O fascinante emaranhado das águas de Bertioga

Abundante em água doce, Bertioga figura como potência hídrica no mapa da Bacia Hidrográfica da Baixada Santista e tem em seus rios, fonte de vida, beleza e lazer

Eleni Nogueira
Publicado em 18/05/2020, às 11h05 - Atualizado em 26/08/2020, às 22h15

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Foto Nativa
Foto Nativa

Os principais rios de Bertioga, em extensão e volume de água, são Itapanhaú, Itaguaré e Guaratuba, que, somados, resultam em uma das principais bacias hidrográficas da Baixada Santista, com 475,5km². Para formá-los, há um grande conjunto de outros rios menores, alguns nem tanto, como Itatinga e Jaguareguava, além de diversos córregos, riachos e ribeirões, que se espalham entre os ecossistemas da Mata Atlântica, como manguezal e restinga. Um fascinante emaranhado de imensa importância ambiental, social e econômica.

Paulo Groke, diretor de sustentabilidade do Instituto Ecofuturo, ressalta que a preservação dos rios é de fundamental importância para o equilíbrio de ambientes como o mangue e a restinga do município de Bertioga.

A dinâmica da floresta e dos recursos hídricos está diretamente interligada: um depende do outro e a conservação de ambos é necessária. Groke explica que a cobertura florestal nas margens dos rios atua como uma camada de proteção e, assim como uma esponja, absorve a força das grandes chuvas e evita, por exemplo, que a água chegue barrenta aos cursos d’água, já que retém os sedimentos que iriam diretamente para o rio, além de reduzir a ocorrência de erosões no solo. A cobertura vegetal permite ainda que a água das chuvas se infiltre no solo, promovendo a recarga dos lençóis freáticos.

A bióloga e educadora ambiental Mylene Lyra destaca a importância socioeconômica dos rios do município: “Existe o comércio de espécies que dependem desses rios para completarem seu ciclo de vida, como o caranguejo e a tainha, que são tradicionalmente pescados há gerações. Além disso, outro ponto forte da cidade é o ecoturismo que também depende dos rios para a sua prática”.

Sidney Felix Caetano, secretário Executivo do Comitê das Bacias Hidrográficas da Baixada Santista (CBH-BS), reforça a relevância de Bertioga no mapa hídrico da região:  “Bertioga é um importante produtor de água para a nossa bacia e os rios da cidade são preservados em decorrência da conservação da Mata Atlântica no município”.  Ele pontua, ainda, a necessidade da comunidade  ter conhecimento dos rios existentes, para preservá-los: “O gerenciamento é feito pelos próprios cidadãos”.  

Conheça os principais rios de Bertioga. Abaixo, um raio x de cada um deles, cada qual com suas peculiaridades: 

RIO ITATINGA

Imagem acervo site

Com nascente em Mogi das Cruzes, no distrito de Taiaçupeba, o rio Itatinga é um patrimônio hídrico da região bem protegido. Um dos formadores do rio Itapanhaú o Itatinga possui oito afluentes contribuintes e sua bacia está inserida no Parque das Neblinas, reserva gerida pelo Instituto Ecofuturo, organização mantida pela Suzano Papel e Celulose, situado nos municípios de Mogi das Cruzes e Bertioga.

Dos 24 quilômetros percorridos pelo rio Itatinga, desde a Serra do Mar até desaguar no rio Itapanhaú, em Bertioga, 14 cortam o Parque das Neblinas, que protege ainda 449 nascentes, o equivalente a cerca de 50% de sua bacia.

Além de sua relevância ambiental, o rio desempenha importante papel para a economia do país, pois suas águas movem a histórica Usina Hidrelétrica da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que fornece energia para o porto de Santos, o maior complexo portuário da América Latina.

De acordo com a Codesp, a vazão de água do rio é sazonal. Entre os anos de 2016 e 2019, foi registrada a máxima de 14,18 m³/s e a mínima de 2,80 m³/s. A usina, demanda uma vazão mínima de 3,2m³/s. A água é potável, com ph de 6,9.

O modelo de captação de água utilizado pela Codesp, para suprir a necessidade de seus geradores de energia elétrica, é o fio d´água. O desvio de parte da água do Itatinga segue por gravidade. Após passagem pelos geradores, a água retorna para o rio Itatinga.

