Verdadeiro refúgio entre rios, bairro da área Continental de Santos conta com belo roteiro turístico; confira detalhes sobre um dos paraísos de Santos
Encravada na confluência do rio Diana com o canal de Bertioga, ao lado do rio Jurubatuba, a ilha Diana, na área continental de Santos, abriga uma das últimas colônias de pescadores artesanais da região. Conhecer sua comunidade, cultura e ritmo de vida vale o passeio.
Ao chegar ao bairro, com pouco mais de 200 habitantes, o visitante é recebido não só pela paisagem bucólica, que o leva a um estado de contemplação, sossego e conexão com a natureza, mas também por uma mesa farta de café da manhã. Preparada pelas mãos da comunidade, é composta por chá de capim cidrão, pão caseiro, bolo de cenoura, torta de frango e suco natural de abacaxi com hortelã.
Bem alimentado, segue para uma verdadeira viagem à cultura caiçara, em visita guiada por quem tem a propriedade no que diz: os próprios moradores. Trata-se do projeto Vida Caiçara – educação ambiental e turismo de base comunitária, desenvolvido pela comunidade local com renda totalmente revertida aos participantes.
Eles apresentam a Capela do Bom Jesus, o campo do Esporte Clube Diana, a casa da moradora mais antiga - dona Dina, falecida em 2011 - e falam de suas tradições e costumes, sua história e modo de vida. A moradora Patrícia dos Santos, uma das diretoras do projeto, explica: “A ilha Diana começou com quatro famílias. No começo, não tinha luz nem água. As casas eram de madeira, construídas com materiais aproveitados dos restos dos navios”.
Visitantes também passeiam de barco pelo canal do estuário e têm a oportunidade de conhecer o rio Diana, no qual os moradores pescam seu próprio alimento. A guia Angela de Souza Lima diz: “Aqui tem tainha, robalo, camarão. Não comemos peixe congelado, pois o gosto é diferente. Podemos pescar do lado da nossa casa”. Informa aos visitantes que, atualmente, são cerca de cinco famílias que vivem só da pesca. “Hoje, temos a visão de proteger o mangue”.
A programação inclui o saboreio de delicioso prato típico da culinária caiçara, no qual não falta peixe fresco em receitas para todos os gostos: filé frito, ensopado e pirão, além de farofa e molho de camarão, polenta com marisco e ainda arroz, feijão e salada. Sucos naturais de limão e de maracujá completam a refeição. Para fechar o passeio, moradores mostram aos visitantes instrumentos de pesca utilizados por eles na captura de peixes, siris e mariscos.
O Vida Caiçara nasceu de um programa de educação ambiental desenvolvido pela DP World, ligado ao licenciamento ambiental da empresa portuária junto ao Ibama. Construído de forma participativa com os moradores locais desde outubro de 2012, tem apoio da prefeitura de Santos e conta com 40 pessoas, entre adultos e jovens moradores desta região da cidade. Os passeios guiados por eles funcionam à base de rodízio. “Um ajuda o outro”, explica Patrícia.
Além de contribuir para compor a renda familiar dos moradores, o projeto também representa um modo de cultivar e valorizar as raízes e saberes locais, e mostrar a importância dos manguezais na região. A bióloga e coordenadora do programa, Ana Maria Marins, que presta consultoria em educação ambiental para a DP World, explica: “Nenhum progresso pode passar por cima das pessoas. Por isso, a DP World aporta capacitações do pessoal e dá apoio estrutural. Mas temos o cuidado de assegurar a autonomia dos moradores. Hoje, podemos afirmar que é um projeto da comunidade, ele anda com as próprias pernas. Os moradores ganham e investem no projeto uma parte do que ganham”.
Interessados no passeio pela ilha Diana devem agendar pelo telefone (13) 99741 8690, com Patrícia. É preciso formar grupos de 15 pessoas, no mínimo, e 45, no máximo. Preços dos pacotes a combinar. O passeio completo, incluindo café da manhã e almoço, inicia às 8h30, na barca atrás da Alfândega, com retorno às 14 horas.
Visitar a Ilha Diana é como viajar no tempo. Grande parte das casas é de madeira e os moradores buscam na pesca um meio de sobrevivência. A comunidade parece estar à parte da movimentação e do desenvolvimento contínuo que acontece em Santos, apesar de distar apenas oito quilômetros do maior porto da América Latina.
Um dos principais meios de reunião e entretenimento no local é o futebol. Quando tem jogo no campo da ilha contra time de fora, há sempre churrasco e bebida, e a comunidade comparece em peso. A maior celebração, no entanto, acontece no início de agosto, quando se realiza a festa de Bom Jesus. Além da missa e procissão marítima, os festejos são comemorados com muita tainha assada na grelha e festival de frutos do mar.
Os moradores da ilha são os guardiões da natureza da Ilha Diana, inclusa como Zona de Preservação, segundo a Lei de Uso e Ocupação do Solo na Área Continental, de 25 de novembro de 1999, que tem como diretriz a proteção dos ecossistemas, os recursos genéticos e as populações tradicionais. O texto diz que o ambiente natural deve servir à pesquisa, educação, uso tecnológico e científico. Dentre os usos permitidos no local estão atividades educacionais e de turismo monitorado, o manejo auto-sustentado, a aquicultura e a maricultura.
A fauna e a flora locais constituem-se de espécies típicas de manguezais. Na vegetação, podemos observar o mangue branco e o mangue vermelho, e no caso dos animais, várias espécies de siris, caranguejos e peixes, entre os quais robalo, tainha, mero, caratinga e parati. Há camarões, ostras e mariscos, e aves de diversas espécies, como garças, guarás, socós, saracuras e colheiros. Entre os mamíferos, destaques para o mão-pelada (também conhecido como cachorro-do-mato) e a lontra, comuns na ilha.
A vegetação é composta por palmeiras, chapéus-de-sol e muitas espécies frutíferas como íngua, jambolão, goiaba, araçá, laranja, limão, banana, pitanga, abacate e manga. A cana-de-açúcar e batata doce também estão presentes no local.
A ocupação da Ilha Diana aconteceu na década de 1930, quando a Base Aérea de Santos foi ampliada para a construção da pista de pouso. Com isso, uma parte da população de Vicente de Carvalho, que vivia nos bairros Bocaina e Saco do Embira, foi desalojada. Tendo que procurar novas áreas para viver, quatro dessas famílias se estabeleceram na ilha.
A ocupação se deu de maneira linear ao longo da orla da maré e o posicionamento das residências forma nitidamente pequenos núcleos, evidenciando as ligações familiares entre moradores. Muitas dessas casas ainda são construções desta madeira, com telhas de barro, e se encontram suspensas do chão, apoiadas sobre pilares para se protegerem da invasão da maré.
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