Educadores e pais de crianças autistas aproveitaram o bate-papo informal para trocar experiências
A Fundação 10 de Agosto, com sede na Riviera de São Lourenço, promoveu nesta quinta-feira (26) uma capacitação sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) aberta aos moradores de Bertioga, no litoral norte de São Paulo. Educadores e pais de crianças autistas aproveitaram o bate-papo informal para trocar experiências.
Vanessa Félix, presidente do Instituto Índigo, ressaltou características comportamentais provocadas pelo transtorno para ajudar pais e professores a identificar crianças que precisem de acompanhamento.
“É preciso lembrar que, antes de ser autista, ela é uma criança. O autismo não é uma doença, mas é um transtorno no modo como o indivíduo interage com o ambiente. Ele não é detectado em exames de sangue ou imagem, mas após a observação de uma série de comportamentos, da capacidade de socialização e da fala”, afirmou Vanessa.
Quanto mais cedo o transtorno é identificado, mais chances a criança têm de evoluir. “Ela precisa de um treinamento que deve começar cedo e é exaustivo. A criança pode ter um nível muito severo e evoluir para o leve ou ter leve ir para o severo se for negligenciado”, disse a presidente da Índigo.
Segundo Vanessa, a demanda por orientação em Bertioga é alta e as famílias não têm muito acesso à ajuda que precisam. “Por isso, essa iniciativa da Fundação 10 de Agosto é importante para a comunidade. No instituto, nós procuramos entender a mãe, de forma especial aquelas que não aceitam a situação.”
Um auxiliar administrativo de 27 anos, participou do encontro falou sobre a dificuldade para conseguir um diagnóstico do filho de 5 anos. Ela aproveitou a oportunidade para conversar com outras mães.
“É um menino muito sensível. Desde os 3 anos, eu venho observando que ele não lida bem com regras quando vai brincar com os coleguinhas, por exemplo. Se levo ao pediatra, ele não percebe e nunca me dá um encaminhamento para uma consulta com o neurologista. Quem convive e sente tudo sou eu”, desabafou.
“Quando eu comento que suspeito que ele tenha autismo, as pessoas descartam, porque ele abraça, beija. Mas hoje eu ouvi aqui que eles podem ser amorosos. Essa informação foi novidade para mim. Estou atrás de uma reposta”, afirma a auxiliar administrativa.
A empresária Graziela Masiero, de 38 anos, recebeu o diagnóstico de autismo do seu menino, hoje com 11 anos, no ano passado, depois da dificuldade que enfrentaram com as aulas online. Porém, ela notou uma mudança no comportamento do filho a partir dos 4 anos.
“Aos 5 anos, começou a gaguejar. Eu achava que era o ‘jeito dele’. Agora, eu digo às mães: notou algo diferente corre atrás, pois é assim que você pode dar uma condição de vida melhor para o seu filho”, afirmou.
Vanessa Félix conta que o autismo “não tem cara” e que podemos conviver com autistas sem nos darmos conta dessa condição. Nos últimos anos, desenvolveu-se um olhar mais refinado sobre o transtorno.
Ter problemas com a fala;
Evitar o contato visual;
Ser demasiadamente preso a rotinas a ponto de entrar em crise caso seja quebrada;
Tem interesse restrito ou hiperfoco (tem um único centro de interesse);
Fazer movimentos repetitivos sem motivação aparente;
Ser literal e concreto (não brinca de faz de conta);
Desafio da socialização.
A Fundação 10 de Agosto é uma entidade civil, de direito privado, sem fins lucrativos, que proporciona atividades culturais para a população de Bertioga. Atualmente, cerca de 300 crianças e jovens de 5 a 19 anos podem fazer cursos gratuitos de musicalização e instrumentos (flauta transversal, teclado, clarinete, saxofone e violino). A entidade, criada em 1993, oferece ainda capacitação profissional e promove vivências familiares.
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