Moradores de Itatinga contraem malária

Costa Norte
Publicado em 07/09/2012, às 04h17 - Atualizado em 23/08/2020, às 13h48

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Por Lúcia Bakos

Trabalhadores de área da Mata Atlântica da Usina Hidrelétrica de Itatinga, localizada ao “pé da serra” de Bertioga, estão infectados com o vírus da malária. A informação foi confirmada na tarde de quarta-feira (05), pela Codesp (Companhia Docas do Estado de SP) – que fornece energia ao Porto de Santos - e também pela prefeitura da cidade. No entanto, os dois órgãos asseguram existir apenas um caso detectado, enquanto moradores da área informam que já passam de 10 os contaminados pelo mosquito transmissor da doença, típica de países tropicais. Um deles, inclusive, seria residente da área litorânea de Bertioga. Distante a quase 09 km da rodovia Rio-Santos (SP-55), o acesso à Vila de Itatinga, por Bertioga, se dá a menos de cinco minutos de travessia por trecho do rio Itapanhaú, seguido de mais um trajeto de 07 km, realizado por bondinho.

No local fica a usina hidrelétrica que abastece o Porto de Santos

Nota da Codesp Por meio de nota, divulgada quarta-feira (05), a Codesp informou que as medidas necessárias para acompanhamento, prevenção e controle foram definidas por representantes do serviço epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde, responsável pelo controle da malária no Estado. “Caberá à Codesp o fornecimento, em caráter de urgência, de repelente para seus funcionários e familiares sediados em Itatinga, além do cancelamento das visitas turísticas realizadas na região aos finais de semana e feriados”, diz a nota. “Quanto a demais ações, como colocação de armadilhas para identificar o mosquito transmissor, coleta de amostra de sangue, análise laboratoriais e outras medidas ficam a cargo dos órgãos de Saúde do Estado e do município de Bertioga”, completa a nota da companhia.

Contatos Nesta quinta (06), a Codesp foi novamente consultada sobre esse suposto aumento de casos e reiterou que caberia aos órgãos da Saúde (municipal e estadual) informar a quantidade de pessoas infectadas pela malária. Por telefone, a Secretaria de Estado da Saúde, por sua vez, afirmou que a prefeitura de Bertioga é quem forneceria tais dados. Já a prefeitura do município ressaltou que um plano de ação está sendo executado em Itatinga e uma equipe médica está na área para todas as atitudes necessárias. A previsão é que na próxima terça-feira (11), a Secretaria Municipal da Saúde se pronuncie sobre o assunto.

Exame médico de prestador de serviços confirma a detecção da malária, tipo vivax

Sob controle Ainda na nota da Codesp, consta que o representante do Centro de Vigilância Epidemiológica da Baixada Santista, o médico Vander Jacson, afirmou tratar-se de foco não sustentável, sob controle, sem motivo para alarme e que deverá estar sanado dentro de algumas semanas, com as medidas adotadas.

Primeiro O primeiro trabalhador infectado, conforme informou a prefeitura de Bertioga, na quarta (05), é morador de Cubatão. Ele adquiriu o tipo mais leve da malária, a vivax, típica de área da Mata Atlântica, por isso, não estaria internado.

Outros Um outro trabalhador da Codesp, que preferiu não se identificar, contou à reportagem do JCN (Jornal Costa Norte) que esse funcionário é fiscal da companhia e teria contraído a doença enquanto trabalhava em obra de recuperação do canal da represa de Itatinga, próximo à Câmara D’água, localizada em área de mata, na divisa com o município de Mogi das Cruzes. “Ele fiscaliza as obras da terceirizada, mas é funcionário da Codesp. No canal da represa estão fazendo uma manutenção porque houve um vazamento. A malária foi detectada semana passada, mas ele já está recuperado. Volta segunda-feira [dia 10] para o trabalho”, contou. Junto com este funcionário residente em Cubatão trabalhariam outros 20, de empresa terceirizada.

