Santos é mais que perfeita para passeios de inverno

Se as temperaturas não estiverem propícias para um típico banho de mar, a dica é investir numa imersão de cultura, com direito a muita história, sabores e, claro, diversão em terra firme

Luciana Sotelo
Publicado em 15/07/2019, às 11h59 - Atualizado em 23/12/2020, às 09h16

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Francisco Arrais
Francisco Arrais

Imagem acervo site

Largo Marquês de Monte Alegre, número dois, em Santos. Esse é o ponto de partida para um verdadeiro “mergulho no asfalto”. Por ser uma das cidades mais antigas do Brasil e possuir um centro histórico pra lá de charmoso, Santos tem o passado impregnado em suas construções de época; nelas é possível identificar períodos importantes da trajetória do nosso país.

Então, reserve um dia inteirinho para conhecer a fundo essas maravilhas. Comece pela manhã, sem pressa... Permita-se aceitar o convite para essa viagem no tempo, que começa na belíssima e pioneira Estação do Valongo, a primeira do estado de São Paulo. Ao passar os olhos pela fachada do prédio, inaugurado em 1867, e caracterizado por linhas neoclássicas marcantes da arquitetura vitoriana do século XIX,  vai parecer que você está num cenário de filme, ambientado nos tempos áureos do café, da ferrovia Santos-Jundiaí, por onde se escoaram o grão e outras riquezas que movimentaram os negócios e tornaram possível o desenvolvimento de São Paulo e do Brasil.

Aproveite para registrar em fotos os mais variados ângulos do empreendimento projetado na Inglaterra. Com construção inspirada na Victoria Station, de Londres, a obra traz muitas simbologias, a exemplo da torre com um relógio, marco da pontualidade britânica, e também o mundo capitalista e sua frase típica: “The time is Money”. Há ainda quatro leões que simbolizam o poder do império britânico de então.

Outra curiosidade: trata-se da única construção, na região, preparada para escoamento de neve, mesmo nunca tendo sido utilizada essa função, por motivos óbvios de estar num país tropical.

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Depois de contemplar a relíquia arquitetônica, que hoje abriga a Secretaria de Turismo (Setur), a opção é embarcar num veículo pitoresco para continuar no clima de glamour. Ali mesmo em frente à Estação do Valongo, você sobe a bordo de um dos bondinhos de Santos, todos  originais do século passado, alguns com mais de cem anos, inclusive. Originários da Escócia, Portugal, Itália e Estados Unidos, os bondinhos são a marca registrada da cidade, sucesso nacional. Irresistíveis.

Com saídas de hora em hora, eles percorrem 5km, quase todo o centro histórico; são mais de 30 atrações ao longo do percurso, com duração de 40 minutos. O melhor: o passeio é monitorado por guias de turismo, ou seja, é praticamente uma sala de aula ao ar livre.

Olha o bonde aí, gente...

Vale destacar que existem vários tipos de bonde na programação, porém, não é permitido escolher. Entre os seis modelos, destaque para o Bonde Aberto, ou Bonde 32, e para o Bonde Fechado, o Bonde 40, ambos de 1911. O primeiro é o mais antigo elétrico em circulação no país. Ele tem capacidade para 45 passageiros e foi o pioneiro da linha turística de Santos, em 2000. Já o segundo tem mecânica escocesa e é conhecido como “Bonde Camarão”, devido a sua carroceria fechada e cor original vermelha. Este começou a circular na linha turística em 2002 e tem capacidade para 28 passageiros.

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Torça para sentar na janelinha, assim, você consegue uma visão privilegiada dos atrativos do passeio, que começa pelo caís do porto santista, o maior e mais importante da América Latina. Na sequência, os monumentos se revezam na paisagem, entre eles: Palacete Mauá (a mais antiga casa residencial preservada); Panteão dos Andradas (que abriga os restos mortais de José Bonifácio, o patriarca da Independência do Brasil); Conjunto do Carmo (um dos mais antigos relicários do barroco brasileiro); Monumento a Braz Cubas (fundador da Vila de Santos); Palácio José Bonifácio (sede da prefeitura); Igreja Nossa Senhora do Rosário (originária de uma capela construída por escravos no século XVIII); Monte Serrat (que abriga o santuário da padroeira da cidade); Fonte de Itororó (que abastecia os moradores e navios nos séculos XVI e XVII); Outeiro de Santa Catarina (um marco da fundação da cidade); rua do Comércio (maior praça cafeeira do mundo no século XX); Bolsa do Café (palacete que traduz a riqueza do café); Casa da Frontaria Azulejada (fachada com sete azulejos portugueses pintados à mão); Santuário de Santo Antônio do Valongo (construído em 1640); Museu do Pelé (instalado nos antigos Casarões do Valongo, a maior edificação paulista do século XIX).

