afirma.

Por isso, quando procuram pela marca, Camila faz questão de contar sobre as peças; cada estampa africana tem uma história: “Elas não vão usar sem saber. Ainda compram, ajudando uma mulher preta, mãe de dois filhos, e que ajuda outras mulheres”.

Ela conta que muitas mulheres brancas se apaixonam pelas peças, mas acabam não usando por medo de julgamento de apropriação cultural. Apesar das dificuldades, Camila vê na sua marca a importância na influência da comunidade, como uma inspiração. “É ver que não é fácil chegar lá, mas, não, impossível. Às vezes, as pessoas nos calam, nos colocam para baixo, não nos apoiam, daí precisamos ver mais dos nossos para nos inspirarmos”, finaliza.

Desfile

O Desfile da Diversidade da New York Fashion Week ocorreu na sexta-feira (2), no Consulado do Brasil em Nova Iorque (EUA), responsável pela iniciativa. O intuito é destacar a riqueza, a autenticidade e a inovação da moda brasileira, incentivando pequenos negócios que priorizam a inclusão e a colaboração intercultural. Vinte marcas do país foram convidadas a participar, após um processo de curadoria.

Mayumi Kitamura

Mayumi Kitamura

Jornalista formada na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp - Guarujá) e técnica em Processamento de Dados. Atua na área de comunicação há mais de 20 anos.

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