Da usina Ainda de acordo com o trabalhador da Codesp, um funcionário que trabalha dentro da Usina Hidrelétrica de Itatinga também teve o diagnóstico confirmado. “Ontem [dia 05], um funcionário foi constatado estar com malária. Ele é operador de usina, dentro de Itatinga. São nove funcionários infectados, com os sintomas. Mas a Codesp esteve no Itatinga, com a saúde pública, e deram vacina e fizeram exames, na semana passada”. Por fim, o trabalhador da Codesp afirmou que os moradores de Itatinga não estão assustados com a situação. “Os funcionários da Saúde disseram que é só um vírus e dá para combater e controlar”.

Prestador de serviços Um prestador de serviços de Itatinga também informou ter contraído a malária, do tipo vivax. A doença, segundo consta no exame médico realizado no Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, foi detectada segunda-feira (03). Durante esta quinta (06), ele informou que junto com outros trabalhadores esteve em Itatinga para receber medicamentos gratuitos, disponibilizados pelo município e pelo Estado. “Dos 87 exames realizados, 11 foram positivos. Eu fui um dos premiados, com a malária. Mas não estou sentido nenhum sintoma da doença”, afirmou. O prestador de serviços disse ser residente da área litorânea de Bertioga.

Fechada Diante da situação, neste feriado da Independência (07), a Vila de Itatinga não estará aberta para visitações públicas, como tradicionalmente ocorre todos os anos. Na data, de comemoração de aniversário do Itatinga Futebol Clube (07), os times de futebol de Bertioga costumam participar de jogos amistosos na área de preservação ambiental. Exceto essa data, visitações em Itatinga somente são permitidas por meio de autorização da Codesp ou por visitas turísticas, via empresas da região, em especial de Bertioga, Guarujá e Santos. A previsão da Codesp é que a área fique isolada por quatro semanas, até o que problema seja solucionado.

Itatinga já teve epidemia da doença Na edição nº 100 da revista mensal Beach&Co., do Sistema Costa Norte de Comunicação, publicada em outubro de 2010, foi divulgada toda a história de Itatinga, de sua construção, a engenharia e o funcionamento da usina hidrelétrica que, na ocasião, completou um século.É descrito na revista que conforme consta no livro ‘Docas de Santos: Uma Empresa Através dos Séculos’, de autoria de Hélio Kaltman, editora Agir, em 1905, as obras da usina chegaram a ficar praticamente paralisadas por conta de uma epidemia de malária que vitimou a maioria dos operários, mal que atingia o Brasil inteiro naquele período. Diante da tragédia, Cândido Gaffrée recorreu ao médico sanitarista Osvaldo Cruz (que coordenou a vacinação contra a febre amarela e varíola, no Rio de Janeiro, e o surto de peste bubônica, em Santos), para que lhe indicasse alguém capaz de resolver o problema o mais rápido possível. O escolhido foi o jovem médico sanitarista Carlos Chagas, do Instituto de Manguinhos, no Rio de Janeiro, especializado em doenças tropicais, e entusiasta do trabalho de campo. Em menos de três meses, ele praticamente eliminou o surto de malária. Ao observar o comportamento do mosquito portador da doença, percebeu que ele, depois de alimentar-se, adquiria peso que o incapacitava de voar mais alto do que as janelas ou os móveis da casa, onde iniciava o processo de digestão do sangue sugado. Com base nessa constatação, Chagas resolveu desinfetar os alojamentos de operários e as residências de Itatinga, depois de calafetá-los. Utilizou na desinfecção a queima de píretro, um inseticida proveniente da erva cespitosa (Tanacetum Cinerariifolium), que eliminava o mosquito. Seu método acabou por revolucionar mundialmente o combate à doença. Mas, só muitos anos depois de concluído o trabalho do médico na usina é que o Congresso Internacional de Malariologia, realizado em 1923, em Roma, reconheceu a importância da descoberta desse método.  

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