Jararaca, pesquisas desvendam serpente peçonhenta que mais ataca no país
A palavra jararaca vem do tupi, união entre as palavras “yarará” e “ca” que significam respectivamente “cobra grande”. Tais serpentes podem atingir pouco mais de 1,5 metros de comprimento e são elas as responsáveis por mais de 80% dos acidentes que ocorrem com cobras peçonhentas no país. De gênero bothrops, já foram descobertas cerca de 47 espécies, sendo quase 20 delas apenas no Brasil.
Esta cobra venenosa é também a maior responsável pelo número de visitas ao Instituto Butantan no estado de São Paulo sendo a responsável por cerca de 90% dos ataques. Em comparação, a cobra-coral-verdadeira (a mais venenosa do Brasil) representa cerca de 0,1% dos ataques de serpentes no Brasil.
Dependendo da espécie, as jararacas podem viver de 10 a 12 anos. Animais de hábito noturno, elas se alimentam de sapos e pequenos roedores e vivem preferencialmente em áreas úmidas, nas partes mais fechadas das matas e beiras dos rios, sendo a Bothrops jararaca uma das espécies mais encontradas na Mata Atlântica.
Jararaca-verdadeira, jararaca-dormideira e jararacuçu são outras espécies do mesmo gênero e muito conhecidas pelo país. Suas principais distinções referem-se a diferenças na distribuição e no padrão de cores. As jararacas possuem o corpo cheio de escamas coloridas, manchas triangulares e faixas horizontais em diferentes tons de marrom, amarelo e preto. Quando filhote, o pequeno animal pode possuir em abundância apenas a coloração amarela.
Apesar de serem consideradas assustadoras para diversas pessoas, as serpentes são importantes ecologicamente por realizarem controle biológico de roedores e sapos e também por servirem de alimento para mamíferos de médio e pequeno porte como cachorros-do-mato, gambás e também para as aves de rapina. Portanto, a diminuição no número de jararacas pode influenciar negativamente no equilíbrio das teias alimentares existentes em locais tão biodiversos como a Mata Atlântica.
Pesquisas científicas que demonstram a importância das serpentes são feitas em universidades em todo o país, como o Instituto Butantan na USP e laboratórios da UNESP. Muitas explicam e evidenciam a importância das análises sobre os venenos das serpentes que auxiliam nas descobertas de tratamentos de diversas doenças como por exemplo, o câncer.
Em uma das pesquisas científicas foi descoberto que os acidentes com jararacas acontecem com maior incidência nos meses quentes, o que pode estar relacionado às férias e ao aumento do número de pessoas nas trilhas e nos litorais paulistas nos meses de maior atividade das serpentes. As picadas de jararaca podem deixar o local apresentando dor, inchaço com sangramento e manchas arroxeadas. Sem atendimento, há risco de hemorragia grave com possibilidade de amputação do membro e morte.
As recomendações de torniquetes e cortes ou furos no local da picada para retirada ou imobilização do veneno, comuns no passado, se tornaram incorretas e antigas. Com o avanço das pesquisas as orientações mudaram e estão mais atuais ajudando a salvar vidas. As orientações incluem lavar o local da picada apenas com água e sabão e chamar socorro de imediato ou caso necessário levar o acidentado ao atendimento médico o mais rapidamente possível.
Como o tempo para que o veneno comece a fazer efeito e o tempo para que este saia do corpo vai depender da quantidade de veneno inserida, do corpo do ser humano e da aplicação do soro antiofídico é recomendado manter o paciente deitado e hidratado e se possível levar a serpente para auxiliar na identificação e aplicação do soro antiofídico correto.
Para escapar da picada e evitar que estes animais entrem em contato com as cidades e áreas mais urbanas, o número de roedores dos locais precisa ser controlado. Assim, mantendo organizadas os resíduos sólidos e lixos como entulho e lixo orgânico, possivelmente o número de predadores para a jararaca não irá aumentar.
Além disso, as recomendações incluem utilizar sapatos fechados e de cano alto em trilhas e locais com áreas de mata e nas beiras dos rios. Não colocar as mãos sem proteção em buracos na terra, tocas, cupinzeiros ou locais com folhas secas e caso encontradas as jararacas não forçar para que saiam de seus esconderijos.
Ademais, contar com a ajuda de guias e monitores ambientais que saberão o melhor local para caminhada, horário e primeiros socorros caso necessário fará com que as trilhas e caminhadas sejam sempre mais seguras, pois além de especialistas em conservação da natureza, muitas vezes as (os) guias utilizam conhecimentos tradicionais para evitar o contato com tais serpentes.
Por Camila Issagawa, bióloga especializada em biologia marinha e gerenciamento costeiro pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e colaboradora do Portal Costa Norte.
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