*Foto: Reprodução internet
Um crime de violência contra a mulher chocou a população sebastianense na última semana. Carla Silas, 37 anos, funcionária da Ogmo e residente na cidade, foi amarrada e esfaqueada diversas vezes pelo seu ex-marido, H.S., professor, com quem manteve um relacionamento por dez anos. O marido foi encontrado morto horas depois, enforcado. Segundo informações de amigos da família, que preferiram não se identificar, Carla pediu a separação havia cerca de dois meses, cansada do ciúme do companheiro. H. S. não teria aceitado a separação e, na quarta-feira à noite, dia 14, foi à casa da vítima, agredindo-a diversas vezes, até o óbito.
O crime contra Carla acende o debate sobre a violência doméstica e a importância de se garantir a segurança e proteção às mulheres em relacionamentos abusivos.
Segundo Geisa Elisa Fenerich, responsável pela Coordenadoria da Mulher em São Sebastião, a grande maioria das mulheres demora a perceber que vive uma situação de violência, e a absorção da culpa pelas agressões é o principal entrave para o término do relacionamento abusivo. Disse ela: “Normalmente só se dá importância ao abuso quando a violência já atingiu níveis físicos. Mas antes disso, temos uma série de violências que indicam abuso, como violência psicológica, que ninguém enxerga. Os homens têm poder sobre essas vítimas. Ameaçam filhos, familiares, a integridade delas mesmas, deixando-as culpadas pelo que acontece, fazendo com que assumam a responsabilidade pelo cenário de violência que as cerca”..
De acordo com a coordenadora, é preciso que essas vítimas recebam ajuda para terem a real percepção da relação doentia em que vivem, e assim consigam superar o cenário. “Muitas não têm consciência que vivem sob cárcere privado. Não estão trancadas em casa, mas são acompanhadas pelos parceiros a todos os lugares. O que é apresentado como excesso de zelo, na verdade é abuso e controle, mas a percepção disso é lenta, e envolve superar a culpa”, aponta Fenerich, destacando que, mesmo incomodadas com a postura do parceiro, a maioria é levada a acreditar que gerou esse comportamento no companheiro por suas ações e oscila entre se sentir gratas pelo excesso de amor ou amedrontadas pelo controle.
Para Geisa, “essas vítimas precisam de ajuda de assistentes sociais. Não só apoio estrutural e financeiro. Na verdade, o apoio psicológico acaba sendo o principal, para levá-la a entender que é vitima, e auxiliá-la na busca pelo retorno de sua autoestima, já que a maioria é levada pelo abusador a acreditar ser incapaz de sobreviver sozinha”. Mesmo após a separação, muitas seguem em situação de risco, como é o caso de Carla. “A separação é um grande avanço, mas independente disto, é preciso procurar ajuda especializada para que se avalie o cenário a fundo. Não sabemos o que é capaz de acontecer”.
De acordo com Sandra Aparecida Loureira, assistente social da AAMS – Associação de Amparo à Mulher Sebastianense, a ajuda das entidades se estende em várias etapas, mesmo após a separação. “Geralmente, quando a mulher chega, ela quer ser ouvida, não fazer uma denúncia. Se ela chegou aqui, sem passar pela delegacia, nós ouvimos e ajudamos nos caminhos possíveis. Se for necessário encaminhamento jurídico, como em caso de advogado para auxiliar em separação ou guarda de filhos, temos profissionais para auxiliá-las, por exemplo”.
Desde sua fundação, em 2009, quando a AAMS iniciou seu trabalho no atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica, foram atendidas 657 mulheres, das quais 97 em 2015, e 38, em 2016 (dados até março). As interessadas em conhecer os serviços e programas de apoio ofertados devem se dirigir à AAMS, na rua Nossa Senhora da Paz, 38, centro, ou pelo telefone 12 3892 2202. Já para casos em que as agressões atingiram níveis físicos, a recomendação é, se possível, contatar o 180 – disque-denúncia.
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