Se ficou um gostinho de quero mais, vale a pena uma visitinha completa, a pé, por essa rota que traz à tona um acervo rico e marcante da história do Brasil.

Pausa para o almoço

Antes de completar o roteiro, é hora de fazer uma merecida pausa para o almoço. Ali mesmo, a pouquíssimos metros do desembarque, é possível degustar uma comida de qualidade, no térreo da Estação do Valongo, no restaurante-escola Estação Bistrô, um projeto de qualificação no ramo de alimentos e bebidas, iniciado em 2012, para jovens em estado de vulnerabilidade social. Por meio de uma parceria entre a prefeitura e a Universidade Católica de Santos, funciona de terça-feira a sábado, das 12h às 15 horas.

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O chef Júnior Monteiro revela que o cardápio tem grandes atrativos já consagrados como a meca santista (prato símbolo da cidade); salmão ao queijo brie com risoto de damasco; mignon café, entre outros. Mas, para  o inverno, a pedida é a costelinha barbecue e o frango crocante (que acompanha risoto três queijos e molho barbecue de banana da terra). Não há como resistir!

Para repor por completo as energias e seguir a programação turística, nada melhor que fechar com chave de ouro a refeição com uma deliciosa bomba de chocolate com café. A casa tem um ótimo atendimento, cardápio abrangente que inclui pratos kids e abriga no salão 84 pessoas. Vale a pena ajudar o projeto e apreciar um prato sofisticado por preço acessível.

Um templo para o rei

O que há de mais moderno no programa também retrata o passado. O  Museu Pelé traz em um acervo rico com a trajetória do jogador Edson Arantes do Nascimento, o Rei do Futebol. Na entrada, o visitante é recebido por um guia de turismo, que explica como deve ser o percurso pelo museu, com mais de quatro mil metros quadrados.

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Ainda no térreo, o visitante confere uma espécie de linha do tempo, com trechos da infância pobre do jogador, na cidade de Três Corações, passando pela sua iniciação no mundo da bola, a chegada ao Santos Futebol Clube, estreia na Seleção Canarinho e muitas outras conquistas dignas de um gênio.  

Tudo isso é apenas um leve aperitivo pelo que vem pela frente. Na sequência, é preciso acessar o terceiro pavimento e vir descendo os andares, conforme indicação da guia, para acompanhar a exposição temporária Copas e 1 Rei, que retrata as glórias e memórias das copas das quais Pelé participou: da Suécia, em 1958; do Chile, em 1962; da Inglaterra, em 1966;  e a saudosa Copa do México, em 1970, quando o Brasil, com a ajuda de Pelé, conquistou a taça Jules Rimet.

Para quem gosta de futebol, é emocionante ver-se diante de tantas glórias. Entre títulos, camisas, bolas, chuteiras, vídeos e recordações, o visitante termina o tour com a sensação de alma lavada por conhecer em detalhes a vida de um esportista que é orgulho nacional.

E viva a história, viva a memória preservada, viva a curiosidade, viva a cidade de Santos, que nos revela muitos tesouros num único pedacinho de terra chamado centro histórico.

Festa Inverno

Maior festa beneficente da cidade e um dos principais pontos de encontro das férias de julho, a Festa Inverno desse ano ocorre de 28 de junho a 28 de julho, no estacionamento da Arena Santos. O evento oferece música ao vivo com bandas da região, espaço para exposição e venda de artesanato, barracas de jogos típicos e parque de diversões para as crianças.

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É possível saborear pratos de sete restaurantes, 15 lanchonetes, e quiosques de doces caseiros mantidos por entidades parceiras do Fundo Social de Solidariedade (FSS). A renda adquirida com a venda dos lanches e refeições será revertida para as ações das instituições, que atendem milhares de pessoas em toda cidade.

 *Avenida Rangel Pestana, 184, Vila Mathias. Entrada franca.

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