A Usina Hidrelétrica de Itatinga, com sua vila histórica, é um patrimônio regional, inaugurado em outubro de 1910 e atuante por mais de um século. Mas, de acordo com a Codesp, sua viabilidade econômica está sendo estudada e a conclusão será divulgada “oportunamente”.

Lambarizinho especial

De acordo com o Instituto Ecofuturo, o rio Itatinga é também um dos últimos habitats do Coptobrycon bilineatus (conhecido como lambarizinho ou piabinha), espécie de peixe classificada como vulnerável (VU) à extinção, e que não era coletada desde 1910. Nas suas águas cristalinas vivem ainda outras 15 espécies de peixes. 

RIO JAGUAREGUAVA

Imagem acervo site

Tesouro do ecoturismo de Bertioga, o rio Jaguareguava nasce na Serra do Mar,  na área continental de Santos, e deságua no rio Itapanhaú, após percorrer 5km entre vegetação de restinga e Mata Atlântica. O rio apresenta um lindo cenário. As águas são tranquilas, transparentes e, à medida que avança para dentro da serra, é possível enxergar o fundo de areia, com muitas pedrinhas, a mais de um metro de profundidade. Os trechos mais rasos formam pequenas praias sombreadas e em alguns pontos de sua margem há argila. Muito apreciado por adeptos de canoagem - são 3km navegáveis -, pode ser percorrido por canoas, caiaques e pranchas de stand up. Agências de turismo da cidade operam o roteiro e oferecem opções variadas.

Opções para passeio pelo rio

Via Eco Turismo: facebook.com/ViaEcoBertioga; viaecobertioga.com.br; celular/WhatsApp: (13) 99757 9227;

Buriquioca Ecoturismo e Educação Ambiental: facebook.com/ViaEcoBertioga; viaecobertioga.com.br; celular/WhatsApp: (13) 99757 9227;

Terra Brasilis Trip: facebook.com/brasilistrip; celular/WhatsApp: (13)99692 6762;

OndaBGF: ondabgf.com.br;  celular/WhatsApp: (11) 94702 0906;

Raízes Aventura: facebook.com/raizesaventura; raizesaventura.com.br; celular/WhatsApp: (13) 98101 2807.

RIO ITAPANHAÚ

Imagem acervo site

Maior rio do litoral paulista, o Itapanhaú nasce no município de Biritiba Mirim, na Serra do Mar e percorre 40km até desaguar no Canal de Bertioga, que tem ligação com o Oceano Atlântico.  Ele é formado por cinco afluentes: os rios Sertãozinho e Guacá, no alto da serra e, mais abaixo, Itatinga e Jaguareguava.

Mas, ao longo de seu percurso, ainda recebe água de oito contribuintes.  Os maiores são rio Banana e córrego Guaxinduva, e os menores: rio João Pereira, rio da Praia (rio de drenagem), ribeirão Carambiú, ribeirão das Furnas, córrego Pelaes ou Fazenda e córrego Canhambura.  Toda essa carga de água forma uma bacia com uma drenagem de 261,5km².

Em Bertioga, o Itapanhaú tem uma vazão média de 20 mil litros de água por segundo. Com tamanha abundância de água de boa qualidade, de acordo com monitoramento da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), o rio foi escolhido para atender à crise hídrica de 2015 no estado de São Paulo, quando a Sabesp elaborou um projeto de captação de água do rio, no efluente Sertãzinho, para enviar para a represa Biritiba Mirim, pertencente ao Sistema Alto Tietê (Spat).

O projeto gerou polêmica, protestos e ações contrárias , que temem um possível aumento da salinidade no mangue. Outra preocupação é a previsão de uma futura elevação do nível do mar, que pode resultar em aumento da intrusão da cunha salina nos sistemas fluviais, tema que também chama a atenção do Comitê das Bacias Hidrográficas da Baixada Santista (CBH-BS).

O órgão, inclusive, contratou um estudo para avaliar o efeito da intrusão salina nos principais mananciais da região, em virtude de dados de estudos divulgados por pesquisadores do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), que apontam para um cenário de elevação do nível médio do mar na região da UGRHi-7 de 18cm até 2050.

