PESCA ARTESANAL

Estudo da FAO no Brasil revela dados ocultos da pesca artesanal no país

Trabalho lançado nesta quinta-feira, 6, foi coordenado pelo Instituto Maramar, de Santos

Da Redação
Publicado em 06/08/2020, às 10h48 - Atualizado em 24/08/2020, às 00h37

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Fabrício Gandini/Instituto Maramar
Fabrício Gandini/Instituto Maramar

Cerca de 110 milhões de trabalhadores em todo o mundo estão envolvidos com a pesca de pequena escala. No Brasil, ao menos 1 milhão de pessoas estão ligadas diretamente à pesca artesanal e a estimativa é que elas sejam responsáveis por pelo menos 60% da produção de pescado do país. No entanto, muito dessa realidade ainda não é conhecida.

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Para tentar revelar dados considerados ocultos sobre a pesca em pequena escala em território nacional, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ONU) apoiou a realização do estudo Iluminando as Capturas Ocultas – ICO/A pesca Artesanal costeira no Brasil, cujo lançamento ocorre nesta quinta-feira, 6.

O trabalho, coordenado pelo Instituto Maramar, de Santos, alerta para a ausência de estatísticas da realidade pesqueira no país e urge para a necessidade de ampliação e fortalecimento das iniciativas de automonitoramento e organização de bases comunitárias, que buscam, de forma independente, fazer frente à ausência dos Estados costeiros na aquisição e sistematização destes dados. O documento também traz dados como produção estimada de pescado na área estudada, número de espécies pescadas e identificação dos principais fatores de pressão na atividade da pesca em pequena escala.

Desde 2008, o Brasil não possui estatísticas pesqueiras oficiais, situação que colabora para agravar a vulnerabilidade dos pescadores artesanais. O trabalho foi feito pelo Maramar para a Gestão Responsável dos Ambientes Costeiros e Marinhos, com a parceria da Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos Extrativistas Costeiros Marinhos (Confrem), e contou com o esforço conjunto dos pesquisadores Sérgio Mattos, engenheiro de pesca especialista em Gestão e Avaliação de Estoques Pesqueiros Marinhos e membro da Teia de Redes de Apoio à Pesca Artesanal no Brasil - TeiaPesca, John Maciej Wojciechowski, consultor de arranjos produtivos locais e pesca artesanal da World Fisheries Trust, e Fabrício Gandini, oceanógrafo e diretor do Instituto Maramar, também membro da TeiaPesca.

No nível global, a FAO/ONU contou com a parceria da WorldFish e da Universidade de Duke para a coordenação do projeto. 

Metodologia e resultados

O levantamento de dados no Brasil foi realizado durante o ano de 2019, a partir de uma ação em rede que contou com a participação de universidades, associações e entidades não-governamentais. No total, 164 instituições foram contatadas e o esforço de coleta de dados abrangeu todo o território nacional, totalizando 22 territórios em doze dos dezessete estados costeiros do Brasil. 

Os resultados mostram que o Brasil possui cerca de 650 Unidades de Pesca (polígonos geográficos envolvendo área marinha e delimitação da pesca artesanal) somente nos estuários, lagoas e baías da costa brasileira estudada. Destas, 73% são voltadas para a pesca de peixes, seguida pela coleta de crustáceos (19%) e pela coleta de moluscos (8%).  Nos cinco anos estudados (2013 a 2017), a produção de pescado calculada nos estuários, lagoas e baías foi próxima de 560 mil toneladas, sendo que 98 grupos de espécies pescadas foram identificados. Perda de habitat, pesca ilegal e conflito com a pesca industrial são os três principais problemas enfrentados pelos pescadores artesanais do Brasil, segundo o levantamento.

Os resultados parciais mundiais - incluindo os dados do estudo conduzido no Brasil - foram lançados pela FAO em suas plataformas digitais no mês de julho.

“Nessa rica oportunidade de aprender sobre a pesca artesanal, destaco o impressionante engajamento dos movimentos sociais em apoio à pesca artesanal. Embora pessoalmente difícil a participação individual, representações e organizações formais estão se fortalecendo na construção dos arranjos de pesca que mais atendam necessidades básicas, agreguem conhecimentos históricos e proporcionem direitos adequados ao gerenciamento da atividade pesqueira”, destaca o pesquisador Sérgio Mattos.

Recomendações

Apesar do grande esforço institucional de se estabelecer redes de colaboração previstas no projeto ICO/FAO, os autores do estudo constataram a necessidade de uma plataforma de conhecimento da pesca artesanal gerada a partir de um Protocolo Único de dados, reconhecendo as iniciativas independentes de automonitoramento, mas também avaliando dados originados na Academia e em estudos pontuais de pesca produzidos por exigência legal em processos de licenciamento ambiental de portos, petróleo e gás, da indústria eólica ou do turismo.

Além disso, os autores recomendam a adoção de protocolos de base local nas várias comunidades pesqueiras espalhadas pelo país, para que estas informações sejam organizadas e possam, paulatinamente, ir preenchendo os vazios de informação procurados pela Plataforma da FAO. 

“Toda essa informação pesqueira represada tem valor histórico para o setor, porém, o mais necessário é a adoção de protocolos de base local nas centenas de praias do país, para sua visibilidade e consequentemente tomada de decisão em defesa desses territórios pesqueiros”, afirma o oceanógrafo Fabrício Gandini.

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