Vítima estava jogando em quadra quando escutou as injúrias raciais, que partiram da torcida da Atlética de Fisioterapia da Unisanta
Amanda Oliver
Publicado em 18/05/2022, às 11h04 - Atualizado às 14h22
Um estudante da Atlética Java, que representa o curso de medicina veterinária da Universidade São Judas, sofreu graves ataques racistas durante os jogos universitários promovidos pela Universidade Santa Cecília. O crime de injúria racial aconteceu nesta sexta-feira (13), em Santos.
Leia os destaques jornalísticos do dia ➥ https://bit.ly/CNgooglenoticias
A vítima, que é presidente da Atlética Java, estava em quadra, jogando na modalidade masculina de futebol Society, vestindo a camisa número 04. A partida era contra a Atlética de Fisioterapia da Unisanta.
“Fui cobrar um lateral, viraram para mim, cerca de 5 ou 6 pessoas e começaram a gritar perto do alambrado: 'O número 4 é negrinho’. Quando me virei para identificar quem estava me chamando de negrinho, não consegui ver, pois a pessoa parou. E aí, eu respondi que era preto, preto mesmo, que não era negro e voltei a jogar”, comentou a vítima.
Quando houve um segundo lance lateral, o jogador cobrou novamente, momento em que gritaram: “O número 4 é um negrinho macaco, em torno de seis pessoas falaram isso”. O presidente da Java, já revoltado com a situação, relatou as injúrias para os dois juízes, mas somente um deles prestou algum tipo de apoio.
“Eu relatei o caso para o juiz, a próxima vez que eu ouvir, me chamando de macaco, eu vou parar o jogo. Um dos juízes falou que eu deveria fazer isso mesmo o outro simplesmente ignorou o fato de eu ter levado um ato racista pra ele”.
Após o término do jogo, a vítima conversou com um outro jogador adversário, que também é preto: “Eu virei e falei parabéns pela vitória e falei pra ele alertar a atlética dele sobre o racismo. Ele ficou desacreditado. Eu fiquei chateado e não quis parar a partida, para não falarem que era um ato militante, eu queria ganhar na bola, não queria ganhar no berro”.
Em nota, a vítima, que também é presidente da atlética, publicou uma nota de repúdio nas redes sociais.
“Soltei uma nota de repudio como presidente de Atlética, fiz uma nota de repúdio também em relação à Unisanta, que não se manifestou. Tentei entrar em contato com os organizadores dos jogos, mesmo marcando eles nos comentários, ninguém se posicionou”.
A Atlética adversária elaborou uma nota de esclarecimento, alegando que as injúrias partiram de pessoas que não participam do curso, mas que estavam torcendo por eles.
Nota de repúdio do Associação Atlética Acadêmica Alir De Biaggi Filho, de veterinária:
Nós, do Centro Atlético Alir Biaggi Filho, não compactuamos com quaisquer tipo de discriminação em relação a cor, raça, sexo e religião.
Ontem, durante as quartas de final do Society Masculino, nosso atleta e presidente, @ocazaalberto, por parte de algumas pessoas que se dizem torcedores da @atleticafisiounisanta, sofreu um ato de racismo. Ao cobrar o lateral pela primeira vez ouviu dizerem: “o camisa 4 é negrinho.” Ao responder a torcida dizendo que realmente era negro ouviu mais uma fala: “O camisa 4 é negrinho é macaco.”
Não aceitaremos esse tipo de atitude de nenhuma torcida qualquer que ela seja. Viemos aos Jogos do Santa com o intuito de disputar as partidas de forma honesta e justa!
Entendemos também que não é de toda a culpa da @atleticafisiounisanta, porém exigimos o mínimo de respeito e posicionamento visto que no próprio time havia jogadores pretos!
Nota de esclarecimento da Associação Atlética Acadêmica Sônia Gusman, de fisioterapia:
A Associação Atlética Acadêmica Sônia Gusman vem a público repudiar a prática de discriminação racial ocorrida nas dependências da Universidade Santa Cecília, onde palavras de cunho racista foram ditas à um atleta da Medicina Veterinária São Judas, durante uma partida de futebol Society, ocorrida na sexta feira, no dia 13/05/2022.
Soubemos do ocorrido somente após jogo e nossa primeira atitude foi a de procurar os envolvidos para entender o que havia acontecido, e também para que pudéssemos tomar providências.
A A.A.A.S.G reforça que o ato praticado partiu de uma pessoa de fora do curso de Fisioterapia, que ali estava, infelizmente, torcendo por nós. Sabemos de nossa responsabilidade e crime como este não pode ficar impune. Sendo assim, a Diretoria já está tomando as devidas providências.
É totalmente incompatível com os valores éticos da A.A.A.S.G e absolutamente inaceitável, racismo ou qualquer tipo de preconceito e discriminação.
Por fim, mais uma vez, nós da A.A.A.S.G, reiteramos nosso apoio e solidariedade a todos que foram ofendidos. Sem mais, Atlética Fisioterapia Unisanta.
Nota oficial do Comitê Organizador dos Jogos da Unisanta
Sobre o alegado ato de racismo que teria ocorrido nos Jogos da Unisanta na última sexta-feira (13), o Comitê informa que seus representantes presentes no jogo e a arbitragem da partida não presenciaram os fatos aventados.
Nos termos do regulamento da competição, que está em sua 37ª edição, comunicação formal deveria ter sido feita pela Entidade Estudantil ao Comitê Organizador, para a tomada de providências junto ao Tribunal de Justiça Desportiva dos Jogos. Entretanto, referidas alegações, levadas exclusivamente a redes sociais (ainda que tenha ocorrido orientação à Entidade Estudantil para trazê-las formalmente), não foram apresentadas ao Comitê.
O Comitê Organizador não compactua e jamais será conivente com quaisquer condutas violadoras de direitos, tampouco se em decorrência de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação, consciente de que este tipo de proceder fere frontalmente os objetivos de união, respeito e congraçamento da competição universitária.
Fique bem informado, faça parte do nosso grupo no WhatsApp ➥ https://bit.ly/matériasexclusivasemtemporeal 📲
Após dois anos de paralisação devido à pandemia, os Jogos da Unisanta voltaram a ser realizados em 2022 e têm proporcionado atividades sociais e esportivas com muito sucesso, numa grande adesão e participação exemplar dos estudantes universitários e do público em geral.
Comentários
