EDUCAÇÃO

Escola no litoral de SP proíbe roupas curtas e chinelo; pais e alunos se indignam

Escola estadual em Bertioga proíbe alunos de usarem chinelo, short e calça legging. Direção da escola disse que seguiu todos os trâmites internos e se justificou

Thiago S. Paulo
Publicado em 08/02/2022, às 14h53 - Atualizado às 16h43

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Print da proibição enviada aos alunos, divulgado por estudante Pais e alunos se rebelam após escola no litoral de SP proibir chinelo e roupas curtas Print de mensagem com proibição de roupas curtas e chinelos em escola - Imagem: Reprodução
Print da proibição enviada aos alunos, divulgado por estudante Pais e alunos se rebelam após escola no litoral de SP proibir chinelo e roupas curtas Print de mensagem com proibição de roupas curtas e chinelos em escola - Imagem: Reprodução

Uma escola em Bertioga, no litoral de São Paulo, vem provocando mal estar entre pais e estudantes após divulgar uma série de proibições aos alunos de frequentar o ambiente escolar calçando chinelo ou vestindo shorts e outros trajes.

Na véspera do primeiro dia de aula, que ocorreu nesta segunda (7), uma aluna da EE Prof. Armando Bellegard - que atende cerca de 1500 alunos do 6º ano do fundamental ao 3º ano do médio - divulgou em seu perfil pessoal nas redes sociais um print com as proibições. “É proibido o uso de camisa de time, calça rasgada, chinelo e bermuda estampada, short e calça leg [legging]”, diz a ordem da escola.

Print da proibição enviada aos alunos, divulgado por estudante Pais e alunos se rebelam após escola no litoral de SP proibir chinelo e roupas curtas Print de mensagem com proibição de roupas curtas e chinelos em escola (Imagem: Reprodução)

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“Tenho condições de pôr um tênis, mas conheço alunos que não têm, e por isso optam por chinelos, e as meninas muitas vezes [usam] calça leg por ser bem mais barata. Não pode isso, não pode aquilo, mas pode a orientadora gritando e coagindo alunos, ameaçando de expulsar se não fizer as coisas do jeito que ela quer, e até mesmo querendo proibir o aluno de entrar na escola por estar com uma calça rasgada que não mostra nada além do joelho”, reclamou a aluna.

Outros pais de alunos confirmaram a proibição. Patrícia do Nascimento Oliveira, uma cabeleireira de 38 anos, mãe de um aluno da escola, disse que a proibição é antiga. “Sempre recebemos essa orientação. Não pode chinelo, não pode ir de bermuda. Se for de bermuda tem que ser abaixo do joelho. Não é de agora não.”, explicou a mulher nesta terça (8).

Assim como a aluna, Patrícia acha que a escola não está levando em consideração alunos em vulnerabilidade social que não têm condições de adquirir tênis ou calças. “Eu acho errado. Já que a escola não disponibiliza a calça nem a camiseta que eles exigem. A gente não sabe das condições dos pais das outras crianças e adolescentes. Têm pais que ficaram desempregados por causa da pandemia, não têm condições de comprar um tênis pro filho”, opina a mãe.

Uma mãe que preferiu não se identificar afirma que sua filha chegou a ser constrangida por não estar trajada com as roupas exigidas pela escola, na gestão anterior à atual. “Minha filha estava com uma calça desfiada no joelho, a linda diretora chamou a atenção dela na frente de todo mundo. Minha filha me ligou chorando. Uma verdadeira palhaçada. Aí, mudou a diretora, achamos que ia melhorar, mas veio a nova lista de roupas”, lamentou a mulher.

Tânia Grizzi de Moraes, coordenadora da sede da Baixada Santista da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), diz que a escola não pode constranger alunos por seus trajes, tampouco proibi-los de entrar no prédio ou assistir às aulas.

“A escola não pode proibir o aluno de entrar porque ele está de chinelo, ou porque ele está de bermuda. A entrada do aluno não pode ser proibida. Isso é ponto fechado para nós da Apeoesp”, afirma a líder sindical.

No entanto, ela afirma que a escola tem autonomia administrativa para decidir sobre os trajes dos alunos, desde que respeitados o “bom senso”, os trâmites escolares e os alunos em vulnerabilidade.  

“Essa [proibição] é uma prática que acontece nas escolas estaduais. A exigência do uso da camiseta do uniforme e uma calça comprida. Agora, essa questão da proibição do chinelo, se a direção da escola proíbe, isso tem que ser discutido em reunião com professores ou no conselho de escola, envolvendo os pais e os alunos. Tem que avaliar como a escola vai atender os alunos que não têm condições de adquirir um sapato ou um tênis”, analisa a dirigente.

Apesar do uso enfático do termo proibição, a direção da escola afirma que mesmo quando utilizam os trajes proibidos, alunos não são impedidos de entrar na escola ou assistir às aulas.

“Nunca mandamos um aluno embora porque ele está de chinelo. É uma orientação, mesmo porque, por lei, a gente não pode mandar um aluno embora. A gente fala pra ele que ele tem que vir adequadamente pra escola”, explica a vice diretora da escola, Senduly de Oliveira, de 37 anos.

Segundo ela, a proibição ao uso de chinelos é uma medida de segurança. “Temos escadas, os alunos pisam na calcanhar dos colegas e podem acontecer acidentes”, argumenta.

A vice diretora argumenta que a proibição de uso de shorts ou trajes acima do joelho sobretudo às meninas “é uma questão de conduta”.

“Por que se não, as meninas vêm todas com shorts muito curtos, blusinhas muito decotadas. Então é mais pra ter um discernimento da vestimenta adequada pra determinados ambientes. Se liberamos pra uma, daqui a pouco a outra também está vindo com shortinho, daqui a pouco o shortinho tá diminuindo cada vez mais, então a gente acaba tendo que padronizar“.

A dirigente da Apeosp concorda. “Só a gente estando dentro de uma escola, sentindo isso, é que você vê os dois lados da situação. Ao mesmo tempo que você pode achar que é uma questão moralista, também há alunas que vão com o shorts muito curtos, que você vê quase que a curva da nádega. As escolas enfrentam isso, aí tem que chamar a aluna, conversar, porque se você deixa, a coisa generaliza. Então a escola proíbe pra evitar esse tipo de situação”, explica.

Apesar de concordar com a proibição ao uso de shorts curto, a dirigente questiona como isso foi comunicado aos pais e alunos. “A coisa foi discutida no conselho de escola? Houve concordância dos pais, houve concordância dos professores? Foi discutido em reunião de pais? Se não houve nada disso, é pura imposição. E a imposição vai contra o princípio da escola de ser um ambiente com autonomia, mas também com democracia. A coisa tem que ser discutida com todos os segmentos da escola.”

A direção da escola nega que tenha imposto as decisões e garante que seguiu os trâmites. “Informamos isso, inclusive na reunião, provavelmente esses pais não vieram à reunião. E [as proibições] estão no nosso regimento escolar”, afirma a vice-diretora.

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