DENÚNCIA

Mãe acusa PS no litoral de SP de negligência após filha atropelada esperar 5h por raio-x craniano

"Me senti negligenciada", alega mãe de adolescente atropelada que foi levada para pronto socorro de Bertioga com suspeita de traumatismo craniano e só conseguiu exame radiográfico cinco horas depois, em hospital privado, em Santos

Thiago S. Paulo
Publicado em 21/05/2022, às 09h03 - Atualizado às 09h49

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Pronto Socorro do Hospital Municipal de Bertioga Hospital Municipal de Bertioga Fachada do Hospital Municipal de Bertioga - Divulgação
Pronto Socorro do Hospital Municipal de Bertioga Hospital Municipal de Bertioga Fachada do Hospital Municipal de Bertioga - Divulgação

Thailana Andrade, uma estudante de arquitetura de 34 anos, acusou o Hospital Municipal de Bertioga, no litoral de SP, de negligência, após Gabrielly Andrade Pereira, sua filha de 14 anos, dar entrada atropelada no pronto socorro da unidade, na manhã desta quinta (19), esperar durante cinco horas por uma radiografia craniana e sair do hospital sem o exame, obtido em um hospital particular de Santos.

“Eu só tenho ela de filha. É a minha vida. Me senti negligênciada”, disse Thailana em entrevista ao Portal Costa Norte nesta sexta (20). “Eu não tenho o que falar do médico, da equipe de enfermagem, foram muito atenciosos. Mas o hospital é uma decadência, o básico era um raio-x pra saber o que aconteceu com a menina. É negligência”.

Pronto Socorro do Hospital Municipal de Bertioga Hospital Municipal de Bertioga Fachada do Hospital Municipal de Bertioga (Divulgação)

Questionada, a prefeitura de Bertioga enviou uma nota do INTS (Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde) que gere o hospital. O INTS disse que o problema foi provocado por falta de energia. Não é, porém, o que afirma Thailana.   

Ela relata que, na manhã de quinta, aguardava o início do desfile cívico em comemoração ao aniversário da cidade, na avenida que leva o nome da data - 19 de maio - quando sua filha foi atropelada por uma motocicleta ao atravessar a faixa de pedestres.

“Ia começar o desfile. Estavam montado o palanque. Eu esperei ela atravessar a rua. Aí, um caminhão parou. Ela passou na faixa, na frente do caminhão e olhou. A moto veio do lado. Eu acho que ele [motociclista] não viu ela. Ele arremessou a minha filha a cinco metros de distância. Eu vi tudo”, relembra Thailana, com a voz embargada.

O motociclista, que no choque da moto contra o corpo de Gabrielly também caiu, alegou que não teve culpa e foi prestar esclarecimentos na delegacia, diz Thailana. Enquanto isso, ela foi socorrer a filha.

“Na queda, ela bateu a cabeça. Aí ela ficou inconsciente. Meu Deus do céu. Quase que eu morri ali, vendo minha filha inconsciente”, narra, aos prantos, a mãe da jovem. “Ela convulsionou. Aí, como era o desfile, estava Samu, estava todo mundo lá. O socorro chegou rápido e a gente foi pro pronto socorro”.

Thailana afirma que deu entrada com a filha às 10h na unidade de pronto atendimento do Hospital de Bertioga. Como Gabrielly foi arremessada e bateu a cabeça, a suspeita clínica era de que a menina tivesse sofrido um traumatismo craniano, dúvida que uma radiografia poderia responder.

não tinha um raio-x, pra ver se tinha um sangramento, pra ver se tinha um traumatismo craniano”, diz Thailana. Ela relata que esperou durante cinco horas pelo exame e, neste ínterim, equipes do hospital de Bertioga deram duas versões para a falta do equipamento.

“Disseram que não dava pra fazer [a radiografia] porque não tinha raio-x. Que estava quebrado. Depois falaram que não estava quebrado, mas que a fiação do hospital não estava funcionando”.

Sem exames, Thailana diz que, por volta das 15h, levou Gabrielly por conta própria para a Casa da Saúde, um hospital privado em Santos, onde a adolescente passou por uma tomografia e exames radiográficos.

Embora a jovem tenha quebrado o pé - diagnóstico que também poderia ter sido obtido por meio da radiografia - a suspeita de traumatismo craniano foi descartada. Gabrielly recebeu alta no mesmo dia e se recupera em sua casa, no Centro de Bertioga.

Sua mãe, todavia, diz que pretende judicializar o caso. “Foi muito traumatizante pra mim. Graças a Deus que nós temos um convênio. Se eu não tivesse um convênio, minha filha estava até agora no hospital. Sem ser atendida. Me senti negligenciada. Eu vou fazer um boletim de ocorrência contra hospital, que não tinha equipamento para atender os pacientes. Vou fazer o que eu puder, porque eu quero justiça. Isso não pode acontecer”.

“O aparelho de raio-x da unidade se encontra em funcionamento”, disse o INTS, que gere o hospital. O órgão afirma que, por falta de energia elétrica, o aparelho ficou indisponível temporariamente.   

“Os casos que exigissem o exame de raio-x, seriam transferidos por meio da Central de Regulação da Secretaria de Estado da Saúde”, justificou-se o INTS, “mas não houve outros casos com essa demanda.”

Thailane nega que, durante as cinco horas durante as quais permaneceu no pronto atendimento do hospital, tenha havido menção à transferência da filha por iniciativa do hospital.   

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