“A desigualdade social reflete na desigualdade ambiental”. Com esta afirmação do médico patologista da Escola de Medicina da USP, Paulo Saldiva, teve início, nesta quinta-feira (05), o ‘Ciclo de Debates Nós e a Cidade’, promovido pelo Sesc-Bertioga. O evento objetiva contribuir com informações na construção do novo PD (Plano Diretor) do município.
No 1º debate, com o tema ‘Cidades e Saúde’, os espectadores puderam conhecer o estudo desenvolvido pela USP, que relaciona crescimento urbano com a qualidade da saúde de seus habitantes. “A cidade não pode ser uma mancha negra no centro de um ecossistema verde que a gente sonha. As cidades também são ecossistemas habitados por um bicho, um bípede, que é alvo de estudo dos médicos e profissionais de Saúde. Em São Paulo morrem quatro mil pessoas por ano, em consequência da poluição do ar. Isso é mais que Aids e Tuberculose somados. A gente planeja a cidade e a qualidade da nossa saúde não é levada em conta. É preciso fundar a sociedade protetora do homem”, declarou o médico, que comanda um laboratório na USP, onde são pesquisadas as consequências de problemas ambientais como ruído, poluição, ilhas de calor, a violência e enchentes.
Relação direta
Sobre o novo PD bertioguense, o médico afirmou que existe uma relação direta entre o planejamento e o crescimento da cidade, com quanto ela vai gastar em longo prazo na saúde dos moradores. “O homem é o elo fraco da questão ambiental, ou seja, as leis para cuidar de regiões remotas são mais rígidas que aquelas que regem o espaço urbano. Para fazer o rodoanel foram 8 anos de estudos. Para construir um viaduto dentro da cidade este tipo de estudo detalhado não é feito. E isto custa dinheiro público em saúde. O gestor precisa saber que do dinheiro que a cidade vai ganhar a partir de uma suposta mudança no Plano Diretor tem que ser descontado o que ele vai gastar a longo prazo com saúde. Esta gestão ecossistêmica evita a repetição dos mesmos erros das grandes cidades brasileiras”, ensinou.
Desigualdade ambiental
Ainda segundo o especialista, a falta de planejamento adequado no crescimento das cidades gera desigualdade ambiental: “Quanto mais pobre, quanto mais periferia, mais este morador paga a conta ambiental. O buraco na rua tem mais visibilidade que um buraco na calçada onde andam as pessoas, porém, a maior incidência de acidentes de tráfego em São Paulo é queda da própria altura em calçada esburacada. É o que eu chamo de racismo ambiental”.
Todos os próximos debates sobre o assunto serão mediados pelo jornalista Dal Marcondes, do portal de notícias ambientais Envolverde. No próximo dia 12, o tema a ser discutido, também no Sesc-Bertioga, será ‘Moradia’, a cargo do arquiteto e urbanista da UFMG (Universidade de Minas Gerais) Roberto Monte-Mór. O evento é aberto ao público em geral.
Comentários