Emancipação salva rios de Bertioga

Dragagem de areia irregular provocou degradações irreversíveis e só findou com a fiscalização e regramentos do município

Eleni Nogueira
Publicado em 18/05/2020, às 11h23 - Atualizado em 27/08/2020, às 10h04

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Consultor ambiental Bolivar Barbanti participou da demarcação do primeiro governo municipal de Bertioga - Raphael Campos
Consultor ambiental Bolivar Barbanti participou da demarcação do primeiro governo municipal de Bertioga - Raphael Campos

Os rios de Bertioga não estariam com o padrão de preservação encontrado hoje não fosse a emancipação do município, há 29 anos. A afirmação é do consultor ambiental Bolivar Barbanti Júnior. Ele explica que a grande ameaça da época era a dragagem de areia irregular, muito praticada na região entre as décadas de 1970 e 1990.

Os portos de areia atuaram nos rios Guaratuba, Itatinga, Jaguareguava e Itapanhaú. De acordo com Barbanti, muita areia foi enviada para Santos, por batelões, inclusive para a construção do porto. Mas, foi na época do desenvolvimento inicial de Bertioga, com a implantação dos bairros, que a atividade cresceu ainda mais.   

O rio mais agredido com esta prática foi o Itapanhaú, que chegou a ter sete empresas atuando na retirada de areia em trechos até a Vista Linda. Outro a sofrer com a exploração foi o Itatinga, que, inclusive, segundo Barbanti, teve a sua paisagem alterada.  “Na desembocadura do Itatinga, o dano ambiental foi irreversível, ela abriu. O rio vinha e desaguava direto no Itapanhaú, hoje tem uma grande bacia ali, de onde saiu uma quantidade grande de areia, acima do suporte de reposição”.

Imagem acervo site

No Jaguareguava, antes da curva acentuada, havia um grande montante de areia natural, que foi aprofundado em decorrência da atividade acima do suporte de reposição. Bolivar explica: “Pode-se retirar areia de um rio, porque naturalmente ele está sempre repondo. Mas, para isso, tem de haver estudo, uma metodologia que diz quantos metros cúbicos podem ser retirados da calha do rio. É um potencial a ser extraído, mas precisa do plano de suporte”.

A calha do rio é a parte central, não se pode praticar a atividade nas margens, pois provoca a queda da mesma.  “É uma degradação que leva ao alargamento do rio, meche com a fauna. O desbarrancamento afeta a procriação dos organismos, principalmente dos peixes; começa a turvar a água com a draga e isso é um impacto”.

Mas, à época, as empresas visavam o lucro e não estavam preocupadas com questões ambientais. Com a emancipação, ocorrida em 19 de maio de 1991, foi iniciado o trabalho de mudança deste cenário. Bolivar, que participou do primeiro governo municipal, explica que foram realizadas excursões para levantamento do potencial e da situação dos rios e bacias do município, quando foram constatadas as irregularidades e iniciado o processo que resultou no fim das atividades.  

Ele lembra que a administração municipal contou com apoio do Ministério Público. “Iniciamos com a fiscalização interna e a trabalhar em cima de regramento, obrigando todos eles a fazerem licenciamentos e a ter padrões. Conseguimos o apoio do MP, que criou uma força tarefa para tratar deste assunto; aí foi a força do estado e do município para legalizar essa parte do porto de areia”. Ainda de acordo com Bolivar, os portos de areia foram fechados porque não conseguiram cumprir o que determinava a legislação.  

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