DESESPERO

Noivos levam golpe e alertam para contratação de bufê, em Caraguatatuba

Golpe resultou em prejuízo estimado em mais de R$15 mil; cerimônia contou com contratação de novos fornecedores 24 horas antes do casamento

Estéfani Braz
Publicado em 02/04/2024, às 14h58 - Atualizado em 03/04/2024, às 15h54

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Noivos quase tiveram sonho do casamento na praia transformado em pesadelo - Reprodução/Arquivo pessoal
Noivos quase tiveram sonho do casamento na praia transformado em pesadelo - Reprodução/Arquivo pessoal

Planejar o casamento e a festa é algo que tira o sono de toda noiva. Para muitos casais,  realizar a cerimônia na praia é investir em um sonho, mas, imagine chegar no dia e descobrir que a realidade é um pesadelo, uma vez que o bufê contratado não realizou o prometido? Foi o que aconteceu com uma noiva, em Caraguatatuba, no litoral norte, no fim de semana passado. Um grupo foi criado no WhatsApp e reúne, até a tarde desta quarta-feira (3), cerca de 15 pessoas que alegam ter fechado contrato com a mesma empresa; quatro casais já registraram boletins de ocorrência e outros afirmam que vão registrar. 

Casal durante cerimônia
Vanessa e David se casaram,  fim de semana passado, com ajuda de novos fornecedores, que toparam realizar a cerimonia em situação de emergência - Reprodução/Arquivo pessoal

Vanessa Vital Torres Santos e David Franklin Soares Teixeira de Freitas são de Suzano (SP) e estavam com o casamento marcado para 2020, porém, a pandemia atrapalhou os planos. A empresa de bufê de Caraguatatuba foi contratada em 2019, e o contrato foi fechado graças à  indicação de outros casais e profissionais da área de eventos matrimoniais. 

Com uma gestação descoberta durante o período da pandemia, os planos precisaram ser adiados ainda mais e foi exigido o pagamento de um adicional, por causa da remarcação. A segunda data havia sido estabelecida para 2023, mas, novamente, Vanessa e o noivo precisaram adiar e marcaram a cerimônia para o dia 30 passado. Ela relata que, a partir de 2023, a proprietária do bufê já não respondia com a mesma frequência. Por morar fora da cidade, a noiva não tinha conhecimento dos problemas que aconteciam com a empresa.

Com familiares vindos das cidades de Curitiba (PR) e de Umuarama (PR), e que viajaram mais de 16 horas para participar do casamento, os noivos optaram por fornecer a alimentação dos parentes durante o fim de semana. “A minha sogra decidiu contratar a Patrícia [dona do bufê] para fazer essa alimentação dos três dias, de sexta, sábado e domingo. E ela cobrou da minha sogra também. Ficou pedindo sempre para quitar o valor, isso agora em março. Todo tempo ficava pedindo dinheiro até quitar, alegando que tinha que passar para os fornecedores, e minha sogra acabou confiando na palavra dela, sem me comunicar, porque eu jamais autorizaria também isso”. 

Além da alimentação e decoração, o bufê havia oferecido serviços terceirizados como totens fotográficos e plataforma 360º, cujas empresas não tiveram o dinheiro repassado, de acordo com os noivos. 

O combinado era que, na sexta-feira(29), a contratada chegasse ao local da hospedagem dos familiares às 9h, para iniciar o preparo da alimentação, o que não aconteceu. Após os familiares blindarem a noiva da decepção, e tentarem localizar a proprietária, ela ficou a par do ocorrido. “Meu mundo desabou. Eu fiquei em choque. Eu não tinha reação. Eu não tinha como olhar para as pessoas. Eu não conseguia olhar para os meus convidados. Ela destruiu a minha sexta-feira, porque foi um dia muito aguardado. A minha família, mesmo, nunca se juntou para fazer uma viagem. Meu sonho era curtir a sexta-feira com eles”. 

Os noivos só conseguiram realizar o casamento devido à solidariedade e compaixão de outros fornecedores; eles reduziram o preço de seus serviços e aceitaram receber parte do pagamento após a festa. “Graças a Deus, o meu casamento aconteceu. Foi como Deus planejou para mim. Agora, eu vou ter que trabalhar bastante para pagar todos os gastos que eu tive, porque eu tive que pagar também os totens que chegaram lá no local e me cobraram lá, pessoalmente, porque eles não receberam dela. Pagar bufê, cadeiras que ela era responsável, bolo, docinho. Tudo isso que ela estava como responsável, eu tive que contratar”.

