Aprendizado e descobertas a bordo da Arca do Saber

Se há uma coisa que criança adora é sair em grupo para excursões fora da sala de aula, e a embarcação cumpre muito bem o papel de levá-los para uma verdadeira viagem de conhecimento aliada à diversão

Eleni Nogueira
Publicado em 18/05/2020, às 14h04 - Atualizado em 27/08/2020, às 09h32

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RAPHAEL CAMPOS
RAPHAEL CAMPOS

A garça-moura, maior ave existente na região, passeia tranquila às margens do canal de Bertioga. Mais à frente, outra surpresa: a linda plumagem rosa do colhereiro destaca-se na paisagem monocromática do manguezal. As crianças se agitam, os professores pedem silêncio e a embarcação se aproxima lentamente;  o momento é para contemplação.  Este é mais um dia de aprendizado na Arca do Saber, projeto da Coordenadoria de Educação Ambiental de Bertioga, para aulas ao ar livre com os alunos do 5º ano das escolas municipais de Bertioga.

Imagem acervo site

A aula é dinâmica. Três estagiários dividem-se nas orientações, e as crianças são convidadas a   interagir com a participação em encenações que ensinam ao mesmo tempo que divertem. Assim, na ação interdisciplinar, de cerca de duas horas, aprende-se história, arte, biologia e, até, matemática.   Conhecimentos preciosos para a vida inteira.

A aula de história começa logo após a partida da embarcação, com a apresentação do Forte São João, construído em 1565, para proteger a entrada do canal de Bertioga, e importante marco no início da civilização do país, atualmente concorrente a patrimônio mundial da humanidade, pela Unesco.  Do outro lado do canal, em Guarujá, são mostradas as ruínas do Forte São Felipe, da Armação das Baleias e da ermida de Santo Antônio de Guaibê,  com detalhes sobre  suas construções, importância histórica e curiosidades.

Neste ponto, uma dinâmica movimenta a embarcação;  três crianças são chamadas para representar o Milagre das Luzes, do jesuíta José Anchieta, que chegou na região em 1563 para catequizar os índios . A história relata que o jesuíta José de Anchieta costumava ficar alojado no Forte São João, e certa noite, foi levado de barco até a Ermida, para fazer suas orações. Como estava noite, o barqueiro sugeriu que o padre ficasse com o candeeiro, mas ele respondeu que não precisava, e que o barqueiro voltasse para o Forte. Mais tarde, a mulher do barqueiro acordou com uma música e, ao abrir a janela da fortaleza, viu a Ermida toda iluminada.

Imagem acervo site

Entre o Oceano Atlântico e a Mata Atlântica, surge o manguezal, e a embarcação segue pelo canal em direção ao rio Itapanhaú. Aí,  as crianças aprendem que,  “no manguezal tem água, tem lama, tem vida e tem trama”, o tema de estudo criado pela bióloga  Mylene Lyra, que, desde 2013, atua no projeto. Sempre com pequenas encenações,  aprende-se a dinâmica das marés, o ir e vir das águas e a mistura da água doce com a água salgada, que ocorre ao longo do dia e da noite para manutenção deste fantástico e intrigante ecossistema de extrema importância ambiental e econômica.

As crianças ficam surpresas ao descobrir  os segredos de três árvores especiais: mangue-branco, mangue-preto e mangue-vermelho, cada qual com suas peculiaridades e que, juntas, formam o ecossistema de manguezal, que alimenta e abriga uma grande quantidade de animais marinhos, terrestres e, também de aves, formando uma importante cadeia alimentar. Ao final, contribuem ao lançar mudas das espécies na água em um momento de grande alegria.

Imagem acervo site

Participaram do passeio, 19 crianças do 5º ano da E.M. José Ermírio de Moraes. A estudante Julia Pitel Costa Farias, 10 anos, participou de muitas atividades e ficou muito feliz: “Adorei. Aprendi muitas coisas sobre a vida aquática, e que a gente tem que cuidar do meio ambiente”. Outro aluno, Lucas Santana Miranda, disse que já tem o que ensinar:  “Vou falar para as pessoas cuidarem do meio ambiente e preservar a vida aquática. Hoje aprendi muitas coisas sobre a Mata Atlântica, o oceano e a vida aquática”.

A professora Maria Edineide disse que o principal do projeto é a mensagem passada para as crianças de que elas podem ensinar outras pessoas a cuidar da natureza. “Isso é muito importante e eu vi isso aqui hoje”.

A educadora ambiental Mylene Lyra acompanha tudo de perto e, em seus olhos, é possível ver a emoção de compartilhar o conhecimento: “É gratificante ver a transformação dos participantes após as ações direcionadas no barco-escola, que mostra a importância de se conhecer para preservar essas riquezas naturais que nos cercam e despertam, nos participantes e em nós mesmos,  esse sentimento de amor e respeito pelo ambiente natural e também pelo construído,  que é a nossa cidade”.

O projeto Barco Escola também atende universidades e escolas da Baixada Santista e Região Metropolitana de São Paulo. O agendamento é feito diretamente com a equipe de Educação Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente da prefeitura de Bertioga, por meio do endereço eletrônico [email protected] e pelo telefone (13) 3317 4599.

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