Raia, ameaçada de extinção, especialistas alertam para a importância de regulamentações para conservação das espécies
Muitas pessoas acreditam que tubarões, golfinhos e baleias são “parentes” pela similaridade do formato do corpo, o que muitos não sabem é que os tubarões e as raias pertencem ao mesmo grupo, os chamados elasmobrânquios e que são muito diferentes dos golfinhos e baleias.
Raias ou arraias e tubarões são peixes cartilaginosos e possuem grande importância para o meio ambiente e para a manutenção da biodiversidade marinha e aquática como um todo.
No mundo todo existem descritas cerca de 550 espécies de raia. Somente no Brasil, estão atualmente descritas 54 espécies, apenas de raias marinhas.
Apesar da diversidade, estima-se que o grupo dos elasmobrânquios corresponde aos animais mais ameaçados de extinção. Sua crítica situação está relacionada a perda de habitat, poluição e principalmente a exploração dos mares e a pesca de forma desenfreada e insustentável.
Complicando ainda mais a situação, diversas espécies de raias são migratórias e não existem abundantes pesquisas que monitoram as populações e seu necessário manejo.
Outro fator que dificulta a conservação das espécies é que a maioria delas apresenta crescimento lento e maturidade sexual tardia, o que pode fazer com que os animais fiquem ainda mais ameaçados pela possibilidade de extinção.
A carne de arraia é consumida em diversos locais do Brasil e do mundo, no entanto, o Ibama proíbe que diversas espécies como a raia-viola, raia-elétrica e raia-banjo sejam comercializadas. Apesar disso, diversas vezes o animal é exposto em pedaços o que dificulta a identificação das espécies nos locais em que são vendidos. Segundo pesquisadoras (res) e especialistas o mesmo acontece com o cação que é comercializado sem que haja a certeza de que não são espécies ameaçadas de extinção.
Raias são capturadas na pesca em quase todas as modalidades, tanto na escala industrial quanto na artesanal. O problema é que ocorre, no Brasil e principalmente nas cidades litorâneas como Santos e Guarujá, o desembarque de raias que não possuem a identificação da espécie e a carne pode estar sendo utilizada em restaurantes e vendida para a população. Isso se deve muitas vezes à desinformação da população acerca da importância das raias e dos demais elasmobrânquios.
De modo geral, as raias possuem corpo achatado, nadadeiras peitorais fundidas à cabeça formando um contorno único e fendas branquiais localizadas na parte ventral anterior do corpo. São peixes que podem variar de tamanho, como a espécie de raia manta gigante encontrada na orla de Ilha Comprida (SP) no mês de abril de 2022, que pode chegar a 5 metros ou podemos encontrar espécies que podem chegar a apenas 25 cm como a arraia cururu, animal de água doce. Raias possuem olhos bem desenvolvidos que ajudam na fuga, captura e reprodução. Porém, não enxergam cores.
Os termos raia ou arraia podem ser usados para se referir a esses peixes do grupo dos elasmobrânquios. Ambos os termos estão corretos e de utilização popular e são usados também em artigos científicos, revistas e por órgãos ambientais de proteção e estudo.
Raias e outros peixes não menstruam, a menstruação está relacionada a capacidade de alguns grupos de animais de prepararem o corpo das fêmeas para a chegada de um embrião. Os peixes possuem outras estratégias evolutivas e não possuem a menstruação como uma delas.
Raias podem ser encontradas em diversas partes do mundo. A maioria das espécies vive associada ao substrato marinho ou de água doce. No Brasil, as raias são encontradas em diversos ecossistemas com rios que apresentam alta biodiversidade. São animais que podem servir de alimento para peixes maiores e mamíferos dependendo do tamanho.
Raias possuem sistemas eficientes de defesa e ficaram famosas por causarem acidentes com pessoas famosas e banhistas por todo o mundo. As principais feridas são causadas pelo ferrão da arraia que pode conter bactérias e veneno para capturar alimento. Ao contrário do que se pensa, raias não atacam sem que se sintam ameaçadas, como diversos outros animais, o gasto energético para ferir alguém não seria utilizado caso o animal não sentisse a necessidade.
O grupo dos elasmobrânquios apresenta no imaginário popular diversas crenças que os relacionam a vilões e a perigos. Apesar disso, artigos científicos dizem que os animais parecem estar sofrendo muito mais com os seres humanos e o sistema de exploração atual.
Estima-se que cerca de cem milhões de tubarões são mortos todo ano. Espera-se que com o aumento das pesquisas e com a divulgação científica estes animais possam sobreviver em harmonia com os seres humanos novamente.
Por Camila Issagawa, bióloga especializada em biologia marinha e gerenciamento costeiro pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e colaboradora do Portal Costa Norte
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