Decoração
Decoração da festa de casamento de Vanessa e David - Reprodução/Arquivo pessoal

O prejuízo estimado pelo casal e pela mãe do noivo, somente relacionado ao bufê, ultrapassa R$15 mil. Neste valor, não estão inclusos os itens contratados por Vanessa e David horas antes da cerimônia. O Portal Costa Norte tentou contato com a responsável pelo bufê, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. A defesa também não foi localizada. 

Outros casais

Nas redes sociais, um dos noivos que fecharam contrato com a empresa, denunciou a situação e várias outras pessoas comentaram. Capturas de telas feitas pelos noivos mostram, ainda, promoções que foram feitas para fechamento de contratos. 

Print
Print mostra promoção para quitação de contrato  - Reprodução

Outro casal, de Osasco (SP), que se prepara para subir ao altar, com o sonho de casar com uma cerimônia “pé na areia”, neste fim de semana, precisou correr para contratar outra empresa para realização da festa. A noiva, que pediu para não ser identificada, conta que foi por indicação que resolveu fechar o contrato. “Em setembro, eu fui fazer uma degustação lá com a minha mãe e o noivo. Eu só fechei com ela porque, na época, tinha uma assessora (de eventos) que recomendou e disse que era maravilhosa, mas descobri que ela ganhava em cima de indicações. Essa mulher não estava fazendo nada, então mudei de assessora para a minha atual, que já tinha me alertado”. 

Uma conversa, via aplicativo de mensagem, mostra o valor de R$2.217, que teria sido pago pelos noivos. 

print de conversa
Conversa mostra negociação bufê - Reprodução/Arquivo pessoal

Com a situação vivenciada por Vanessa, uma semana antes do casamento marcado, os noivos precisaram correr atrás de novos fornecedores. “Foi desesperador, entrei em contato com treze bufês e cozinheiros da região. Eu paguei quatro mil e duzentos reais para um evento com quarenta e duas pessoas; procurando novos bufês, eu percebi o quanto esse valor é baixo, porque recebi orçamentos de nove a treze mil reais. Mas, felizmente, o bufê que ajudou a noiva, no sábado, também me socorreu e fez um valor justo, mas menor. Também consegui uma empresa em Ubatuba de aluguel de mobiliários, que também fez um valor mais em conta para mesas e cadeiras que, no meu caso, são poucas”.

A busca por novos fornecedores causou até problemas de saúde ao noivo, que é diagnosticado com diabetes tipo 1. “Na sexta, o meu noivo ainda conseguiu ligar para a Patrícia e o telefone tocou duas vezes; depois disso só caixa postal. Tive que recorrer a vaquinha com familiares para fechar esse novo bufê e só não cancelei a minha lua de mel porque já está tudo comprado, mas vamos precisar passar tudo no crédito.” 

Com o casamento marcado para setembro deste ano e, vendo toda a repercussão nas redes sociais, a relações públicas Beatriz Monteiro de Oliveira, moradora de São Paulo (SP), já se prepara para a substituição do bufê e, para se resguardar, registrou um boletim de ocorrência na segunda-feira (2), na delegacia de Caraguatatuba.

No documento, ao qual a reportagem teve acesso, consta que os noivos contrataram o serviço pela internet e que souberam, por outros clientes, que a proprietária "havia aplicado golpe em um casal no dia 30". No documento, as vítimas afirmam ainda que tentaram contato com a empresa, mas não houve retorno e que a proprietária "sumiu de Caraguatatuba".

Em um outro boletim de ocorrência, registrado na terça-feira (2), outro casal afirma que contratou o serviço e que soube por outros casais que a dona do bufê "havia fugido para o Paraguai". Foi informado, ainda, que o parcelamento do serviço foi no cartão de crédito, em cinco parcelas de R$ 676 reais.  As ocorrências foram registradas como estelionato (art. 171). 

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Nota de esclarecimento

Na tarde desta terça-feira (3), no perfil do Instagram Mamma_Gastronomia, foi divulgada uma nota de esclarecimento na qual consta que, após 7 anos de serviços prestados, a empresa vive um momento de grande crise financeira. Na nota, a responsável afirma que pretende ressarcir cada valor contratado: "Afirmo aqui em rede social que não fugi e que assumirei os meus atos, e não deixarei de ressarcir cada valor que nos foi contratado". Os clientes já contratados são orientados a entrar em contato, sob a garantia de que será encontrada uma solução "dentro de nossas condições atuais". A publicação é assinada por Patricia Helena Marton. 

Estéfani Braz

Estéfani Braz

Formada em Comunicação Social na Faculdades Integradas Teresa D'Ávila

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