Anjo do Asfalto: entregador vê carro capotar e resgata vítima na mata selvagem em Bertioga, SP

Por volta das 10h30 desta segunda-feira, 08, um acidente que poderia aumentar as estatísticas de mortes no trânsito acabou por revelar a história de um homem que vem sendo chamado de Anjo do Asfalto em Bertioga, no litoral de São Paulo.

A manhã era de sol leve, o trânsito fluía bem na Rodovia Rio-Santos (SP 055). Na altura do km 244, na região do Maitinga, em Bertioga, um motorista perdeu o controle de seu veículo, capotou o carro e foi parar no meio da mata pantanosa que circunda o trecho.

Após capotar diversas vezes, o veículo modelo Voyage só parou de ponta cabeça sobre uma imensa poça de água e lama no meio da vegetação, com o motorista preso dentro dele.

Estava desenhada a receita de mais uma tragédia, exceto por um detalhe: no momento em que o veículo capotou, vinha atrás, pilotando sua moto, a caminho do trabalho, o prestador de serviços de entrega Robsom dos Santos. Os eventos que ocorreram depois justificam o epíteto de Anjo do Asfalto que o jovem de 35 anos recebeu na cidade.

Após ver o carro atravessar na contramão, capotar à frente e cair na mata circundante em meio a um pântano, Robsom parou sua moto e saiu em disparada, buscando resgatar quem quer que tenha se acidentado. “Eu não pensei em nada. Só pensei em ajudar uma pessoa em necessidade mesmo”, declara o entregador, pai de um casal crianças.

Àquela altura, Robsom ainda não sabia se havia uma ou mais de uma pessoa no veículo, tampouco o que encontraria no meio daquela vegetação. Ao entrar na área de mata-atlântica de Bertioga, ele afundou numa poça de lama e perdeu o celular, mas continuou em frente. A violência com que o veículo entrou na mata disse a Robsom que aquilo era urgente.

Após percorrer cerca de 10 metros de mata fechada, o Anjo do Asfalto deu de cara com o veículo, virado de cima para baixo, submerso em água e lama. “A imagem era terrível. Metade do carro estava dentro de um buraco cheio de água. Não dava pra ver quem estava dentro, se havia mais de uma pessoa. O banco do motorista era o que estava menos submerso, o banco do carona e os bancos de detrás estavam afundados na poça”, relembra Robsom, nascido e criado em Bertioga, atualmente morador do bairro Vicente de Carvalho II, a SAOC.

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Nesse momento, com o carro capotado, afundando no lamaçal, Robsom não se desesperou e chamou pelo motorista. “Amigão, amigão, tira o cinto, tira o cinto", disse Robsom, ainda mantendo certa distância do carro acidentado.  "A minha surpresa foi que ele [o motorista] respondeu. Ele disse que já havia tirado o cinto. Apesar disso, ele parecia em estado choque.”

Nesse momento, ao ver a moto de Robsom parada e a sinalização por ele colocada na pista, outros veículos perceberam os índícios do acidente e também pararam na rodovia. Um outro herói, vendo que Robsom havia entrado na mata sozinho, também pulou pra dentro para ajudar. Enquanto isso, dentro da mata, a situação era crítica. O veículo afundando exigia uma ação imediata.

Robsom relembra que sentiu medo nessa hora. “Eu tive medo do carro explodir comigo ali. Mas pensei nos meus filhos, na Drielly, minha filha de 14 anos, no João, meu filho de dois anos. Aquele cara ali morrendo afogado na lama podia ser um pai também. Podia ter duas crianças esperando por ele, como as minhas esperam por mim. Podia ser um filho e ter um pai e uma mãe esperando por ele.”

Bobsom tentou virar o veículo, mas a lama em que o carro se afundava cada vez mais era mais forte. Percebendo que não seria possível virar o carro, ele se esforçou para tirar o motorista que jazia preso, virado de ponta-cabeça dentro da poça que se tornara o carro. “Pedi pra ele colocar o braço pra fora, ele entendeu, esticou o braço. Nesse momento, eu e um outro rapaz que apareceu na hora tiramos a cabeça dele de debaixo d’água e colocamos ele deitado ali do lado, até o resgate chegar.”

De acordo com informações preliminares, o resgate chegou ao local cerca de uma hora após o acidente. O Portal Costa Norte questionou o Hospital de Bertioga sobre o estado de saúde do motorista salvo por Robsom, mas ainda não obteve resposta.

Perguntado sobre o que o fez parar sua motocicleta, entrar no meio da mata, perder objetos pessoais, se afundar na lama e arriscar sua própria vida para salvar a vida de um desconhecido, quando era mais fácil apenas seguir em frente pela rodovia, Robsom Santos, o Anjo do Asfalto, responde com apenas uma frase: “Meus filhos”, e chora.