Por Mayumi Kitamura
Moradora da área de mangue do Jardim Vicente de Carvalho há quase 20 anos, Marta José Francisco está apreensiva com a falta de informações e a demora em ser contemplada com uma das casas do programa Minha Casa Minha Vida, da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do estado de São Paulo (CDHU). A idosa mora sozinha em uma casa com móveis sustentados com pedaços de madeira e entulhos de construção, isso porque, dependendo da cheia da maré, sua casa é invadida com a água do mangue e do esgoto não tratado. A paranaense sobrevive na cidade por meio da renda obtida com seus trabalhos de costura, crochê e sabão caseiro. Ela conta que, se tivesse condições, procuraria outro lugar para morar, mas, devido sua renda, depende do programa de habitação popular, por isso questiona a empresa. “Quando chego na CDHU, as meninas falam que não sabem, que não têm previsão para quando. A maioria [da próxima liberação de moradias] vai ser para essas famílias que pagam aluguel, onde vão abrir rua, mas tem casas aí que não vão abrir rua e já estão morando nas casinhas, gente que não precisa. Enquanto isso nós estamos no mangue. Aqui, as crianças e idosos têm que conviver com ratos e cobras”. Conforme divulgado anteriormente pela CDHU, a prioridade do projeto das moradias do programa Minha Casa Minha Vida, no Jardim Vicente de Carvalho, é para famílias habitantes de áreas de risco, como mangue, ou que moram em local demolido para a construção do empreendimento. Enquanto isso, na rua 1, Marta pede um posicionamento sobre a sua situação – e de outros moradores da área: “Eu estou sofrendo aqui, e eu moro sozinha; o que eu quero é uma solução e sair daqui, seja para onde for, porque eu não tenho condições”. Procurada pela reportagem, a CDHU informou, via e-mail, que “o projeto é realizado por etapas e envolvem a remoção e o reassentamento de famílias residentes em áreas de mangues e frentes de obras. A CDHU não utiliza o sistema de lista de espera. As famílias são transferidas gradativamente para as novas moradias conforme a execução e as necessidades de cada fase”. Ainda neste mês, conforme informado, deverão ser entregues 40 casas. A dona Marta, no entanto, deve ser incluída na próxima fase, com 106 unidades previstas para 2015. O projeto das unidades habitacionais do Jardim Vicente de Carvalho executado pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), é um dos maiores da Baixada Santista. O investimento, de aproximadamente R$ 69 milhões, está sendo realizado com verba do governo federal, por meio do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O projeto de urbanização prevê, entre outros serviços, a construção de 400 unidades habitacionais, a reforma de outras 172, drenagem, pavimentação, ligação de água, estação elevatória de esgoto, além da implantação de infraestrutura e urbanismo para 1.253 unidades habitacionais. Desde dezembro do ano passado, foram entregues 108 casas.
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