Em janeiro deste ano, a Cetesb concedeu  uma licença para a Sabesp referente à primeira fase do cronograma de obras (1° fase - Canteiro de obras). De acordo com o publicado no Diário Oficial do Estado, a validade é de seis anos, a partir da data de sua emissão.

Questionada, quando da elaboração deste texto, a Sabesp respondeu que o projeto para a bacia do rio Itapanhaú prevê uma nova captação de água para transferir até 2.500 litros por segundo do rio Itapanhaú para o Sistema Alto Tietê, “visando aumentar a segurança hídrica na região”.

A estatal informou ainda que o valor total da obra é de R$ 91,7 milhões e que, conforme exposto na licença ambiental, ainda não há autorização para as obras, que serão iniciadas após a emissão de licenças específicas. “O prazo de execução previsto é de 12 meses, após a emissão dessas licenças". A Sabesp esclarece ainda que cumpre as determinações previstas na legislação e as obrigações constantes das licenças ambientais.

RIO ITAGUARÉ

Imagem acervo site

A foz do rio Itaguaré é responsável por um dos mais belos cenários da cidade. Ele deságua diretamente no Oceano Atlântico, mas, para isso, corre por 2,9km em forma de semicírculo pela faixa de areia da praia homônima; tal capricho da natureza criou uma lagoa com uma imagem de cartão-postal.

Sua drenagem é de 85,3km² e sua extensão é de 12,5km até o sopé da Serra do Mar. Toda a área faz parte do Parque Estadual Restinga Bertioga (Perb) e é considerado um dos últimos redutos de vegetação de restinga do estado de São Paulo, com imensa importância ambiental e científica.  

O rio Itaguaré é formado pelo rio Perequê-Mirim – que nasce na encosta da Serra do Mar – e recebe afluentes dos rios Vermelho (microbacia do Guaratuba), dos Alhos e Cachoeirinha Grande. A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) possui um ponto de monitoramento no rio Itaguaré (na ponte da rodovia Rio/Santos) o qual registra as boas qualidades de suas águas, sem evidência de pressão antrópica.

RIO GUARATUBA

Imagem acervo site

A área de drenagem da bacia do rio Guaratuba é de 128,7km². Nasce na fronteira entre os municípios de Salesópolis e Biritiba Mirim, na Serra do Mar, tem em sua foz um cenário diferenciado dos demais rios de Bertioga, pois deságua na praia e forma uma linda lagoa contornada por uma prainha fluvial. Ele é ladeado, de um lado, pelo morro do Itaguá, com vegetação preservada pertencente ao Parque Estadual Restinga Bertioga (Perb), e do outro, pela praia de Guaratuba, de areias brancas e ondas médias.

Suas águas são de coloração escura, devido ao acúmulo de matéria orgânica e de minerais. O rio não é monitorado pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), mas, de acordo com a Fundação Florestal, vinculada à Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, suas águas são limpas. 

A praia de Guaratuba é muito frequentada nos fins de semana e no verão e tem no rio um grande atrativo. É difícil resistir a um banho em suas águas, mas é preciso prudência devido às correntezas e à passagem de embarcações no local. Existem boias delimitando as áreas de banho e de navegação.

Captação de água

O Relatório de Situação dos Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica da Baixada Santista, da CBH-BS, indica que a vazão do Guaratuba é de 1.393,32 litros por segundo e, desde a década de 1950, de acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) o rio contribui com a vazão de 0,5 metro cúbico de água por segundo para o Sistema Produtor Alto Tietê (Spat).

Para esta publicação, a Sabesp informou que tem autorização para captar e transferir até 1000 litros por segundo de água do Rio Guaratuba para o Sistema Produtor rio Claro. É que desde novembro de 2014, tem outorga, com validade de 10 anos, para captação de 500 litros por segundo; em agosto de 2015, obteve nova outorga permitindo a captação de mais 500 litros por segundo, também com validade de 10 anos. Todas emitidas por meio de portaria do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). No entanto, afirma que desde maio de 2019, devido aos altos índices de reservação mantidos no Sistema Rio Claro e pelo Sistema Alto Tietê, essa transferência de água não tem entrado em operação.

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