[nggallery id=3]Oficializada a unidade de conservação municipal, que ainda não conta com uma categoria definida, o primeiro passo do Poder Executivo foi iniciar vistorias no lugar. A primeira delas ocorreu em 1º de fevereiro último. A expedição à ‘ilha fluvial’ contou com a presença de técnicos da Secretaria de Meio Ambiente de Bertioga – os biólogos Marcelo Borges e Mylene Lyra; a engenheira florestal, Maria de Carvalho Tereza; o diretor de Operações Ambientais, Bolívar Barbante; o engenheiro agrônomo, João Carlos Lopes; o engenheiro Rogério Amauri; o também engenheiro agrônomo, Edson Pupin, da agenda Verde da Cetesb, na Agência Cubatão (responsável também por Bertioga); e o senhor Roy Beck, além de nós, repórter e fotógrafo, do Costa Norte. E, logo de cara, os profissionais constataram que a área detém vegetação em estado secundário, ou seja, já passou por degradação a partir das mãos humanas. A boa notícia, porém, é que a mata já está em fase média de regeneração, o que representa uma recuperação sadia.
Rico ecossistema No caminho até à ilha diversos tipos de aves, como guaxe, tucanos de bico verde e o toco, pouco visto na região (pretos, com o peito branco e bico laranja, mais comum no bioma cerrado), além de saracura-três-potes, tié-sangue e martim-pescador, foram contemplados pela equipe. Embora não seja nativo, um bando de pássaros colhereiro-rosa (aqueles que têm bico similar a uma colher, daí o nome), também pode ser apreciado. Inclusive, de acordo com dados do Setor de Aves da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, a presença dessa espécie “é um indicador da boa qualidade ambiental, pois é muito sensível e não resiste à poluição e à contaminação do meio ambiente, principalmente da água”. O colhereiro habita mesmo ambientes aquáticos, como praias lamacentas e manguezais, e realiza migrações sazonais. Alimenta-se de peixes, insetos, camarões, moluscos e crustáceos. A presença de algumas substâncias nestes itens alimentares, chamadas carotenóides, é que dão uma coloração rosada ao pássaro, que se torna mais intensa na época reprodutiva. Mundialmente, a ave não está ameaçada de extinção, mas, conforme o Zoológico paulista encontra-se em perigo em localidades como o Pantanal e o Estado de Minas Gerais. Próxima à “ilha fluvial” fazia graça ainda as charmosas garças brancas e os típicos caranguejos uçá (conhecidos como ‘chama-maré’, em razão de se locomoverem dando a impressão de sinalizar com uma das patas), que constantemente se movimentam na lama do manguezal. De espécies vegetais, entre os dois rios (da Praia e o Itapanhaú) e o mangue pode-se ver volumosas formações de hibico (popular algodão de praia), coqueiros jerivá e ingás (da alta restinga). Árvores do tipo caixeta (indicativa de floresta paludosa) e coloridas bromélias são outras espécies facilmente encontradas. Em razão da vistoria técnica, os profissionais do Meio Ambiente de Bertioga ainda arriscam afirmar que mamíferos do tipo guaxinim, paca, veado, tatu e cachorro e gato-do-mato transitam pela área, já que a região é o habitat natural dessas espécies.
Lugar histórico Em uma das pontas da ilha encontra-se a casa-sede, uma piscina-escola com cerca de 4m x 4m, a casa de máquinas (gerador) e diversos pés de árvores exóticas, como jaca, maria mijona (espatodia), urucum, café e mangueira. À lateral direita estão resquícios da primeira construção do lugar: três degraus, onde o primeiro tem a inscrição datada de 1935. Aos fundos da sede, próximo a um linhão de energia elétrica existente (que já promete ser avaliada a sua retirada), há uma trilha aberta onde, no passado, segundo detalha o senhor Roy, foram plantados mais de 200 pés de bananeiras. Segundo ele, o fruto era enviado ao Porto de Santos. Ele também detalha que em meados de 1935, a então fazenda servia de passagem obrigatória para os moradores da histórica Vila de Itatinga. Enfim, depois de mais de 3h na ‘ilha fluvial’, foi encerrada a visita e veio o aval dos técnicos. Bolívar Barbante, diretor de Operações Ambientais do município, ressalta a possibilidade de a área servir também como soltura de animais, a partir de uma fiscalização permanente contra caçadores. Atualmente, Bertioga abriga duas áreas para este fim: uma localizada na Fazenda Acaraú e outra dentro do Condomínio Costa do Sol, em Guaratuba, onde se trabalha apenas com aves.
Aprovação total A bióloga Milene Lyra aprova a área para uso na educação ambiental destinada a estudantes e, quem sabe, visitantes de Bertioga. “Dá para criarmos uma sala temática, fazermos trilhas com identificação de espécies animais e vegetais, até implantar um sauveiro, destinado a formigas saúvas, para exemplificar o curioso modo de vida dessas espécies”, comenta. O engenheiro agrônomo Edson Pupin, da Cetesb - Agência Cubatão, é outro a falar bem. “O projeto da prefeitura de Bertioga é realmente muito bom. Vai ser uma continuidade da preservação de todo esse habitat”. A engenheira florestal Maria de Carvalho Tereza conhece a sede e vislumbra nela um amplo laboratório e centro de pesquisas [talvez destinado a abelhas sem ferrão]. Por fim, o biólogo Marcelo Borges atesta: “Dá para implantar todos os projetos pensados sim. Criar trilhas suspensas, por cima do mangue, visando à educação ambiental, o plantio e cultivo de orquídeas, o meliponário, tudo”. “Além disso, a área aqui também é uma fonte de pesquisa inesgotável”, sugere o especialista, ressaltando que amplas vistorias ainda deverão ser realizadas, em diferentes estações do ano.
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