Recentemente, todos nós fomos surpreendidos pela notícia que percorreu o país sobre a criança recém-nascida encontrada em uma caçamba de lixo, na cidade de Praia Grande. Este fato causou grande comoção a nível nacional e, com este triste episódio devemos extrair lições, que infelizmente não é um caso isolado. Alguns dias atrás, em um encontro com o coordenador do curso de Psicologia de uma grande universidade da região, tratávamos de assuntos relativos ao meio ambiente agregando informações ao referido curso, o que causou curiosidade por parte de algumas pessoas buscando entender a relação existente entre a área ambiental e da Psicologia. Discutimos vários temas, entre eles, a visão que a sociedade moderna vivencia no seu cotidiano quando recebe uma carga de informações que a mantém acelerada durante a maior parte do dia, a formação dos valores individuais e dos comportamentos no conjunto social. Mencionamos como fomos induzidos a aceitar o inaceitável permitindo que vidas humanas sejam equiparadas a restos de lixo, quando crianças recém-nascidas vão parar nas caçambas. Como é possível deixarmos de enxergar as pessoas jogadas nas sarjetas ao relento da noite, as levando a miséria e ao pânico mental, a forma que nossa sociedade se mobiliza para destruir o próprio meio em que vive. Ou, como é possível ainda existir indivíduos que se divertem nos safáris clandestinos assim como, sujeitos que abandonam cães e gatos nas ruas da cidade dando vazão aos seus instintos animalescos equiparados aos períodos medievais onde, a crueldade e o sofrimento faziam parte daqueles povos, na qual se deliciavam em presenciar a mutilação dos homens e dos animais.
A falsa realidade global que nivela bens materiais, objetos, animais e relacionamentos em um mesmo patamar nos remete a ideia que, a qualquer momento podemos descartar, excluir ou deletar os mesmos porém, seus efeitos produzem um número cada vez maior de indivíduos distantes do mínimo aceito para o convívio social, geram-se conflitos emocionais e psicológicos, abrem-se feridas que levam pessoas ao colapso. O exemplo do caso ocorrido em Praia Grande nos mostra três faces distintas de vida que se encontram e agora estão totalmente transformadas: uma mulher com distúrbios de comportamento, uma criança vítima de um relacionamento casual, um catador de materiais recicláveis que torna-se herói demonstrando sua fraternidade mesmo vivendo em condições precárias. Lamentavelmente, o número estimado de crianças abortadas de forma induzida no Brasil aproxima-se de 1,5 milhões ao ano; abandonadas 8 milhões/ano; no mundo o número de abortos estima-se em 26 milhões/ano; e de crianças abandonadas 30 milhões/ano. A Psicologia Ambiental e a Ecologia Humana são temas recentes nos meios acadêmicos mas, antigos nos ensinamentos orientais que eram trabalhados com os discípulos que buscavam a iluminação espiritual. A natureza vista holisticamente e o ser humano integrante deste complexo sistema infinito ensina que, para se obter a felicidade devemos nos harmonizar com o fluxo natural de vida mantendo a sustentabilidade interior para refletir nas atitudes. Ao contrário, este estará fadado a manter-se nos calabouços escuros da sua existência fazendo parte do cenário de um mundo onde, existam pessoas e crianças abandonadas, a natureza morta e, com a extinção de espécies de vida.
(*) Eduardo Pichitelli faz parte da coordenação de Projetos SP/Baixada Santista da Ambiente Terra Brasil ( www.ambienteterrabrasil.com.br ).
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