AGOSTO LARANJA

Esclerose Múltipla: entenda esta doença silenciosa e difícil de diagnosticar

Thalita Ferreira, jovem universitária diagnosticada com a doença, dá seu relato; EM acomete principalmente mulheres com idade entre 20 e 40 anos

Rebeca Freitas
Publicado em 30/08/2023, às 09h01

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A jovem universitária Thalita Ferreira foi diagnosticada com Esclerose Múltipla em 2023 - Rebeca Freitas
A jovem universitária Thalita Ferreira foi diagnosticada com Esclerose Múltipla em 2023 - Rebeca Freitas

Um estudo britânico publicado na The Lancet revela que os distúrbios autoimunes atualmente afetam cerca de um em cada dez indivíduos. A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença inflamatória e degenerativa do sistema nervoso central. De acordo com Flávio Sallem, Neurologista do Hospital Santa Cruz, uma doença autoimune é aquela em que o corpo lesa suas próprias estruturas, ataca suas células saudáveis.

Em 2006, o Brasil escolheu o dia 30 de agosto como o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla. A patologia crônica é caracterizada pela inflamação da mielina, membrana que envolve os neurônios, quando o sistema imunológico não reconhece a membrana como parte do organismo e a destrói.

Nesta condição, a comunicação entre o cérebro e o corpo é afetada  devido à dificuldade de transmissão do impulso nervoso no cérebro e na medula espinhal. “Normalmente, a esclerose múltipla se apresenta na forma de surto-remissão, ou seja, o paciente tem surtos que podem melhorar ou não com o tratamento. O surto é um quadro clínico, um déficit neurológico, que sugere a esclerose. O diagnóstico é feito através da observação deste surto associado a uma ressonância”, afirma o médico. 

Os sintomas que indicam a doença podem variar, a depender de quais e quantos nervos foram afetados. Há tratamentos que auxiliam na qualidade de vida do paciente, mas até o momento não existe cura. “O tratamento pode ser feito para tratar o surto ou a doença em si. O do surto é feito com corticóide em alta dose e pulsoterapia com metilprednisolona”, indica Sallem. 

O médico responsável pela neurologia do hospital em São Paulo completa dizendo que o tratamento da doença, por sua vez, é feito com medicamentos via oral, subcutânea e anticorpos endovenosos. “Existe uma multidão de medicações que podem ser usadas para diminuir a velocidade da doença e diminuir o número de surtos. Eles devem ser escolhidos de acordo com a experiência do médico, o tipo do paciente e o tipo da doença, pois existem modos mais leves e os mais graves, nos quais ocorre uma grande quantidade de surtos e uma alta incapacidade logo no início”, explica.

Ainda conforme o neurologista, a doença acomete principalmente mulheres com idade entre 20 e 40 anos. “Existem casos raros acima de 50 anos, em uma forma já progressiva sem surtos, mas estes são mais raros”, esclarece. As causas da esclerose múltipla são multifatoriais e atingem com maior frequência indivíduos que tenham predisposição genética e que sejam submetidos a determinados fatores ambientais, como deficiência de vitamina D e infecções virais na infância como aquelas envolvendo o vírus Epistein Baar.

Os sintomas são variados, mas os mais comuns são baixa visão, fraqueza nos membros, dormência ou formigamento no corpo, visão dupla, dificuldade para falar ou engolir, fadiga, incontinência urinária, desequilíbrio, problema de coordenação dos membros, tontura e perda de memória.

Uma vida normal com Esclerose Múltipla 

família posa para foto
Thalita Ferreira ao lado de sua família, que também aprendeu muito sobre a doença após seu diagnóstico (Foto: Arquivo pessoal / Thalita Ferreira)

Para a moradora de Bertioga Thalita Ferreira, de 20 anos, os sintomas da EM começaram com um formigamento no lado direito do rosto. Ela perdeu a sensibilidade na região e achou que o problema estivesse relacionado à pressão alta. “Os sintomas da esclerose são muito genéricos. Eu fui ao pronto socorro e o próprio médico não suspeitou que pudesse ser esclerose”, relata a jovem que cursa jornalismo, em Santos. 

O diagnóstico oficial foi dado alguns meses depois. A garota revela que sentiu um choque com as palavras da médica, mas após se inteirar melhor sobre a condição constatou que sua vida não sofreria grandes modificações. “Eu não tenho nada de diferente, de especial. Eu sou a mesma pessoa, mas que agora tem que fazer um tratamento para viver a vida normalmente”, conta Thalita, que tem se mostrado forte e otimista. 

“Não sinto nenhuma dor, a esclerose é uma doença extremamente silenciosa e com sintomas genéricos. Talvez na minha velhice eu sinta alguma dor, mas graças a Deus eu descobri cedo e estou fazendo tratamento, então agora é vida que segue normalmente”, complementa.

Ela relata que seu diagnóstico incluiu dois exames. O primeiro foi uma ressonância magnética. Quando o exame detecta ao menos 11 lesões no sistema nervoso, o diagnóstico de esclerose é efetivado. Como o número de lesões de Thalita ficou abaixo disto, ela passou por mais uma análise, a de líquor. “Este é um exame muito dolorido, no qual é retirado um líquido da coluna”, relembra a universitária.  

O exame do líquor confirmou a Esclerose de Thalita, que recebeu o apoio de sua família e do namorado. Após o diagnóstico, eles também passaram a conhecer muito mais sobre a doença. “Querendo ou não, essa é uma coisa que eu vou ter para o resto da minha vida, então quem está à minha volta tem que estar informado para saber lidar”, reconhece.  

Segundo a estudante, a doença causa alguns desconfortos, principalmente quando os surtos se manifestam. "Em maio de 2023 tive um surto nas mãos. A médica me passou remédios e eu tomei eles por um mês. Era uma coisa muito ruim, não sentia nada que minhas mãos tocavam, perdi a sensibilidade totalmente, perdi o tato. Apesar de ter feito tudo o que os médicos pediram, ter tomado os remédios certinho, eu continuei com o formigamento”, afirma a jovem. Segundo ela, este foi o auge do desespero que a doença lhe causou. 

Por conta deste sintoma, Thalita abriu mão de algumas atividades. “Parei de fazer algumas coisas por medo. Adoro dirigir, mas eu não posso pegar a estrada desse jeito. Eu não colocaria somente a minha vida em risco, mas também a de outras pessoas”, conta a moça que também optou por sair da empresa em que trabalhava para priorizar seu tratamento. 

“Tem alguns surtos que são mais graves. Até hoje só tive formigamento, mas pode ser que eu tenha um que eu perca o movimento da perna. Aí, eu tenho que ir para o hospital e falar que sou diagnosticada com esclerose e estou tendo um surto. Se eu não fizer isso, pode ser que eu perca o movimento das pernas para sempre. Se eu for para o hospital, eles me dão corticóide para cortar o surto e eu não ficar com sequelas. Depois disso, eu tenho que avisar a minha médica para ver quais serão os próximos passos”, exemplifica. 

Por fim, Thalita faz um alerta para que as pessoas não negligenciem o diagnóstico. “Se você tiver um sintoma e ele persistir por mais de 24h contínuas, procure um médico especialista. Pode ser que não seja nada, mas é melhor você ter um excesso de preocupação do que ficar com sequelas”, adverte.

Rebeca Freitas

Rebeca Freitas

Formada pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp)

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