CÂNCER INFANTIL

Novembro Dourado: campanha enfatiza diagnóstico precoce do câncer infantil

Neste Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantojuvenil, oncologista fala sobre tratamento da doença, que é uma das frentes do Lions Clube de Bertioga

Rebeca Freitas
Publicado em 23/11/2023, às 10h51 - Atualizado às 14h11

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Médico desde 1989, Cartum possui especialização em oncologia infantil pelo GRAACC - Arquivo Pessoal/ Jairo Cartum
Médico desde 1989, Cartum possui especialização em oncologia infantil pelo GRAACC - Arquivo Pessoal/ Jairo Cartum

Nesta quinta-feira, 23 de novembro, é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantojuvenil. Durante todo o mês, ocorre a campanha do Novembro Dourado, que marca os esforços para divulgação de informações sobre o câncer, estímulo às políticas públicas de atenção aos pacientes e promoção dos avanços tecnológicos e científicos na área. 

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o câncer representa uma das principais causas de óbito por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 9 anos, baseado em dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). 

Uma das bandeiras de atuação do Lions Clube de Bertioga é a oncologia infantil. Em datas como esta, o clube opera promovendo palestras para a população e fazendo campanhas em vídeo. O médico oncologista Jairo Cartum é de São Paulo, mas se associou ao Lions de Bertioga por apoiar esta causa em comum. “A gente acabou criando um vínculo porque o Lions ajuda muito a oncologia infantil do hospital onde eu atuo no ABC. E eu mesmo sendo de São Paulo, acabei me associando ao Lions de Bertioga pela grande parceria e pela honra de pertencer a uma instituição onde uma das bandeiras principais é a oncologia infantil”, enfatiza. 

Diagnóstico precoce, maior chance de cura 

Médico desde 1989, Cartum possui especialização em oncologia infantil pelo Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC), além de ter mestrado e doutorado pelo Hospital das Clínicas (HC), da USP. “Desde então montei um serviço de oncologia pediátrica que atende na região do ABCD, vinculado à Faculdade de Medicina do ABC. É o único serviço público na área que faz esse atendimento especializado de oncologia infantil. E esse serviço precisa de ajuda da sociedade, porque a oncologia infantil é muito cara”, salienta. 

Jairo explica de que maneiras o Lions Clube é um aliado em seu trabalho no combate ao câncer infantil. “O Lions de Bertioga se tornou um grande parceiro do nosso serviço lá na faculdade de medicina do ABC. Eles nos ajudaram a pagar anestesia para as crianças, para que a gente pudesse fazer procedimentos sem dor, promovendo humanização. Eles nos forneceram também bastante material para nossa psicóloga, então o Lions é um grande parceiro nosso”, realça Cartum. 

Conforme o médico, o câncer infantojuvenil não é uma doença prevalente como nos adultos. “A cada 100 casos de câncer, 97 são em adultos e três são na faixa infantojuvenil, mas ele existe. No Brasil são 12 mil casos ao ano, portanto mil casos ao mês e 35 por dia. Adulto tem muito mais, mas em criança também existe”, reforça. 

De acordo com o oncologista, o tipo mais comum de câncer infantil é a leucemia, representando um terço dos casos. Enquanto 20% deles são tumores no sistema nervoso central, se manifestando principalmente como tumores cerebrais. Já os 15% dos casos restantes costumam ser linfomas. O médico explica que existem outros tumores menos frequentes, como nos rins, fígado, ossos, musculatura e até mesmo nos olhos, mas que estes ocorrem com uma menor afluência. 

Cartum reforça que atualmente crianças têm uma taxa de cura muito maior do que adultos, mas que nem sempre foi assim. "Nos anos 1970, apenas 20% dos casos [de câncer infantil] eram curados, enquanto hoje alcançamos quase 80%. No entanto, para atingir essa taxa mais elevada, o tratamento precisa ser altamente intensivo, sujeito a diversas complicações. Portanto, é crucial contar com um serviço que priorize o diagnóstico precoce. Não basta oferecer um tratamento de última geração se o diagnóstico ocorrer tardiamente. É necessário agir em ambas as frentes, tanto no diagnóstico precoce quanto no tratamento, para alcançar uma taxa de cura próxima a 80%".  

Para o oncologista,  a Campanha de Novembro Dourado é importante justamente para dar luz ao diagnóstico precoce.  "O tratamento é significativamente mais intensivo para crianças do que para adultos. Envolve doses elevadas de medicação e, por vezes, as crianças enfrentam numerosas infecções e hospitalizações. Contudo, ao realizar um diagnóstico precoce, é possível administrar um tratamento menos intensivo, reduzindo assim o sofrimento para a criança", constata. 

As drogas utilizadas no tratamento atuam em nível molecular. Essas substâncias, embora eficazes, são altamente tóxicas, resultando frequentemente em sequelas para as crianças. Uma criança de 4 ou 5 anos submetida a tratamentos intensivos, como quimioterapia, por dois anos e meio, utiliza drogas que podem afetar seu rim e fígado, levando a toxicidade em vários órgãos, perda auditiva parcial, complicações cardíacas e fibrose pulmonar.

