POLÊMICA E CRIME AMBIENTAL

Iate Clube oferece prêmio por caça a tubarão em Ubatuba (SP); ONGs repudiam atitude

Em e-mail enviado a membros, Tamoios Iate Clube ofereceu valor mínimo de R$ 20 por centímetro do animal capturado. ONGs emitiram nota de repúdio e afirmaram que clube desconhece legislação e ecologia marinha

Da redação
Publicado em 26/11/2021, às 11h12 - Atualizado às 13h31

FacebookTwitterWhatsApp
Tamoios daria recompensa a quem capturar 'organismo' responsável por ferimentos em banhistas Iate Clube oferece prêmio por caça a tubarão em Ubatuba (SP); ONGs repudiam atitude E-mail enviado pelo Tamoios Iate Clube, em Ubatuba, no litoral norte - Reprodução/O Globo
Tamoios daria recompensa a quem capturar 'organismo' responsável por ferimentos em banhistas Iate Clube oferece prêmio por caça a tubarão em Ubatuba (SP); ONGs repudiam atitude E-mail enviado pelo Tamoios Iate Clube, em Ubatuba, no litoral norte - Reprodução/O Globo

O Tamoios Iate Clube, localizado em Ubatuba, no litoral paulista, foi denunciado nesta quinta-feira (25) pela ONG Ampara Silvestre após oferecer recompensa a quem caçar e capturar tubarões na cidade. Com dois incidentes envolvendo tubarões no último mês, os primeiros do tipo em 30 anos, um e-mail teria sido enviado a membros do clube com a promessa de recompensa financeira em caso de captura.

O texto que circula nas redes sociais aponta um prêmio no valor mínimo de R$ 20 por centímetro do comprimento do animal capturado. A condição para o recebimento da quantia é de que o cação tenha porte suficiente que indique a possibilidade de ter sido ele o responsável por causar os ferimentos nos banhistas. Ainda como condição, o Iate Clube estabelece um prazo de 60 dias nos quais não podem surgir outros incidentes.

Faça parte do nosso grupo no WhatsApp http://bit.ly/CostaNortealerta2

E receba matérias exclusivas. Fique bem informado! 📲

A reportagem do Portal Costa Norte entrou em contato com o Tamoios Iate Clube, mas, até o fechamento desta matéria, não obteve retorno.

Tamoios daria recompensa a quem capturar 'organismo' responsável por ferimentos em banhistas Iate Clube oferece prêmio por caça a tubarão em Ubatuba (SP); ONGs repudiam atitude E-mail enviado pelo Tamoios Iate Clube, em Ubatuba, no litoral norte (Reprodução/O Globo)

Já o Coletivo de Entidades Ambientalistas de Ubatuba (CEAU), as sociedades científicas e as organizações civis sobre o tema, que totalizam 25 entidades, repudiaram 'veementemente' a proposta do Iate Clube.

"Ressaltamos que os recentes acidentes envolvendo tubarões e humanos no município de Ubatuba foram casos raros e isolados, não sendo, até o presente momento, comuns ou frequentes na região. Os possíveis efeitos causados à vida marinha em função de um ato como este, podem ser extremamente sérios e irreversíveis quando iniciativas equivocadas e que estimulam a ilegalidade, como a caçada incentivada pelo Tamoios Iate Clube, são colocadas em prática", destaca, em nota enviada à imprensa. 

O documento alerta que a biodiversidade marinha e o grupo dos elasmobrânquios, que inclui os tubarões, já se encontra sob forte impacto negativo por consequência das ações poluidoras e degradadoras de origem humana no ambiente costeiro e marinho. Além disso, os tubarões são essenciais para o equilíbrio do ecossistema marinho, sendo que diversas espécies de tubarões já se encontram vulneráveis, ameaçadas ou em risco de extinção.

A nota ressalta, ainda, que atitudes como essa podem ampliar e causar imenso desequilíbrio ecológico desencadeando diversos problemas, inclusive aos seres humanos. "A proposta desta ação pode ser equiparada como se, por exemplo, fosse promovida uma caça às cobras, quando humanos são picados acidentalmente por estes animais. Haveria também um imenso desequilíbrio ecológico, além de ser algo completamente descabido por se tratar de acidentes isolados", compara. 

A Portaria MMA nº 445/2014, instituída pela Portaria MMA nº 201/2017, proíbe a pesca de 410 espécies aquáticas ameaçadas em todo o território brasileiro, segundo a qual parte das espécies de tubarões estão protegidas por lei. A caça a determinadas espécies de tubarões é considerada crime ambiental, passível de prisão e multa.

"Clube desconhece a legislação e a ecologia marinha"

Entre as 25 entidades que assinam a nota de repúdio está o Instituto Argonauta, presidido pelo oceanógrafo Hugo Gallo Neto. Para ele, o histórico do Tamoios Iate Clube e um possível desconhecimento legislativo podem ter causado a polêmica em torno dos tubarões.

"O Iate Clube tem um passado ligado à caça submarina, nos anos 60 e 70, quando havia um certo glamour nesse tipo de ação. E talvez agora, de forma infeliz, pensaram que tal recompensa protegeria o turismo, já que a população estaria com medo de vir a Ubatuba. E isso é algo que não faz sentido algum. O contato com água-viva, por exemplo, chega a ser oito vezes mais letal. A chance de um novo incidente envolvendo tubarão em Ubatuba é ínfimo", contextualiza Neto, em entrevista ao Portal Costa Norte.

O oceanógrafo espera, ainda, que a gestão do Iate Clube repense sua atitude, uma vez que a preservação do meio ambiente é algo cada vez mais necessário. "Acredito que o clube tomou essa atitude por desconhecer a legislação e a ecologia marinha, pois os tubarões são um grupo extremamente ameaçado e protegido por lei. Espero que o Tamoios já tenha repensado essa atitude, até porque a pesquisa e a preservação são ações necessárias nos dias de hoje", concluiu.

Leia também: conheça as variadas espécies de tubarão, inclusive as que visitaram o litoral paulista recentemente

***Você bem informado em 5 minutos! Clique aqui e assine GRÁTIS a Newsletter do Costa Norte https://bit.ly/newslettercostanorte& leia sua dose diária de informação direto no e-mail

Comentários

Receba o melhor do nosso conteúdo em seu e-mail

Cadastre-se, é grátis!