*Foto: Divulgação
Por Marina Veltman
O desaparecimento e morte do menino Leonardo de Jesus, de 6 anos, em Juquehy, na costa sul de São Sebastião, comoveu milhares de pessoas e ganhou ampla visibilidade na internet, na busca por informações sobre o paradeiro do pequeno. O caso, porém, trouxe luz para um fato preocupante, de acordo com a Delegacia Seccional do Litoral Norte: a ingenuidade do público na replicação de pistas e informações falsas.
Mucio Mattos Alvarenga, delegado da seccional, explica: “Não fossem dados errôneos que ganharam rapidamente visibilidade na internet, teríamos encontrado o corpo do Leonardo já na sexta-feira”. O atraso de 24 horas, no caso de Leonardo, não teria feito muita diferença, já que ele foi atacado na própria quinta-feira, mas poderia ser de vital importância caso fosse um sequestro, e não homicídio infantil. “Até mesmo algumas horas são de extrema relevância em casos de desaparecimento, podem significar a diferença entre vida e morte. Fomos levados à Barra do Una, Cambury e diversos outros locais atrás de pistas falsas. Por mais absurda que seja a informação, temos que ir lá, checar o sistema de imagem, enfim... Gastamos muito tempo para descartar as informações e separar os ruídos da realidade”, conta o delegado. “Nos impressionou muito o poder de repercussão da informação sem origem, sem ser passada por um profissional jornalista. As pessoas tomam o dado de qualquer um como verdade e o repercutem, sem filtro”, alerta o policial.
Inocente é espancado
Dentre as informações falsas, além de dicas errôneas sobre o paradeiro do menino, que teria sido avistado em vários bairros diferentes da cidade – quando, na verdade, não saiu de sua própria rua – a que mais alarmou a polícia foi a disseminação de possíveis criminosos, o que levou inclusive à agressão física de um parente inocente. Segundo o delegado, “muitos apontaram o padrasto como autor do crime, e ele acabou sendo gravemente agredido por populares. Já sabíamos que não podia ser ele, mas a informação falsa tomou uma velocidade assustadora”.
Outro dado inverídico divulgado foi a causa da morte do pequeno. “Divulgaram que ele foi morto a pauladas e essa informação foi abraçada como verdadeira por milhares, sendo que, pelas condições do local onde foi encontrado o corpo (um terreno alagado) era impossível uma avaliação tão rápida. Até agora, o legista ainda não concluiu o laudo, mas a rede já divulgou o resultado inverídico desde o próprio sábado”, lamenta.
Segundo o delegado, para evitar atrapalhar uma investigação, os internautas devem ter cuidado com a fonte da notícia. “A informação tem que ser profissional, assinada por um jornalista. É um absurdo uma pessoa ler algo escrito por amigo, conhecido, qualquer um, e ter aquilo como certo, estimulando ações de justiceiros”.
Sobre o caso
Leonardo de Jesus desapareceu no fim da tarde de quinta-feira, 18, enquanto andava de bicicleta na rua de sua casa, local relativamente movimentado, já que abriga a escola infantil do bairro. As buscas pela criança seguiram por toda a sexta-feira e, no sábado, após as filmagens do entorno indicarem que o menino em momento algum saiu de sua rua, a polícia iniciou buscas no matagal localizado próximo à escola, e encontrou o corpo.
Segundo a polícia, o primo de Leonardo, D.G., de 25 anos, acusado como autor do crime, tentou atrapalhar a ação policial, oferecendo-se para auxiliar as buscas na mata ao longo de sexta-feira; afirmou conhecer bem a área, mas levou os investigadores para o lado oposto ao local do crime. O receio de medidas equivocadas ser adotadas por populares fez a polícia manter suas suspeitas sobre o criminoso em sigilo. “No dia que achamos o corpo já tínhamos forte suspeita de quem seria o autor. Porém, se não conseguíssemos a prisão efetiva, estaríamos condenando-o à morte. Por isso só divulgamos após a prisão (ocorrida na tarde de quarta-feira, 24)”, conta o delegado Mucio. Apesar de D.G. ter confessado o crime, o delegado alerta que isso por si só não conclui as investigações. “A confissão não é a rainha das provas. O que condena não é a confissão, e sim as provas materiais e contextuais”.
Apesar de o acusado ter um histórico de discussões com sua tia, mãe de Leonardo, a polícia não acredita que o crime tenha sido cometido por vingança, e sim por efeito de drogas. Leonardo foi enterrado no domingo, 21, no cemitério do bairro.
Comentários