O desafio é buscar a cura com o mínimo de sequelas possível. A equipe médica acompanha o paciente ao longo da vida, fornecendo suporte tanto durante quanto após o tratamento, com o objetivo de mitigar possíveis efeitos colaterais.

Como surge o câncer em crianças? 

Cartum expõe que o tumor em um adulto, é diferente de um tumor na infância, sendo proveniente de origem exclusivamente genética e ignorando fatores ambientais.  “Aquele indivíduo que ao longo da vida sofre agressões do meio ambiente, acaba tendo um fator ambiental importante. Na criança não, na criança a principal causa do câncer é genética. Um defeito do gene dessa criança, que faz com que uma célula se multiplique de maneira errada sem necessidade, gerando um tumor”. 

O médico faz ainda um alerta sobre a rotina de prevenção que deve ser seguida pelos pais. “O tumor da infância cresce muito rápido, ele chega a duplicar uma vez por mês de tamanho, mas o linfoma não Hodgkin duplica a cada 24 ou 48h. Então se a criança apresenta um sintoma que piora rapidamente, ele tem que ser investigado”, explica. 

De acordo com o médico, os sinais do câncer infantil são: febre que se prolonga há mais de 10 dias; gânglios (caroços), dores no corpo ou na cabeça. “Qualquer doença da infância pode mimetizar um câncer infantojuvenil, mas estamos falando de um sintoma muito intenso, não são dores que a criança consegue continuar a brincar.  São sinais e sintomas que permanecem e pioram rapidamente”, alerta.

O médico faz um apelo ainda para que pais e cuidadores não se apeguem em buscas na internet, mas que procurem um profissional. “Em qualquer pescoço de criança, você vai achar carocinhos, bolinhas, mas estamos falando daquele gânglio que vai crescendo. Não é qualquer febre, que é câncer, mas em raros casos pode ser, então é bom investigar”, complementa Jairo. 

Pequenos gigantes 

Criança com câncer
Quando uma criança é diagnosticada, a rotina de toda a família muda - SBP

Crianças mais velhas já costumam entender a complexidade do câncer, mas para os mais novos, a doença é encarada de maneira mais lúdica. “A criança pequenininha vai entender que é um bichinho feio que entrou na barriguinha dela, que está crescendo. E a preocupação da criança pequenininha é a dor da picada, o medo de ficar longe do pai. Aí, passou a picadinha, ela já anima. O mais velho tem uma consciência maior do risco da morte. O adolescente já tem uma situação que se isola, às vezes já fica agressivo”. 

Durante o tratamento do câncer, os psicólogos trabalham junto à família para colocar a verdade na linguagem da criança. Os médicos também  recebem apoio psicológico, pois acabam ficando muito próximos das crianças durante o tratamento, que pode chegar a dois anos e meio em casos como a leucemia. 

A oncologia infantil não se limita à atuação médica, envolve uma equipe multidisciplinar, incluindo psicólogos, enfermeiros, professores, fonoaudiólogos, dentistas, terapeutas ocupacionais, entre outros. Cada profissional desempenha um papel essencial, sendo todos igualmente importantes no quebra-cabeça do tratamento. 

Além disso, a vida de toda a família passa por mudanças com a chegada da doença. O irmão da criança oncológica acaba sendo esquecido, então quando uma criança está em tratamento, é necessário tratar de sua família como um todo, entendendo a dinâmica de cada núcleo individualmente.

Tratamento especializado na Baixada Santista 

O tratamento complexo do câncer infantil revela a importância do pronto encaminhamento desses pacientes aos centros de referência em oncologia pediátrica. Porém, no litoral paulista ainda não existe este tipo de estrutura especializada, sendo necessário que crianças se desloquem com frequência para cidades como São Paulo. 

Jairo está envolvido no projeto de um hospital oncológico infantil em Praia Grande, que visa atender todas as crianças da Baixada Santista e Vale do Ribeira gratuitamente. A ideia é que o hospital seja uma parceria público-privada. 

“Essa região ainda carece de um tratamento especializado. A criança ainda tem que subir aqui para São Paulo para se tratar. Essa criança vem constantemente, não é uma consulta a cada três meses, são várias visitas semanais que as crianças têm que passar no ambulatório, têm que colher exames, têm que tomar quimioterapia, aí ela tem que tomar químio e depois ela acaba vomitando, tem que pegar o ônibus para descer para a baixada vomitando, é muito sofrimento. A criança,  tem que ser tratada no meio dela. Não tem sentido ela subir até São Paulo para tratar de uma doença”, delibera.  

O hospital ainda em fase de projetos tem como objetivo proporcionar conforto, cura e qualidade de vida para as crianças e suas famílias, enfatizando a humanização no atendimento médico. Praia Grande foi escolhida por sua área verde e localização central referente às cidades que o hospital deve atender. 

Rebeca Freitas

Rebeca Freitas

Formada pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp)

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