Litoral sem bituca: projeto recolheu mais de 5 milhões de bitucas em 8 anos

Contribuir para a limpeza das praias e reduzir ao máximo a poluição que tanto afeta a fauna e a flora marinha. Um projeto implantado em Caraguatatuba, São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, tem ajudado a reduzir o número de bitucas de cigarro jogado nas praias. 

Tatiana Araújo é idealizadora do projeto e responsável pela Flow Sustentável, empresa que busca contribuir com o desenvolvimento sustentável e consciente. Ela conta que criou a Flow devido ao sentimento de indignação com o crescimento despreocupado de organizações do litoral norte. “Vendo um monte de lixo na praia, vendo que as áreas de Mata Atlântica não estavam sendo mais tão protegidas, um crescimento desordenado dos municípios;  eu sempre tive uma conexão muito forte com essa região, porque venho para cá desde criança”.

Estudos apontam que as bitucas, quando jogadas no mar, flutuam por três dias, antes de afundar. Além disso, duas pontas de cigarros são suficientes para contaminar um litro de água e apenas uma bituca concentra mais de sete mil substâncias nocivas, que vão desde a nicotina até metais pesados.

O projeto para recolhimento das bitucas começou após Tatiana participar de mutirões de limpeza nas praias e perceber a quantidade de pontas de cigarros que eram jogadas. “Isso me causou uma indignação enorme, porque eu comecei a ver que as pessoas estavam achando aquilo natural, de achar bitucas na areia da praia. Isso não é natural”. 

De forma manual, a empresária começou a fazer coletores de bituca,  para estimular os fumantes a colocarem as pontas nos locais corretos, e percebeu que o ciclo não se fechava, pois não havia quem coletasse. A partir daí, surgiu a parceria com a Poiato Recicla, que é  responsável por ceder o material de recolhimento das bitucas e fazer a reciclagem. “A empresa Poiato Recicla é a única empresa no Brasil que realiza a reciclagem de bitucas. O serviço inclui a caixa coletora,  a coleta mensal, o envio das bitucas para a usina de reciclagem de bitucas da Poiato Recicla, em Votorantim. As bitucas são transformadas numa massa celulósica,  usada para fazer papel artesanal”. 

A secretária-adjunta de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca de Caraguatatuba, Tatiana Scian, explica que, na cidade, o projeto surgiu por intermédio de uma proposta para destinar parte da verba do Fundo Municipal de Meio Ambiente, para a contratação de uma empresa especializada na instalação de coletores de bituca, além da coleta e destinação ambientalmente adequada. “A proposta inicial foi apresentada em junho de 2021, com aprovação unânime dos membros do Conselho Municipal do Meio Ambiente, para a instalação de nove bituqueiras, sendo três com cinzeiros de praias confeccionados com bambu, onde o banhista tem um lugar para descartar as cinzas e as bitucas, e seis são coletores de bitucas com depósito, instalados nos principais pontos turísticos visitados no município e com grande circulação de pessoas”.

Catarina Maria da Pena é moradora de Ribeirão Preto (SP) e conheceu o projeto em Caraguatatuba. “Eu achei genial. Chama a atenção da gente por ser de bambu. Eu gostei bastante e, com certeza, nós, fumantes, precisamos estar mais atentos à forma com que lidamos com as bitucas. Onde as jogamos. Mas, esse projeto tá de parabéns”. 

Após transformado em papel artesanal, o material é destinado à instituições sociais locais, que podem fazer outros produtos para geração de renda. Tatiana Araújo estima que, desde 2016, foram recolhidos, das caixas coletoras e dos totens com cinzeiros de praia, mais de cinco milhões de bitucas em todo o litoral norte. 

Em Caraguatatuba, atualmente, estão instaladas 16 caixas coletoras, três totens com cinzeiros e três pontos de entrega voluntária (PEV’s).