Funcionário de condomínio à beira mar flagrou os dois animais mortos no início da manhã. Especialista em tubarões explica como animal pode ter chegado lá e prováveis causas da morte
Na manhã desta segunda (29), minutos antes de encerrar seu expediente, Danilo Leite, um jovem porteiro de um condomínio à beira mar em Bertioga, no litoral de São Paulo, teve sua rotina de trabalho abalada por duas estranhas aparições na areia da praia.
“Abri o portão do condomínio de manhã cedo, eram 6h28, saio às 7h, quando, de repente, veio um amigo meu que tinha saído pra pescar e me avisou. ‘Danilo, tem um tubarão na praia’”, disse à reportagem o porteiro de 22 anos .
Ao chegar na faixa de areia da praia Vista Linda, além do tubarão, Danilo avistou também um golfinho. “Quando eu cheguei, o tubarão e o golfinho já estavam mortos”, relembra o porteiro. Ele gravou um vídeo dos animais na praia – mais perto do tubarão do que do golfinho por causa do cheiro. “O golfinho estava se decompondo”, explica Danilo.
O Instituto Gremar, que monitora a vida marinha em Bertioga e em parte do litoral paulista, informou que recolheu os animais. "Uma equipe registrou o óbito de um golfinho da espécie popularmente conhecida como toninha (Pontoporia blainvillei). A equipe confirmou, ainda, no mesmo local, o encalhe de um tubarão", disse, em nota, o Gremar.
“É um tubarão azul. Um belíssimo animal”, identificou o professor Otto Bismarck, especialista em tubarões da Unesp de São Vicente, em entrevista ao Portal Costa Norte, após analisar as imagens.
“É um tubarão de alto mar. Não é um animal comum na área costeira. O adulto chega a medir um pouco mais de três metros de comprimento. Ele é um dos tubarões com maior distribuição no mundo inteiro e está ameaçado em algumas regiões. Ele migra, é um baita migrador. E, normalmente, quando a gente o encontra na área costeira é nessa situação”.
Bismarck afirma que encontrar tubarões mortos nas praias não é incomum, mas há dificuldade em determinar com precisão as causas porque são muitos os fatores: de incidentes pesqueiros à desorientação sensorial e até mesmo problemas de saúde.
“Existem muitos episódios como este, pelo Brasil e mundo afora, de tubarões que normalmente não são comuns na costa, mas que aparecem na praia mortos ou moribundos. O fato em si não é uma novidade. A questão é que os pesquisadores nunca conseguiram achar um padrão para interpretar o que de fato acontece”.
Para o especialista, problemas no sistema de orientação do animal estão entre as hipóteses que podem tê-lo matado. “O que se sabe, de uma maneira geral, é que esses grandes tubarões oceânicos são muito complexos do ponto de vista sensorial. Já se constatou, não estou dizendo que é o caso deste em Bertioga, que o animal acaba chegando um pouco mais perto [da costa] do que deveria e fica desorientado. Alguns distúrbios nos órgãos sensoriais também podem causar o mesmo efeito, mas é difícil aferir isso com precisão".
Também não é possível, complementa o pesquisador, concluir que tanto a morte do animal quanto sua aparição na costa estejam relacionadas de alguma forma com a pesca. “O Gremar vai fazer uma análise, usando os métodos deles, pra ver se havia alguma anomalia anatômica ou fisiológica no corpo do tubarão ou sugerir que ele não fosse saudável, mas nem sempre isso é conclusivo; temos que aguardar”.
O especialista afirma que a aparição do tubarão sem vida a poucos metros de um golfinho morto é provavelmente uma coincidência facilitada pelo mar revolto - consequência de um ciclone na última semana.
“Não acredito que o tubarão e o golfinho interagiram ou que o tubarão tentou predar o golfinho. Se existe algo incomum na aparição simultânea e próxima do golfinho com o tubarão provavelmente isso tem a ver muito mais com as condições do mar”, explica o professor completando: "o mar estava bem virado e é possível que os animais estivessem moribundos, sem forças pra nadar, ou já estivessem mortos e a maré acaba trazendo mais ou menos pro mesmo ponto da praia. Acredito que a proximidade entre os dois seja coincidência."
Por menos incomum que seja, a aparição dos animais, especialmente do tubarão, impressionou Danilo. “O tubarão estava inteiro. De perto, foi a primeira vez que eu vi. Eu achei bem interessante ver um animal assim, eu nunca tinha visto um tubarão tão de perto”, diz com entusiasmo o jovem porteiro. “Uma pena que estava morto."
Atualização 29/08, às 18h30: Após a publicação desta reportagem, o Instituto Gremar afirmou que "devivo ao estado em que os animais foram encontrados, não foi possível confirmar a causa da morte ou obter informações mais detalhadas.
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